Nicolas Machado.
Olhei pela quinta vez o meu relógio de pulso. Era pra esses dois terem chegado há meia hora.
— Eles nunca vão chegar? — Perguntei impaciente.
— Calma Nick, daqui à pouco eles chegam.
Ítalo é a calmaria em pessoa, raramente fica estressado. Já eu, sou completamente o oposto. Qualquer coisa me tira do sério.
— Não sei como ainda deixa eles se meterem na sua vida.
— Não é como se eu tivesse opção.
— Mas eles não precisam escolher todas as coisas do seu casamento.
— Eles adoram me controlar, não seria diferente nessa ocasião.
O inconfundível casaco de pele de minha mãe fez com que eu reparasse em sua chegada imediatamente. O meu pai, comparado as vestimentas dela, ficava meio apagado ao seu lado. Ele usava algo simples, mas ainda elegante.
Eles se aproximaram assim que nos viram.
— Ainda bem que estão aqui, não quero ter que carregar as malas! — Balançou as mãos.— A minha assistente pegou um resfriado e me deixou à deriva. Aquela pobretona. — Revirou os olhos.
— Fique calma, Antônia, você anda muito estressada.
— Fique calado, Tobias, Você não sabe o quanto é difícil viajar sem uma assistente!
E lá vem o drama...
— Estou tendo que fazer tudo sozinha, não tive ninguém pra fazer as minhas malas!
— Imagino como isso deve ser desgastante, mãe, mas precisamos ir para o hotel, tenho compromissos. Depois continuamos a conversa.
— Você é chato igual ao seu pai, Ítalo! — Revirou os olhos.
— Vou pegar as suas malas — falei.
— Só tenha cuidado com a dourada, ela é nova.
— Pode deixar.
Colocamos as coisas no carro e seguimos para o hotel.
O caminho foi repleto por reclamações por parte da minha genitora. Nunca encontrei alguém que reclamasse tanto quanto ela. Meu pai não é santo, mas não sei como ele a aguentou/aguenta por tantos anos.
Quando chegamos no hotel, cinco — ou mais — funcionários foram humilhados por minha mãe. Antônia estava crente que nenhum deles estava apto ao trabalho de servi-la.
Mantenha a calma, Nicolas. Mantenha a calma.
Eles resolveram subir para o quarto, disseram que estavam muito cansados. E minha mãe fez o favor de dizer que não estava com paciência para falar com ninguém. Oh, eu nem havia percebido.
Ítalo e eu saímos para comer alguma coisa. Já estava tarde, e não ficaríamos esperando a boa vontade dos nossos pais de irem conosco.
Não demoramos muito para voltar ao hotel, e quando chegamos, nos deparamos com a cena de duas mulheres visivelmente bêbadas rindo feito gazelas na recepção. Nós as conhecíamos muito bem, bem até demais.
— Querida, achei que iriam apenas experimentar o bufê. — Foi até a sua noiva.
— E foi o que fizemos, mas acabamos experimentando as bebidas também. — Envolveu o pescoço de Ítalo com os braços.
Nem me lembro da última vez em que fiquei assim com alguém. As minhas experiências amorosas nunca foram as melhores, e eu sempre acabava da mesma forma, com o coração partido. A paixão não é pra mim, definitivamente não.
— Ai, vocês são tão grudentos. Acho que vou vomitar arco-íris. — Eloise disse entre risos.
Aquilo era um milagre, não me lembrava de vê-la sorrir, ela sempre foi alguém muito fechada. A sua maior diversão sempre foi julgar as pessoas, ou melhor, me julgar.
— Vamos para o bar? Vai ser divertido! — Evelyn fez bico.
— Eu não vou, já bebi demais por hoje. — A julgadora levantou as mãos em rendição.
— Chata!
— Eu vou com você, amorzinho. Preciso relaxar a mente.
— É por isso que eu te amo!
— Só por isso?
— Óbvio que não, por muitas coisas mais.
— Credo, ai já é melação demais. — Fez careta. — Vou subir, se divirtam crianças. — Acenou antes de virar de costas.
Eu apenas a segui. Não estava afim de ficar vendo aqueles dois trocarem juras de amor. É tedioso. E além disso, não quero ser um empata.
Eloise apertou o botão, para chamar o elevador, e se assustou quando notou a minha presença.
— Você quer me matar, garoto?!
— Que exagero...
Me lançou um olhar ameaçador. Coitada, mal sabe que nem chega perto de me assustar.
— Às vezes parece que você me persegue, sinceramente.
— Não sei se esqueceu, mas os nossos quartos são no mesmo andar, queridinha.
O barulho do elevador chamou a nossa atenção. Entramos em silêncio, apenas ignorando a presença um do outro.
Fiz a menção de apertar o número do nosso andar, mas Eloise fez questão de o fazer na frente.
— Você é impossível.
Ela deu de ombros e pegou o celular da bolsa.
Aproveitei a deixa para reparar em como o seu vestido estava perigosamente justo, evidenciando todas as curvas de seu corpo. O seu batom vermelho levemente borrado dava todo o charme.
Ela guardou o celular e se olhou no espelho do elevador, limpando o borrado de seu batom. Me perguntei como um ser tão irritante consegue ser incrivelmente sexy. É admirável que essa mulher ainda seja solteira.
O elevador abriu.
— Não pense que não vi o seu olhar sobre mim. — Apontou o dedo na minha cara.
— Não era a minha intenção esconder.
As suas bochechas coraram, e me segurei para não soltar um riso.
— Você é tão irritante!
— Quem não é irritante pra você, não é?
Paramos de frente a porta de nossos respectivos quartos.
— Eu te odeio.
— Você diz isso com tanta frequência que estou começando a desconfiar que seja mentira.
Ela se aproximou, colocando a mão em meu ombro, e sussurrou:
— Nunca duvide dos sentimentos de uma garota.
Deu dois tapinhas no local antes de se afastar.
— Boa noite, Nicolas. Sonhe com os demônios, porque você não tem a sorte de sonhar com anjos, como eu.
— Você é um anjo?! — Ironizei. — Se eu sonhar com demônios é porque provavelmente lembrarei de você.
— Idem.
Eloise abriu a porta de seu quarto, entrou, a fechando com força. É muito fácil irritar essa mulher. Chega até a ser prazeroso.
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Me odeie, mas me ame.
RomansaEloise descobriu que algumas taças de vinho podem alterar o curso de uma vida. E, bem... foi exatamente isso que aconteceu. Tudo começou a dar errado no momento em que ela e seu pior inimigo foram escolhidos como padrinhos do casamento de sua irmã. ...