Capítulo Cinquenta e quatro - Nos seus braços outra vez

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     O trabalho fez com que o tempo passasse rápido e, quando eu menos esperava, as pessoas da Augustine's já estavam no clima natalino. O dia antes da véspera de Natal sempre foi o momento em que meus colegas se confraternizavam, depois disso, eles mergulhavam no feriado.
 
Acho que nunca estive tão ansiosa para o dia vinte e três de dezembro. Só faltei rodopiar ao levantar da cama. Estava contando os dias, horas e até mesmo segundos para que aquela data chegasse. A emoção era a mesma, se não maior, de acordar no dia vinte e cinco e ver os presentes sob a árvore de Natal. A chegada de Nicolas seria o meu presente natalino daquele ano. O presente que eu havia implorado ao Papai Noel. Ele estaria de volta em algumas horas, nada me deixaria mais feliz do que ter a certeza de que o veria ao final do dia. Machado estava ferrado, eu não o largaria nem tão cedo.

Quase pulei de alegria quando olhei no relógio e vi que já estava no fim do meu expediente. Não que eu ainda tivesse que segui-lo; a minha única obrigação era com o desfile que estava organizando. Mas trabalhar fazia com que as horas voassem, por isso decidi continuar com a minha rotina de sempre.

Peguei minha bolsa e a chave do carro e sai em disparada, completamente ansiosa. Queria ver a reação dele ao ver o que eu tinha preparado. Mais que tudo, queria vê-lo.

— Já está de saída, senhorita Menezes? Não vai participar da nossa confraternização? — falou Brenda  com o seu típico tom de deboche. Fazia tempo que ela não me incomodava. Eu não devia ter comemorado tão cedo; era óbvio que ela voltaria a ser a megera de sempre. — Eu devia ter presumido que você começaria a se achar melhor do que todos nós. Tome cuidado, um status não dura para sempre.

Soltei o ar pela boca.

— Não sei a razão da minha ausência te incomodar; nunca fomos próximas. E, ao invés de estar enchendo a minha paciência, devia ir trabalhar ou fazer algo que  preste. Eu não tenho mais um chefe para ter que prestar satisfações, já você... Cuide do seu precioso emprego, Silvestre.

— Estou ansiando para o dia da sua saída.

—  Posso dizer o mesmo.

Seu rosto se entortou, formando a sua clássica feição de entojo. Brenda me deu as costas e saiu de lá marchando, cuspindo todo o seu ódio como se estivesse cuspindo fogo. Aquela devia ser uma mulher muito infeliz. Deve ser triste ter como maior animação torturar a vida de alguém. Agora, tudo o que eu sinto por ela é pena. Ela e Soares se merecem. Tenho certeza que foram feitos na mesma forma do destino. Tenho contado os dias para me ver livre desses dois.

Balancei a cabeça de um lado para outro, tentando fazer com que aqueles pensamentos não arrancassem a minha alegria.

Arrumei a bolsa no corpo, indo direto para o elevador. O voo de Machado chegaria dentro de uma hora e, para o meu plano dar certo, eu teria que estar lá no momento exato em que ele passasse pelo portão de desembarque. Ele não esperava que alguém fosse o buscar. Desde dos seus dezoitos anos, mais ninguém ia buscá-lo no aeroporto. Seus irmãos sempre estavam ocupados, e os seus pais nem tinham o cuidado de mandar alguém. Aqueles cretinos só tinham cuidado com a empresa.

Assim que entrei no carro, liguei o rádio para escutar qualquer música que tirasse o clima carregado que a conversa com Brenda havia deixado. Ela era como um gatilho para mim, a peça principal de quase todas as coisas que haviam dado errado na minha vida. Um verdadeiro karma.

Considerando o estado em que moro, até que o trânsito estava calmo. Se não fosse pelos semáforos, eu teria chegado antes do tempo previsto no aeroporto.

Estacionei o carro, sentindo uma onda de adrenalina percorrer todo o meu corpo. Era questão de minutos até que eu o visse outra vez!

Perguntei a um funcionário qual era o portão de desembarque do voo que chegaria do Canadá. Ao obter a informação, fui para o local indicado. Meu coração estava ridiculamente acelerado por conta da ansiedade.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora