Sai do banheiro, enrolada na toalha. Não resisti em lavar o cabelo, mesmo estando de noite, o coitado estava muito maltratado, sem brilho algum. Tinha que dar um jeito nele, um cabelo maltratado não ajuda muito em manter uma boa aparência. Vesti minhas roupas íntimas, parando de frente ao espelho logo em seguida, para desembaraçar minhas madeixas molhadas. Estava prestes a fazer isso quando os meus olhos desceram para o reflexo da minha barriga. A pequena elevação aumentava a cada dia mais, me perguntei por quanto tempo ainda conseguiria esconder isso das pessoas do meu trabalho. Não estava pronta para mais julgamentos, na verdade, não sabia se em algum dia estaria. As pessoas podem ser bem maldosas quando querem.
Coloquei a mão na pequena elevação, sentindo uma onda quente percorrer todo o meu corpo. Eu ainda estava no processo de aceitar a minha gravidez, mas em momentos como este, quando ela não parecia ser algo tão ruim, eu podia sentir algum tipo de amor surgir em meu coração. Fui até a gaveta da minha cômoda, pegando o aparelho que Nicolas havia me dado. Coloquei os fones de ouvido, e procurei o bebê com o sonar fetal. Nunca pensei que usaria algo desse tipo, não no meu corpo.
Os batimentos cardíacos soaram como a melodia mais bonita da melhor canção. Foi inevitável não sentir os meus olhos lacrimejarem. Naquele momento, gerar uma vida me pareceu ser estranhamente mágico. Por um segundo, não me senti mais sozinha. Meus lábios se esticaram involuntariamente em um pequeno sorriso, e uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Culpei meus hormônios por isso.
Tirei os fones do ouvido quando notei um barulho vindo de algum lugar do quarto. O meu celular vibrava em cima da cama, notificando alguma mensagem. Fui até à cama, sentando-me, pegando o celular.
" Oi, Eloise, espero que esteja tudo bem. Me dê notícias assim que puder", dizia a mensagem de Nicolas.
Ri de seu modo super formal de escrever. Machado nunca usava abreviações, gírias, ou algo do tipo, por mensagens.
" Oi, Nicolas, está tudo bem; não se preocupe!", respondi.
Ele visualizou na mesma hora. O nome "digitando" apareceu na barra, e ficou assim por minutos. Pensei que ele estivesse escrevendo um documento, um comunicado, ou até mesmo uma notícia terrível. Mas o que ele enviou minutos depois me pegou totalmente de surpresa. Não era uma mensagem enorme, pelo contrário, era curta. Acho que ele deve ter apagado por diversas vezes antes de decidir enviar.
"Sei que parece estranho, mas estou com saudade de vocês", digitou ele.
Demorei um pouco para assimilar o que ele queria dizer com a palavra "vocês". Nem em milénios eu poderia imaginar que em algum dia ele sentiria a minha falta. Ele devia estar blefando, não era possível.
"Haha, essa foi boa! Pare de beber!", digitei de volta.
"Não estou bebendo! Pare de presumir tudo!"
Sorri, e me odiei por estar sorrindo.
"O que está fazendo?", perguntou ele.
"Sentada na cama, falando com você. Achei que a segunda parte fosse óbvia..."
"Como você é gentil..."
Eu ri, e imaginei que ele também devia estar rindo.
"Claro que sou!"
"Vai fazer alguma coisa no sábado?"
"Por quê?"
"Tenho um plano para o nosso noivado falso..."
"Já me arrependi de ter aceitado participar disso."
Ele simplesmente me ignorou, como costuma fazer.
"Vamos tornar isso em algo público, antes que a sua barriga apareça."
"Tá", não me dei ao trabalho de demonstrar alguma reação.
"Como foi no trabalho?", mudou de assunto.
"Você realmente quer saber?"
"Se estou perguntando..."
Revirei os olhos.
"Bom, se quer saber, comecei a criar a minha nova coleção!"
"Que maravilha!"
"Obrigada."
"Eu sabia que conseguiria!"
Não soube como responder, aquela gentileza de Nicolas era realmente estranha. Ainda não estava completamente acostumada com a nossa relação de "não ódio". E, por essa razão, mudei de assunto.
"Vai dormir aqui esta semana?"
"Também sente a minha falta?"
Pude o imaginar falando aquilo cinicamente, apenas para me provocar.
"Apenas responda a minha pergunta!"
"Vou tentar, a empresa está consumindo todo o meu tempo; estou trabalhando feito louco!"
"Bom, boa sorte. Agora vou desembaraçar o meu cabelo antes que ele seque. Boa noite!"
"Acabou de sair do banho?"
"Boa noite, Nicolas!"
"Boa noite, chatinha."
Arfei, mas não totalmente irritada pelo adjetivo. Não entendi a razão da minha raiva ter sido tão curta.
Desliguei o celular, o colocando na cama novamente. Peguei minha escova de cabelo e comecei a me pentear. A conversa com Nicolas rodou pela minha cabeça, principalmente a parte em que ele disse estar com saudade. Me senti como uma adolescente boba por algo tão bobo ter mexido comigo. Tentei não pensar em seus planos para sábado, aquilo provavelmente me deixaria ansiosa, e eu não queria passar mais uma noite em claro.
Vesti minha camisola assim que meu cabelo ficou desembaraçado. Peguei meu caderno de desenho, voltando para a cama, analisando o croqui de um vestido que eu fizera. E pela primeira vez em semanas, eu estava orgulhosa de mim mesma, aquele modelo estava muito bom! Ele era comprido e possuía um decote na barriga, valorizando o corpo de uma mulher grávida. Eu teria que arrumar modelos grávidas, caso a minha coleção fosse aceita.
Será que eles aprovariam a minha escolha de tema?
A ansiedade me abateu. Não era comum um desfile de uma coleção para grávidas. Era algo inovador, e eu torcia para que eles enxergassem isso dessa maneira. Afinal, uma mulher precisa ser valorizada em todas as fases da vida, e não podia ser diferente com a gravidez. Espero que eles vejam isso dessa forma. Espero que tudo dê certo, e que eu não perca o meu emprego.
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Me odeie, mas me ame.
RomanceEloise descobriu que algumas taças de vinho podem alterar o curso de uma vida. E, bem... foi exatamente isso que aconteceu. Tudo começou a dar errado no momento em que ela e seu pior inimigo foram escolhidos como padrinhos do casamento de sua irmã. ...