Capítulo Quarenta e sete - Um novo começo

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Eloise Menezes 

Entrar em um lugar onde  você dedicou anos da sua vida pode parecer ser algo tranquilizador. Mas, depois de algumas mudanças no meu universo, entrar na Augustine's não me trouxe a sensação de estar em casa. Pelo contrário, senti-me deslocada, como se tivesse me despedindo de tudo. Despedindo-me do meu antigo eu. Sempre ouvi meu pai dizer que a vida era repleta por fins e inícios de ciclos, nunca entendi o que ele tentava me dizer, não até aquele momento. O momento em que todos me olharam como se eu fosse a coisa mais chocante do mundo. Como se tivesse algo banal atrás de mim, imitando os meus passos. Aquele bando de fofoqueiros não estava acostumado com o mistério, e a simples novidade que surgisse ou fosse descoberta, seria demais para eles.

Aqueles olhares não estavam ajudando ao meu bem-estar, de forma alguma.

Caminhei o mais rápido que pude até entrar na minha sala.

Suspirei forte ao me sentar na cadeira.

Havia uma coisa boa em sair da Augustine's daqui a alguns meses, eu me livraria desse ambiente tóxico e de todos os seus fofoqueiros. 

O mundo está repleto de fofoqueiros, talvez nunca me livrasse deles...

Ouvi batidas na porta e concedi a entrada da pessoa, já sabendo quem era.

Letícia arregalou os olhos ao me ver, completamente impressionada. Me senti como uma celebridade que estava encontrando a sua maior fã pela primeira vez. A minha amiga conseguia ter reações exageradas quando queria.

— Diga de uma vez! — Falei para que ela parasse de me olhar daquela forma e dissesse logo o que a deixara daquele jeito.

— Você é a sensação dessa empresa, tem noção disso?

— As pessoas não devem ter mais nada de empolgante em suas vidas para comentarem por aí, por isso acabei virando o assunto, nada demais. É comum até.

— Nada demais? — Riu anasalado. — Você assumiu uma gravidez, ganhou um desfile patrocinado pela própria Augustine — levantou os dedos como se estivesse enumerando os fatos —, e ainda está prestes a criar a sua própria empresa. Eloise, isso é incrível! Seria impossível que as pessoas não comentassem.

— Eles sabem até dos meus planos futuros? — O impacto era evidente na minha voz.

— É como dizem, minha querida, as paredes têm ouvido!

— Isso é horrível...

— Pare de fingir que não está animada, Lise! Como pode parecer tão desanimada quando todas as coisas da sua vida estão dando certo?

Desviei o olhar para a parede, encarando a tintura branca e me conectando com o nada.

Mudanças por si só são assustadoras, principalmente quando as coisas parecem estar dando certo demais. Seria irracional se eu não temesse pelo o que estar por vir. Havia de ter alguma coisa ruim a caminho, não é? A vida é imperfeita demais para tantos momentos de perfeição. Como uma onda tão grande de coisas boas poderia me causar tanto medo?

— Tem alguma coisa aí... — Falou consigo mesma. — Não quer me contar o que está acontecendo? Sabe que pode contar comigo. Eu nunca contaria os seus segredos.

Voltei a mirar o seu rosto, soltando um ar forte pelo nariz. Um ar que eu havia prendido e nem sequer me lembrava.

— Não é nada demais, a minha mente só está cheia; não precisa se preocupar comigo.

— Eloise Menezes e o seu papinho de não preocupação, é tão típico... — Cruzou os braços, revirando os olhos. — Amiga, as pessoas se importam com você, e quanto mais você diz para elas não se preocuparem, mais elas se preocupam. Não pode guardar todos os seus conflitos para si mesma, ainda mais estando grávida!

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora