Capítulo III

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 Diogo estava isolado em um corredor próximo do refeitório. Seu corpo permanecia agachado, as costas tocando a parede enquanto os braços se encontravam sobre os joelhos dobrados.

Respirou fundo, antes de abaixar a cabeça. Uma pequena e quase imperceptível lágrima saiu de seu olho esquerdo.

— Diogo — uma voz calma e entediante ecoou, ao longe. Logo, Nunes elevou sua face e viu, distante e com os braços cruzados, a figura de Loch. —, tá bem?

Não respondeu. Ao invés disso, voltou-se à posição anterior, suspirando uma vez mais.

Victor, ansiando por uma conversa, aproximou-se do rapaz, pondo-se ao seu lado e, com apoio da parede, lentamente se agachou até o seu nível.

Permaneceu observando-o por cerca de três minutos. Após tanto silêncio, Diogo finalmente reergueu-se, acariciando o bigode em desaprovação.

— O que você quer, caralho? — Fitava o intruso, enraivecido.

— Eu só... queria conversar — Finalmente, descruzou os braços.

— Sobre o quê? Cara, será que você não percebe que é um chato? Para de ficar sempre grudado em mim, porra! Eu não tô bem.

Com essas derradeiras palavras, Diogo se levantou e saiu. Seu amigo ficou.

. . .

Os tênis de Felipe deslizavam sobre o chão escorregadio em insegurança. Sentia-se camuflado no ambiente, tanto por sua incapacidade de se expressar quanto pelo próprio ambiente em si — os corredores e pisos eram todos brancos. Não era tão difícil confundir o jovem Andrade com o cenário, uma vez que suas roupas, da mesma cor das paredes, quase não criavam um contraste.

Pausa. Enquanto andava, sentindo um calafrio iminente e paranoico quanto ao que havia à sua frente e à sua retaguarda, uma única luz se avultou, à distância. No entanto, não era uma iluminação literal, mas uma iluminação térmica. Isso é, um calor preciosíssimo e insubstituível que podia ser sentido dali, e que se tornara o único objetivo do garoto: Loch.

Teria sido difícil caracterizar a figura, se não fosse pela visão influenciada de paixão de Felipe. Aquele formato, para ele, era mais claro do que a chama da mais atiçada fogueira — o indistinguível cabelo tufado e encaracolado que dominava sua cabeça, o corpo pequeno e magro, as pernas finas e compridas, as roupas totalmente pretas, em oposição com as suas, criando uma dialética do yin-yang, do masculino e do feminino... Era óbvio. Estavam destinados um ao outro. Tinham de estar. Que seria de Andrade se não estivessem?

Com as pernas bambas e os pés trêmulos, o garoto calmamente caminhou até sua musa, revelando um pouco mais de sua posição a cada passo. Loch estava encolhido de modo fetal, agachado na parede com os braços cobrindo as pernas. De seus olhos, sutilmente aparentes, pequenas lágrimas saíam.

— Victor? — Felipe indagou, com os olhos brilhantes de surpresa. O outro levantou brevemente a cabeça, confirmando as suspeitas de que estava chorando. Seu rosto estava inteiramente avermelhado e, de seus olhos, pequenas gotas cor-de-cristal se intimavam a aparecer. — Tá tudo bem?

— Eu não sei... — murmurou, ainda com a voz falha.

Andrade, com toda a coragem que lhe restava, sentou-se ao lado de sua paixão. Tentou parecer tranquilo e tímido, apesar de seus tremeliques frequentes contestarem essa imagem.

— Ainda não sabe? — gaguejou.

— Não. É complicado.

— Tudo bem. Não tem problema. Eu entendo isso, deve ser muito ruim sentir essa incerteza, essa confusão... Eu sinto isso também, eu acho — Victor curvou a cabeça, incrédulo. — Não, sério, eu sinto! Eu te entendo, Victor, eu juro!

— Não sei... — Sua fala permanecia desanimada, apesar da empolgação de Felipe. — Eu só acho que... se eu não fosse tão fraco, tão covarde, tão vazio... Talvez as coisas estivessem melhor.

— Você não é covarde. Você, na verdade, é muito mais forte e corajoso do que a maioria daqui. Incluindo eu... — Olhou para baixo, quieto.

— Felipe... Eu vou procurar o Diogo, tá? Quero saber onde ele se meteu.

Com essas derradeiras palavras, Victor se levantou e saiu. Seu amigo ficou.

— O... quê...? — balbuciou ao vazio. Tão rápido fora sua conversa quanto a saída de Loch.

O jovem se encolheu numa única forma quebradiça e frágil de corpo. Se sentiu despedaçado por dentro, seu coração estilhaçado em centenas de frangalhos conforme suas esperanças, novamente, haviam sido derrubadas em um simples acontecimento.

Seus pensamentos se tornaram um grande redemoinho. Não sabia porquê, mas havia tentado, uma vez mais, sobrepor suas sensações ruins com essa paixão ridícula. E, novamente, todos esses esforços resultaram em nada mais do que pura humilhação.

Felipe engoliu um punhado de saliva. Continuava trêmulo, apesar de não ter lacrimejado mais do que algumas poucas gotas. E, conforme sentia aquele gosto amargo de morte deglutindo-se pela garganta, se levantou com um suspiro. Sabia exatamente o que fazer.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora