Capítulo Seis. - Fique calmo.

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Nicolas Machado.

Olhei pela quinta vez o meu relógio de pulso. Era pra esses dois terem chegado há meia hora.

— Eles nunca vão chegar? — Perguntei impaciente.

— Calma Nick, daqui à pouco eles chegam.

Ítalo é a calmaria em pessoa, raramente fica estressado. Já eu, sou  completamente o oposto. Qualquer coisa me tira do sério.

— Não sei como ainda deixa eles se meterem na sua vida.

— Não é como se eu tivesse opção.

— Mas eles não precisam escolher todas as coisas do seu casamento.

— Eles adoram me controlar, não seria diferente nessa ocasião.

O inconfundível casaco de pele de minha mãe fez com que eu reparasse em sua chegada imediatamente. O meu pai, comparado as vestimentas dela, ficava meio apagado ao seu lado. Ele usava algo simples, mas ainda elegante.

Eles se aproximaram assim que nos viram.

— Ainda bem que estão aqui, não quero ter que carregar as malas! — Balançou as mãos.— A minha assistente pegou um resfriado e me deixou à deriva. Aquela pobretona. — Revirou os olhos.

— Fique calma, Antônia, você anda muito estressada.

— Fique calado, Tobias, Você não sabe o quanto é difícil viajar sem uma assistente!

E lá vem o drama...

— Estou tendo que fazer tudo sozinha, não tive ninguém pra fazer as minhas malas!

— Imagino como isso deve ser desgastante, mãe, mas precisamos ir para o hotel, tenho compromissos. Depois continuamos a conversa.

— Você é chato igual ao seu pai, Ítalo! — Revirou os olhos.

— Vou pegar as suas malas — falei.

— Só tenha cuidado com a dourada, ela é nova.

— Pode deixar.  

Colocamos as coisas no carro e seguimos para o hotel.

O caminho foi repleto por reclamações por parte da minha genitora. Nunca encontrei alguém que reclamasse tanto quanto ela. Meu pai não é santo, mas não sei como ele a aguentou/aguenta por tantos anos.

Quando chegamos no hotel, cinco — ou mais — funcionários foram humilhados por minha mãe.  Antônia estava crente que nenhum deles estava apto ao trabalho de servi-la.

Mantenha a calma, Nicolas. Mantenha a calma.

Eles resolveram subir para o quarto, disseram que estavam muito cansados. E minha mãe fez o favor de dizer que não estava com paciência para falar com ninguém. Oh, eu nem havia percebido.

Ítalo e eu saímos para comer alguma coisa. Já estava tarde, e não ficaríamos esperando a boa vontade dos nossos pais de irem conosco.

Não demoramos muito para voltar ao hotel, e quando chegamos, nos deparamos com a cena de duas mulheres visivelmente bêbadas rindo feito gazelas na recepção. Nós as conhecíamos muito bem, bem até demais.

— Querida, achei que iriam apenas experimentar o bufê. — Foi até a sua noiva.

— E foi o que fizemos, mas acabamos experimentando as bebidas também. — Envolveu o pescoço de Ítalo com os braços.

Nem me lembro da última vez em que fiquei assim com alguém. As minhas experiências amorosas nunca foram as melhores, e eu sempre acabava da mesma forma, com o coração partido. A paixão não é pra mim, definitivamente não.

— Ai, vocês são tão grudentos. Acho que vou vomitar arco-íris. — Eloise disse entre risos.

Aquilo era um milagre, não me lembrava de vê-la sorrir, ela sempre foi alguém muito fechada. A sua maior diversão sempre foi julgar as pessoas, ou melhor, me julgar.

— Vamos para o bar? Vai ser divertido! — Evelyn fez bico.

— Eu não vou, já bebi demais por hoje. — A julgadora levantou as mãos em rendição.

— Chata!

— Eu vou com você, amorzinho. Preciso relaxar a mente.

— É por isso que eu te amo!

— Só por isso?

— Óbvio que não, por muitas coisas mais.

— Credo, ai já é melação demais. — Fez careta. — Vou subir, se divirtam crianças. — Acenou antes de virar de costas.

Eu apenas a segui. Não estava afim de ficar vendo aqueles dois trocarem juras de amor. É tedioso. E além disso, não quero ser um empata.

Eloise apertou o botão, para chamar o elevador, e se assustou quando notou a minha presença.

— Você quer me matar, garoto?!

— Que exagero...

Me lançou um olhar ameaçador. Coitada, mal sabe que nem chega perto de me assustar.

— Às vezes parece que você me persegue, sinceramente.

— Não sei se esqueceu, mas os nossos quartos são no mesmo andar, queridinha.

O barulho do elevador chamou a nossa atenção. Entramos em silêncio, apenas ignorando a presença um do outro.

Fiz a menção de apertar o número do nosso andar, mas Eloise fez questão de o fazer na frente.

— Você é impossível.

Ela deu de ombros e pegou o celular da bolsa.

Aproveitei a deixa para reparar em como o seu vestido estava perigosamente justo, evidenciando todas as curvas de seu corpo. O seu batom vermelho levemente borrado dava todo o charme.

Ela guardou o celular e se olhou no espelho do elevador, limpando o borrado de seu batom. Me perguntei como um ser tão irritante consegue ser incrivelmente sexy. É admirável que  essa mulher ainda seja solteira.

O elevador abriu.

— Não pense que não vi o seu olhar sobre mim. — Apontou o dedo na minha cara.

— Não era a minha intenção esconder.

As suas bochechas coraram, e me segurei para não soltar um riso.

— Você é tão irritante!

— Quem não é irritante pra você, não é?

Paramos de frente a porta de nossos respectivos quartos.

— Eu te odeio.

— Você diz isso com tanta frequência que estou começando a desconfiar que seja mentira.

Ela se aproximou, colocando a mão em meu ombro, e sussurrou:

— Nunca duvide dos sentimentos de uma garota.

Deu dois tapinhas no local antes de se afastar.

— Boa noite, Nicolas. Sonhe com os demônios, porque você não tem a sorte de sonhar com anjos, como eu.

— Você é um anjo?! — Ironizei. — Se eu sonhar com demônios é porque provavelmente lembrarei de você.

— Idem.

Eloise abriu a porta de seu quarto, entrou, a fechando com força. É muito fácil irritar essa mulher. Chega até a ser prazeroso.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora