Adhemar limpava o chão de forma rítmica e repetitiva. Era um homem negro, de porte grande e careca. Permanecia triste enquanto esfregava sua alma e seu pano naquele balde d'água, reluzindo sua face mórbida e decrépita enquanto estruturava a ilusão de limpeza. Mas não é como se a vida de Adhemar fosse importante. Nunca foi. Ele pode ter filhos, esposa, uma família, mas nunca iremos saber. Adhemar aprendeu, durante todos os seus indefinidos anos de vida, que não servia para estar nos holofotes de qualquer coisa que fosse. Mesmo em um pandemônio, ele permaneceria como uma mera planta.
Pulemos Adhemar, por favor. Ele não importa, nunca importou e nunca vai importar. E mesmo que lute por toda a sua vida para importar, mesmo que mude de emprego múltiplas vezes, mesmo que tente entrar em uma faculdade, isso não muda o fato de que ele é uma mera formiga nesse cenário de aberrações. Ninguém se importa com Adhemar — nem mesmo ele. Vai morrer como gado, a irrelevância marcada com ferro em si pela vida inteira, como tatuagem. Foda-se Adhemar. Não é como se alguém já tivesse o amado antes. E, se amou, também é tão irrelevante quanto ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Psicologia do Assassinato
Mistério / SuspenseNo ano de 2027, uma psicóloga macabra aprisiona dez pessoas dentro de uma escola, dando-os apenas uma ordem: matar uns aos outros sem dó nem piedade. Numa conjectura de medo e mentiras, cada um dos personagens se envolve em dilemas morais e facetas...