Verônica procurava por alguma saída nos corredores do primeiro andar. Até agora, todas as possíveis oportunidades de fuga resultaram em frustração, algumas portas específicas estando trancadas e as janelas estando todas barradas. Parecia que alguém, propositalmente, havia trancado e bloqueado todas as janelas, portas e dutos possíveis com itens muito pesados — tão pesados que nem seu namorado, apontado como um dos mais fortes da escola, pôde empurrar. Certas salas, ainda, atiçaram muito a curiosidade deles — cômodos inacessíveis que não podiam ser arrombados de forma alguma, mesmo aparentemente não permitindo a fuga de ninguém.
Começou a se cansar, mesmo tendo andado por pouco tempo. Já completavam-se horas desde que não comia nada. Estava precisando recarregar suas energias de alguma forma, antes que colapsasse de vez. No entanto, andou um pouco mais. Não queria sentar, apesar do cansaço.
Enquanto dobrava em um corredor aleatório, cruzou com Felipe. Não sabia muito dele, além de que era um garoto solitário da mesma turma que ela. Era assustador o fato de que a maioria das pessoas que acordaram com ela eram rostos familiares, muitos da mesma turma, mas pareciam tão desconhecidos quanto estranhos.
Permaneceram se olhando, os dois — ele, confuso, e ela, amedrontada. Enfim, o silêncio foi interrompido por um zunido que seria cômico, se não dada a situação: a barriga de Verônica roncou.
— Ah! — colocou as mãos sobre a barriga, substituindo o súbito pavor por um constrangimento que ruborizou sua face inteira. — Sinto muito, sinto muito!
— Não tem problema — respondeu, de forma dócil, aproximando-se da garota. — Não tem problema!
Pausa silenciosa. Enfim, Felipe engoliu um punhado de saliva e prosseguiu:
— Você precisa de alguma coisa? Tá com frio?
— Não — Olhou para baixo, cobrindo seu corpo com os braços finos.
Logo, sua cabeça desviou para o lado, despretensiosamente. Uma porta entreaberta revelava um cômodo já explorado. Porém, o que lhe captava a atenção não era o quarto em si, mas um detalhe: um monitor acoplado ao lado da classe. Haviam diversos desses por toda a escola, mas naquele em específico, por estar desligado, Verônica pôde enxergar a si mesma, refletida pelas poucas frestas de luz que saíam da janela. Era como um espelho.
Aproximou-se. Felipe não a entendia, mas aproximou-se igualmente. Ela não gostava de si mesma. Não gostava de seu corpo, muito menos de sua mente. Se sentia constantemente impura e imperfeita. Se sentia suja.
Estava com fome. De seus olhos, resquícios de lágrimas saíram, conforme ela se observava fixamente naquela tela. E, em um instante, a imagem foi substituída. Não havia sequer energia elétrica na escola, mas de alguma forma, aquilo acendeu.
Felipe lançou uma expressão chocada. Reconhecia a mulher que aparecia na televisão — era a ex-psicóloga do colégio, Anna.
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A Psicologia do Assassinato
Mistero / ThrillerNo ano de 2027, uma psicóloga macabra aprisiona dez pessoas dentro de uma escola, dando-os apenas uma ordem: matar uns aos outros sem dó nem piedade. Numa conjectura de medo e mentiras, cada um dos personagens se envolve em dilemas morais e facetas...