Capítulo VII

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 Verônica chorava impetuosamente na cabine do banheiro feminino. O cheiro fétido de decomposição dos corpos ao lado estava insuportável — o mais distante, o de Luiza, exalava um odor mais mórbido. No entanto, o de Marilúcia também impregnava-se em suas narinas como parasitas, por estar mais próximo.

Sua cabeça se recolheu, conforme ela acolheu seu próprio corpo como se estivesse dentro de uma concha. Tentava distrair-se constantemente durante aquela maldita noite, pensar em Serena, pensar em sua fuga, pensar em como ela se sentia melhor agora. Mas não conseguia. Não conseguiria enquanto o elefante na sala permanecesse ali. Sua mera presença era como uma neblina negra, que deturpava todos os seus pensamentos e sentimentos mais profundos, transformando-os em quimeras de pesadelos. E não importava o quanto ela pedisse ajuda, todos zombariam dela, menosprezariam sua dor, culpabilizariam-na. Como fizeram suas amigas mais próximas, aquelas em que mais confiava. E seus pais.

Contudo, naquele momento, naquela vez de chorar, algo mudou. Pois, por mais que houvesse essa força tão grande obstruindo seu raciocínio a todo momento, algo dentro dela lutava contra essa força. Algo que não se limitava a outra pessoa, como Serena, ou uma situação, como o escape. Não. Era algo interno. Era algo fluido, forte, conhecido há muito tempo, mas enterrado sob as pedras que se cravaram na sua consciência com o passar dos anos. Eram instintos da ordem mais profana, desejos desesperados pela sobrevivência e sobreposição, os sentimentos mais crus de ódio e violência que, ao mesmo tempo que eram terrivelmente animalescos, tornavam-na humana.

Com determinação, Verônica gradualmente começou a notar esses pensamentos, ressonando dentro de si como ecos distantes de lembranças já esmaecidas. E, desesperada, procurando a todo momento escapar desse limbo de angústias, agarrou-se a eles. Talvez não fosse o mais racional ou inteligente a se fazer, talvez não fosse a opção mais saudável, mas não importava. Era, literalmente, uma questão de vida ou morte. Precisava mostrar a Rodrigo do que ela era capaz.

Um rangido. Como que respondendo à sua fúria visceral, o destino permitiu que o homem abrisse a porta, confiante. Ela, no entanto, estava mais confiante do que ele. Pela primeira vez na vida, permaneceu firme, equilibrada tanto por dentro quanto por fora, ao enxergar aquele professor. E, infestado em seus olhos, um nervosismo ardente desabrochava de forma subliminar.

— Ora — O homem tomou um breve susto, ao vê-la tão preparada. Em um instante, engoliu um pouco de saliva e retomou sua posição, rija e arrogante. — Verônica? Eu nem poderia dizer que essa é você. Que impressionante sua ousadia, ficar assim na minha frente.

Não respondeu nada. Convencido, ele entrou na cabine, permanecendo a dois desconfortáveis passos de distância dela.

— Ah, Verônica Paes... Uma jovem tão bonita e pequena... Quando eu conheci você, ainda no oitavo ano, meus olhos foram pegos pela sua aparência. Seus cabelos, suas curvas, seus seios, seus quadris... — Aproximou-se ainda mais dela, movendo a mão para apalpar seus cachos. — Por que tão petulante? Tão insensata? Das últimas vezes, você foi mais obediente. O que mudou?

Sem resposta.

— Foi aquela vagabunda da Serena? Não se preocupa, eu vou matar ela depois. E aí seremos só nós dois...

Não encosta na Serena, seu porco nojento — balbuciou, finalmente.

— Olha, como é rebelde... Eu não me importo. Isso só me excita mais.

Com as mãos trêmulas, encostou fortemente no corpo da garota. A reação imediata delq foi concentrar toda a sua força para espancá-lo, da forma mais bestial que pôde. Quis que ele sentisse tudo que ela sentiu com Diogo. Ou mais. E, enquanto preparava seus punhos, sentia todas as experiências mais imundas deixando sua alma em um solilóquo trágico. Era a sua libertação pessoal.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora