Capítulo Quarenta e um - Uma visita indesejada.

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O despertador disparou em meu celular; resmunguei por ter que acordar cedo em um clima tão bom quanto aquele. Imaginei que estivesse chovendo, já que meu corpo fica mais preguiçoso no clima chuvoso. Dei batidas no criado mudo, ainda com os olhos fechados, em busca do aparelho que fazia aquele barulho infernal. Quando finalmente senti a sua textura, deslizei o dedo pelo ecrã de forma automática. Suspirei irritada, lutando contra a minha preguiça e tentar me levantar, mas um braço me puxou de volta quando eu finalmente havia conseguido, fazendo-me deitar novamente. Olhei para o lado, encarando o rosto incrivelmente lindo de Nicolas. Me perguntei se era justo uma pessoa ter um nível de beleza tão alto quanto o dele. Machado estava acima de qualquer padrão da sociedade, e aquilo era injusto com o resto do mundo. Ele não devia ser tão bonito desse jeito, chega a ser irritante.

Levei minha mão até o seu rosto, como se tivesse sido atraída por um imã. Além de tudo, sua pele era ridiculamente sedosa. Uma pele de pêssego. Que injusto. Se alguém tentasse ser mais bonito do que ele, sairia arrasado, porque seria um trabalho perdido, uma perca de tempo. Como alguém ainda conseguia ser bonito com a cara inchada de sono? O mundo tinha os seus preferidos.

— Volta a dormir. — Murmurou ainda de olhos fechados.

— Mas eu preciso ir trabalhar. Se quisesse acordar tarde, devia ter vindo dormir aqui amanhã, que é sexta.

Ele abriu os olhos com lentidão, enrugando a testa em aborrecimento.

— As responsabilidades conseguem ser irritantes de vez em quando. Queria poder ficar mais aqui, com você.

Corei por ele ter se referido diretamente à mim e não ao bebê. Acho que Machado ainda não estava raciocinando direito.

— Vamos nos levantar, não quero perder a hora!

Me livrei de seu braço, enrolando-me no lençol antes de ficar em pé e catar as minhas roupas no chão. Era incrível como eu sempre cedia a ter momentos íntimos com ele. Aquilo era irracional demais e eu sempre cometia o mesmo erro. Mas, se para aprender a lição eu tivesse que resistir à ele, acho que aquele seria o impasse da minha vida. Meu corpo era fraco demais para fazer a coisa racionalmente correta. Seria impossível não cair na tentação.

— Posso dormir aqui no sábado depois do trabalho, se você quiser.

Me virei para olhá-lo.

— Vai trabalhar no sábado?

— Meus pais estão me sobrecarregando de proposito — passou a mão nos cabelos —, eles acham que isso vai separar a gente ou me fazer mudar de ideia. Eles já deviam ter se tocado que estou decidido. Trabalhar nos finais de semana não mudará a minha posição, de jeito nenhum, eu já passava os sábados trabalhando em casa de todo o modo.

— Bom, não vou te deixar do lado de fora se você vier. — Fui até o guarda-roupa, pegar alguma coisa para vestir, mas pude ver o seu sorriso cínico surgir pela visão periférica.

Caminhei para o banheiro, sem olhá-lo outra vez. Por alguma razão, fiquei envergonhada demais para isso. Fui direto para o chuveiro, tomar um banho e relaxar o corpo naquela água quente. Senti um leve incomodo no útero, como se fosse cólica. Não foi nada demais, era suportável. Levei a mão até a região, lembrando que naquela fase da gestação era normal sentir aquele tipo de coisa, já que o bebê estava crescendo e a minha barriga também, por conseguinte. Nicolas foi até a porta do banheiro, dizendo que usaria o banheiro principal e que eu poderia demorar. Quando sai ele já estava terminado de se arrumar. Machado conseguia ficar ainda mais bonito de terno, se é que aquilo era possível.

— Quer tomar café em algum lugar? Acho que será mais rápido do que se formos fazer.

— Não precisa, posso comer na empresa; não quero perder o ônibus.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora