Me odeie, mas me ame.

Capítulo Dezesseis. - Misturas diferentes.

A empresa inteira se encontra em êxtase desde o dia do desfile. Os resultados foram melhores do que o esperado, o nome da marca saiu em vários sites de moda, e conseguimos novos investidores, um verdadeiro sucesso!

Mas com isso, vieram novas reponsabilidades e estou ainda mais sobrecarregada. Ultimamente não tenho tempo nem para assistir a um filme. Não que eu esteja reclamando, longe de mim, mas ando meio preguiçosa, o que é estranho porque nunca fui assim. Acho que peguei alguma virose ou algo do tipo, estou sem vontade de comer, cansada, e às vezes sinto tonturas. Tenho que ir me consultar com algum médico, mas ainda preciso arrumar um tempo pra isso. 

— Senhorita Menezes? 

— Já disse que pode me chamar pelo nome, Letícia.

O desfile também serviu para começar uma amizade entre nós duas. Letícia entrou aqui no início do ano, e a correria para criar uma nova coleção tomou todo o meu tempo, por isso não me entrosei com ela antes, porque não tive tempo.

— Desculpe, é força do hábito!

Sorri em resposta.

— Está afim de ir almoçar? — Perguntei.

— Claro.

— Tinha alguma coisa para me dizer?

— Sim, o senhor Soares pediu para que olhasse o seu email, ele marcou uma reunião.

— Soares marcou uma reunião?! — Não consegui esconder a surpresa em minha voz, Sergio nunca foi de marcar uma reunião, ele sempre seguiu as ordens que eram dadas à ele, apenas isso.

— Na verdade foi o chefão quem marcou, mas Soares prefere dizer que foi ele quem o fez. — tentou conter o riso.

— Isso é definitivamente a cara dele!

— Sim.

— Onde costuma almoçar? Não conheço muitos lugares perto daqui, sempre peço comida por aplicativo.

— Sei disso, até estranhei quando me chamou para almoçar.

— Tenho que confessar,  realmente não sou de fazer isso, mas estou ficando enjoada dessa sala.

— Você o quê?

— Estou me sentindo presa aqui, preciso respirar novos ares!

— Eloise, você está bem? 

— Por que a pergunta?

— Nunca imaginei que fosse dizer uma coisa dessas.

— Ando meio estranha mesmo... Mas não deve ser nada além do que cansaço. Estou trabalhando demais.

— Tenho que concordar.

— Mas apesar de tudo, prefiro uma vida agitada do que ter uma vida sem graça.

— Sei como é.

Letícia me levou até um restaurante que ficava a cinco minutos dali. O lugar é conhecido por ter os melhores PF'S — pratos prontos — da cidade. Peguei o cardápio e fiquei em dúvida no que pedir, todas as opções pareciam ser deliciosas. Mas então, tive uma vontade avassaladora de testar algo diferente:

— Vou querer uma lasanha de frango — falei ao garçom. — Me responda uma coisa, vocês também vendem porções de feijão?

— Não com muita frequência, já que alguns pratos já vêm com este acompanhamento, mas acho que consigo arrumar para senhora.

— Ótimo, muito obrigada!

— Vou querer uma macarronada, por favor.

O rapaz saiu de lá assim que anotou os nossos pedidos.

— Lasanha com feijão, é sério isso? — Ela falhou miseravelmente ao tentar esconder uma careta.

— Ora, me parece ser delicioso.

— Tá bom...

Os pedidos chegaram antes do que o esperado. Geralmente demora uma eternidade para chegar quando peço por aplicativo, essa é uma das vantagens de vir até o restaurante. Peguei a porção de feijão e derramei por cima da lasanha, Letícia me olhava como se eu estivesse praticando algum crime. Levei a primeira garfada até a boca e... Céus, isso é muito bom!

— Quer? — a ofereci. — Isso é maravilhoso!

— Estou bem com o meu macarrão, obrigada.

Dei de ombros. De todo modo, só ofereci por educação, aquela mistura é boa demais para ser dividida.

— Não quero parecer indelicada, mas é verdade que saiu do desfile com o senhor Nicolas Machado?

— Sim, é verdade, por quê?

— É um dos comentários que está rolando pela empresa.

Trabalho em um círculo de fofoqueiros, não é possível!

— Nós somos velhos conhecidos, a minha irmã se casou com o irmão dele.

— Li isso em um site de fofoca dos empresários — disse sem graça.

O mundo está repleto de fofoqueiros, tenho certeza disso.

— Pois é, as notícias correm.

— Mas vocês já ficaram? Não que isso seja da minha conta, é claro.

— Eu e Nicolas?

Afirmou.

— Posso dizer que nós não nos damos muito bem, é tudo questão de convívio familiar.

Em parte, aquilo não era uma mentira. Eu não poderia sair espalhando por aí sobre o que Nicolas e eu fizemos em quatro paredes, ainda mais quando não sei se realmente posso confiar um segredo desses à Letícia. Se eu o contasse a alguém, com certeza seria para Evelyn, que nem sabe da existência de nosso primeiro beijo. Ninguém sabe das vezes em que Nicolas e eu ficamos. Ao menos eu nunca contei para ninguém.

— Mas o que andam falando sobre isso na empresa?

— Disseram que vocês pareciam íntimos.

— Mas que exagero...

Voltei a me maravilhar com a minha deliciosa mistura, enquanto Letícia me contava as últimas fofocas da empresa. Como vivo enfurnada dentro da sala, acabo não sabendo de nada, mas nem sei se gostaria de saber, ainda mais quando a fofoca for sobre mim. Não gosto nem de me lembrar da vez em que fui o centro das atenções daquela empresa. Foi terrível.