Capítulo Sessenta - Uma dose de esperança

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Eloise Menezes

Escutei o som da campainha tocar pela milésima vez. Eu não estava me sentindo bem para ir atender quem quer que fosse, principalmente se fosse Nicolas. Estava deitada em posição fetal no meu minúsculo sofá de dois lugares, chorando, sem dar a mínima para a pessoa que estava do lado de fora do meu apartamento. A cena de ver Machado com outra pessoa era dolorosa demais para esquecer, era como se tivessem arrancado o meu coração do peito. Nicolas havia se tornado uma das melhores partes da minha vida, como um ponto de alegria. Ver aquela cena realmente acabou comigo, nem sei como consegui voltar dirigindo para casa.

— Lise, por tudo o que é mais sagrado, abra esta bendita porta — uma voz, que reconheci ser a de Evelyn, berrou do lado de fora do apartamento.

Sentei-me junto com uma tentativa falha de me recompor; eu não podia deixar minha irmã ali por mais tempo. Até me senti mal depois de ter descoberto que era ela.

Caminhei até a tábua de madeira, abrindo-a sem jeito. Toda a birra de minha irmã se foi quando ela viu o meu estado. Chorei ainda mais quando ela me envolveu em um abraço.

— Nicolas me contou o que aconteceu — ela disse. — Ele implorou para que eu viesse ver como você estava, já que ele tinha certeza de que você não o aceitaria agora.

— Dói tanto, Evelyn — solucei.

— Eu sei — ela disse ao me soltar, indo fechar a porta, mas logo voltou a me envolver com os seus braços. — Você sabe que ele não teve culpa, não é? Sei que é tudo recente, mas eu tenho certeza de que ele nunca trairia você; é evidente o quanto esse homem te ama.

— Menti para ele; falei que só havia chegado quando Raquel disse que o amava, mas ouvi a conversa desde o início. Tobias me encontrou e me entregou as chaves do carro de Nicolas, dizendo que o filho havia pedido ao frentista. Desconfiei, mas fiz o que ele pediu. Quando o encontrei, vi toda a cena já desconfiando que seria uma armação. Mas... ver a forma que eles se falavam, ver como os sentimentos dele por ela eram intensos... tudo isso me deixou muito mal. E, quando ela o beijou, senti-me da mesma forma que quando descobri a traição de Soares. Foi um soco no estômago.

— Mas, se sabe que ele não teve culpa, por que o abandonou, minha irmã?

— Foram muitas coisas para assimilar... não consigo tirar aquela cena da minha cabeça. — Andei até o sofá, sentando-me nele novamente. Enfiei a cabeça entre as mãos e suspirei pesadamente. — Acho que nós dois não nascemos para ficarmos juntos, sempre vai ter alguma coisa para atrapalhar. Não quero que a minha filha cresça em um ambiente assim.

— Por que diz isso? Vocês são perfeitos um para o outro.

— Perfeitos? — ri com ironia. — As circunstâncias da vida dizem o contrário. Nicolas não vai abandonar a sua carreira, e nem eu quero que ele faça isso; Machado dedicou sua vida inteira àquele lugar. E, enquanto ele estiver lá, os seus pais sempre darão um jeito de controlar a sua vida. É melhor que ele se case com Raquel, será mais fácil.

— Está ouvindo as bobagens que está dizendo?

Levantei a cabeça, encarando a minha irmã.

— Acha que é fácil dizer isso? — funguei o nariz, voltando a chorar. — Estou acelerando o que acabaria acontecendo. Estou poupando o meu coração. Só eu sei o quanto doeu o que aconteceu com Soares, e com Nicolas... sinto que com Nicolas será pior porque eu o amo mais do que eu achava que era possível amar alguém. O amo mais do que eu gostaria. Sei que vai doer, mas se acabar agora, talvez doa menos.

— Dói pouco?

Balancei a cabeça exageradamente, em negação. 

— Dói muito — falei ao começar a chorar compulsivamente.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora