Capítulo Trinta e cinco. - À procura de inspiração.

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Estava acompanhando os feedbacks do último desfile quando ouvi batidas na porta. Por um momento fiquei com medo, pensando que fosse algum integrante da minha nova realidade, mas pude respirar aliviada quando vi que era Letícia. Ela aparentava estar com o seu bom humor de sempre. Era incrível como as pessoas ao meu redor sempre pareciam estar animadas, isso fazia-me sentir a pessoa mais amargurada do mundo. Queria ao menos conseguir fingir ser tão animada quanto elas.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, preocupada.

— Estava pensando no seu problema de inspiração.

— Anda pensando sobre isso?

— Não é óbvio? Seria insuportável ter que aturar Brenda e Sergio sem você! — Colocou as mãos na cintura, parecendo ficar pensativa. — Isso se eu não perder o meu emprego... mas enfim, eu tive uma ideia.

— Que ideia?

— Vamos fazer coisas que inspirem você!

— Tá... mas que tipo de coisas?

— Pegue os seus materiais para fazer um croqui e me siga.

Franzi o cenho, achando aquilo uma loucura, mas resolvi fazer o que ela estava mandando, não havia mal algum em fazer aquilo de todo modo. E eu estava disposta a fazer loucuras para voltar a ser uma pessoa inspirada.

A segui para fora da sala, indo em direção ao elevador. As pessoas já estavam saindo para almoçar, o que fez nós ficarmos apertadas naquela caixa de metal. Pude respirar aliviada quando chegamos no térreo, odiava situações daquele tipo. Letícia andava desenfreada para fora dos portões da empresa. Tentei acompanhar o seu ritmo, mas desde que fiquei grávida os meus passos pareceram ficar mais lentos. 

— Para onde vamos? — perguntei, já começando a ficar ofegante pelo ritmo que estávamos tomando.

— Você vai ver.

A olhei desconfiada, mas ela ignorou aquela atitude. Meu cenho se franziu outra vez quando atravessamos a rua, indo em direção ao parque que ficava ali perto.  Eu entendia que um parque poderia ser um lugar bom para se relaxar, mas o que havia de inspirador naquilo? Aquele parque, que parecia mais uma praça, de fim de rua não parecia inspirar muitas pessoas. Ele não gritava inspiração, de jeito nenhum. Desacreditei que aquele realmente fosse o destino, e tive que disfarçar a minha cara de frustração quando Letícia parou de andar. Ela parecia contente e inspirada por estar naquele lugar, diferente de mim. Tentei fingir animação, para não decepcioná-la.

— Esse é o lugar inspirador? — Não consegui segurar a minha língua, disfarçando o meu tom de voz com um sorriso.

— Quando mais nova, eu costumava ir no parque da minha cidade para esquecer meus problemas. Pode funcionar com você!

— Aposto que o parque da sua cidade era bem melhor que este.

— Não seja tão rabugenta, Eloise!

— Você pareceu o Nicolas falando...

— Nicolas?

— É... — Forcei a garganta. — Ele que fala assim.

— Sente- se ai — apontou para o banco —, vou buscar sanduiches para almoçarmos.

— Pega um natural pra mim, por favor, depois te pago. — Sentei-me no lugar que ela havia mandado.

— Tudo bem. — Sorriu, saindo dali.

Abri meu caderno de desenho, olhando em volta, à procura de algo que me inspirasse, mas fora em vão. Tentei me concentrar na natureza, mas as buzinas que vinham da avenida me lembraram de que eu não estava em um ambiente tão natural assim. Suspirei frustrada, lembrando do pouco tempo que ainda me restava para criar àquela coleção. Eu já devia ter começado a procurar outro emprego...

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora