Capítulo Vinte e cinco. - Medo.

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Domingo, o dia da semana em que minha mãe faz questão de que almocemos juntos. Já recusei o convite por diversas vezes, mas dessa vez, dona Fátima me colocou contra a parede. Ela disse que eu não teria outra opção a não ser participar do almoço em família. Estou com medo. Morrendo de medo. Se tem uma pessoa que descobre uma gravidez apenas com um olhar, esta pessoa é a minha mãe. Ainda não estou pronta para que eles saibam da verdade. Tenho medo das reações.

— Quando vai contar à eles? — perguntou Evelyn, enquanto fazia movimentos circulares em sua taça de vinho. Seu marido não pode a acompanhar, ao que tudo indica, os Machado se reuniram para resolver alguns assuntos pendentes do trabalho.

— Quando me sentir pronta.

— Não espere até o dia do parto! — Tentou soar brincalhona.

Parto.

Tinha me esquecido que além de gerar um ser por nove meses, as mulheres são submetidas as dores do parto. Todo parto dói, tanto o normal quanto a cesárea, a diferença é que um dói durante o processo, e o outro dói durante o período de cicatrização. Ok, agora fiquei preocupada. Sentirei dor de todo jeito.

— Fala baixo, Evelyn!

— Eles estão na cozinha, não vão escutar.

— Não vão escutar o quê? — Minha mãe saiu da cozinha com uma travessa de lasanha em mãos. O cheiro está surreal.

— Evelyn estava me contando os detalhes sobre a sua lua de mel. — falei, deixando minha irmã tão vermelha quanto um tomate.

— Oh, nos poupe dos detalhes! — Meu pai trazia os pratos e os talheres.

Eles terminaram de colocar a mesa, e nos chamaram para finalmente almoçar. O casamento de Evelyn ainda era o assunto do momento; nossa mãe contou que as suas amigas morreram de inveja das suas fotos na Torre Eiffel. Papai apenas comia em silêncio, mas às vezes soltava uma risada de algum comentário da esposa.

— A Carminha comentou em todas as minhas fotos, com certeza queria ter a minha sorte. — Dona Fátima falou com um certo deboche em seu tom de voz.

— Não seja esnobe, querida.

— Longe de mim, sou uma pessoa completamente humilde!

— E como anda o trabalho, Lise?

Um desastre.

Estou uma pilha de nervos.

— Ótimo, não poderia estar melhor.

— Fico feliz, filha.

— Veja só, Dom, criamos duas meninas lindas e inteligentes. Duas mulheres com um futuro brilhante pela frete!

O meu futuro não parece mais brilhar tanto assim.

— Não é para tanto, mãe.

— Claro que é, Evelyn! Você fala isso porque não sabe das histórias dos filhos das minhas amigas.

Me servi com mais um pedaço da lasanha. Meu apetite está enorme, mas por alguma razão, não estou me importando com os quilos que irei ganhar.

— Acho que alguém estava com saudades do tempero da mãe!

— A sua lasanha está maravilhosa, mãe, meus parabéns!

— Fico feliz que tenha gostado. Estou te achando mais fortinha.

Congelei.

— Não estou tendo tempo de ir à academia. — Falei a primeira desculpa que veio à minha mente.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora