Capítulo Dezessete. - Notícias surpreendentes.

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Todos já estavam na sala de reunião. Brenda estava com o seu famoso sorriso diabólico nos lábios, e de vez em quando trocava alguns olhares cúmplices com Soares. Tinha algo de errado ali, tenho certeza.

O meu queridíssimo chef, Leon, estava nos mostrando alguns slides sobre as melhoras que aquele desfile causou na empresa. Ele disse que planeja fazer algumas melhorias a mais na empresa, mudando drasticamente todo o nosso método de trabalho. Até aquela parte da reunião, eu estava de acordo com tudo o que estava sendo dito, mas então, ele disse algo que me deixou no chão:

— Pretendemos ter apenas uma design de moda, para as nossas coleções terem apenas uma identidade. Acho que por isso ainda não alavancamos a nossa empresa, por falta de coesão em nosso estilo.

— Como vocês vão decidir quem irá ficar? — Brenda não possuía apenas um sorriso diabólico, mas um olhar também, e esse olhar estava direcionado a mim.

— Queremos realizar um novo desfile daqui a sete meses, para manter o nosso nome na mídia. Vocês duas têm três meses para criar uma coleção completa, e a melhor fica com a vaga.

— E a outra será demitida?

— A outra poderá ser a ajudante da design chef, se quiser.

— E quem irá julgar as coleções? — Abri a boca pela primeira vez desde que entraram naquele assunto.

— O senhor Soares e eu, mas a opinião final será da minha mãe, a dona da empresa, a própria senhora Augustine.

A senhora Augustine veio do interior de Pernambuco, e ficou conhecida pelos seus esboços incríveis. Ela começou a trabalhar em pequenas confecções, mas logo abriu a sua empresa. Dona Augustine é visionária, e vive muito além do seu tempo. Mas ela teve que deixar a empresa nas mãos de seu único filho quando descobriu um câncer de mama. Ela largou tudo para poder se concentrar integralmente a sua saúde. A empresa nunca mais foi a mesma sem ela, fico feliz que logo esteja de volta.

— Trabalho aqui há três anos e nunca a conheci — comentou a jararaca.

Brenda entrou aqui um ano e meio depois de mim, justamente no ano em que dona Augustine se afastou para focar em seu tratamento. Tenho certas dúvidas se Brenda teria sido contratada se tivesse sido entrevistada por Augustine, a chefona sempre foi muito exigente. Ainda me lembro da minha entrevista como estagiária, nunca tinha ficado tão nervosa em toda a minha vida.

Saí daquela reunião completamente irada. Essa era a razão daquela cobra estar se achando no dia do desfile. Com certeza ela acha que a vaga já é dela, só porque tem Soares em suas mãos. Mas ela está muito enganada se acha que vou desistir tão fácil assim! Dediquei mais de quatro anos da minha vida nessa empresa, não vou deixar uma qualquer roubar tudo o que construí!

— Tente se acalmar, Eloise! — Letícia disse assim que entramos na minha sala.

— Como?! Trabalho aqui à anos e aquela vaca pode roubar tudo o que construí — falei alterada. — Ela não cansa de querer roubar tudo o que tenho!

O olhar de compaixão era visível no rosto de Letícia, mas não preciso que tenham pena de mim. Não sou uma coitadinha. Não sou.

— Você vai conseguir ganhar dela, acredite.

— Não sei se lembra, mas ela é a namorada de um dos caras que vão ser os jurados.

— Mas ainda te resta o senhor Leon.

— Que é um machista de merda! Tenho certeza de que se ela der em cima dele, ele cai no papinho dela.

— A opinião final é da dona Augustine.

— Ela é a minha única esperança.

Quem me garante que Brenda não vai roubar isso de mim também?

Quem me garante que não irei perder tudo aquilo que me esforcei tanto pra ter?

Comecei a ficar com falta de ar, com certeza a minha crise de ansiedade deve estar atacando. A minha tontura voltou e se juntou a crise. Comecei a me tremer em nervosismo, acho que nunca fiquei com os nervos tão alterados dessa forma. 

— Estou bastante tonta.

Minha visão começou a ficar turva e, de repente, tudo se apagou. Senti o baque do meu corpo colidindo no chão. Os gritos de Letícia estavam longe demais.

— Eloise! — Gritou da primeira vez. — Alguém me ajuda! — Berrou por diversas vezes.

Acordei em um quarto de hospital, numa cama fria e dura. O som dos "bipes" da máquina já estavam começando a me irritar, e olha que só fazem alguns segundos que despertei. O meu plano de saúde não é um dos mais caros. Nunca fiquei doente com facilidade, por isso optei por economizar na área da saúde.

Letícia está sentada em uma poltrona, mexendo no celular, e demorou a perceber que já estou ocupada. Chamei pelo seu nome, e ela olhou na mesma hora. Perguntei o que tinha acontecido comigo, ela disse que o médico tinha feito alguns exames enquanto eu dormia.

— Você me deu um susto e tanto!

— Quais exames ele fez em mim? — Perguntei, indo direto ao ponto. Ando um pouco alterada ultimamente, com constantes enjoos e tonturas. Estou curiosa para saber se estou com alguma doença.

— De sangue, ele precisava ver se você tinha enjerido algo que te fez mal. Mas não se preocupe, liguei para a sua irmã e ela autorizou o exame.

— Você fez o quê?

— Ela é o seu número para emergências, e é o protocolo da empresa ligar em uma situação dessas.

Esse dia pode se candidatar a um dos piores dias da minha vida. A essa hora já devem estar rolando os burburinhos na empresa. Brenda deve estar com o peito estufado de orgulho por ter atingido o seu objetivo; me tirar do sério.

Meus olhos se encheram de lágrimas com a possibilidade deles estarem rindo de mim agora. Mas que merda. Por que estou tão sensível?!

— A sua irmã já está vindo para cá, não se preocupe.

O médico entrou no quarto, com o meu prontuário em mãos. Ele o leu por alguns segundos, e disse:

— Está tudo bem com a senhora, foi apenas uma crise de ansiedade e a sua pressão baixou devido a gravidez. Já pode ir para casa!

— Devido ao quê?

— Devido a sua gravidez.

— Eu não posso estar grávida!

— Mas a senhora está!

Letícia me encarava com os olhos arregalados. O mundo pareceu parar e entrei em transe. Como posso estar grávida?

"Eu não trouxe camisinha", a voz de Nicolas ecoou na minha cabeça.

Eu não tinha tomado a maldita pílula, simplesmente não me lembrei de tomar. Como pude ser tão estúpida?!

— Lise, vim o mais rápido que pude! — Evelyn apareceu na porta daquele quarto, mas nem sequer olhei em seu rosto. Não tive coragem de olhar, estou em transe.

Como vou contar que estou grávida?

Estraguei toda a minha vida profissional.

Como pude ser tão burra?!

Senti o olhar da minha irmã queimar sobre mim, mas ainda não tenho coragem de olhá-la. Estou grávida, e pior ainda, estou grávida de Nicolas Machado. Comecei a chorar histericamente, Evelyn correu para me abraçar, mesmo sem saber a razão por trás do meu choro. Tudo está arruinado. Tudo o que planejei para a minha vida se foi pelo ralo. Em nenhum dos meus planos envolvia uma criança no meio. Em nenhum deles.

O que vou fazer? 

Acabei de foder com tudo.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora