Capítulo Cinquenta e seis - Segredos revelados

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No dia seguinte, fomos almoçar com os meus pais. Minha mãe tinha insistido para Nicolas ir; apesar de eu já ter feito o convite, ela fez questão de o fazer outra vez. Dona Fátima realmente havia virado fã do loirinho. Machado fazia questão de se gabar por isso, mas era bom vê-lo tão feliz. A sua alegria me contagiava.

— Para onde está me levando? — perguntou ele.

Após o almoço de Natal, coloquei-o no carro sem revelar nosso destino. Era a vigésima vez que ele fazia aquela mesma pergunta. Para um homem adulto, ele estava tão impaciente quanto uma criança. Mas eu não tinha o direito de julgá-lo, estava tão ansiosa quanto ele para chegarmos em nosso destino. Estava ansiosa para ver a sua reação.

Sorri involuntariamente quando paramos de frente à fachada que estava sendo pintada de vermelho. Nicolas juntou as sobrancelhas, olhando-me intrigado. Ele ainda não devia ter se tocado.

— Chegamos — falei animada.

— Não me diga que...

— Sim, essa é a minha pequena empresa — falei ao tirar o cinto. Ele me olhou com um sorriso de canto. — Vem, vamos descer!

Abri a porta e saí do veículo; senti a movimentação de Nicolas enquanto ele fazia o mesmo.

Machado esperou que eu fosse até ele e segurasse a sua mão. Rolei os olhos, fingindo achar aquilo uma besteira. A realidade era que eu amava momentos como aquele, momentos em que parecíamos um casal de verdade.

Seus olhos miravam a fachada com atenção, reparando em cada detalhe que os pedreiros estavam fazendo. Cumprimentamos os trabalhadores antes de entrar no local.

— Vermelho? —  havia um sorriso em seus lábios na hora de pronunciar a pergunta.

—  Você sabe que esta é a minha cor preferida.

—  Combina perfeitamente com tudo; foi uma ótima escolha!

Ele era a única pessoa que concordava comigo.

—  Obrigada, você é o único que pensa  assim.

—  Todos deveriam gostar; é uma jogada de marketing maravilhosa ser original.

—  Concordo —  gabei-me.

Estávamos no saguão durante a conversa. Os olhos de Nicolas percorriam o ambiente. Sua análise aparentemente rigorosa me deixou nervosa. Teria ele aprovado o local? Será que lhe agradou?

—  E aí, o que achou?

— É um ótimo começo; estou feliz por você! 

— Obrigada.

Um ótimo começo... ele devia ter achado o lugar pequeno. Machado estava acostumado com coisas grandiosas e luxuosas, aquela devia ser a empresa mais simples que ele já pisara na vida. Mas fiquei feliz por ele fazer parecer que era uma grande coisa aos seus olhos.

A diferença de nossa classe social fazia-me refletir de vez em quando. Até quando o mundo dele seria tão diferente do meu? Quanto tempo eu demoraria para me acostumar com a realidade dele?

—  Estou vendo uma escada, tem outro andar?  

— Sim, vem comigo!

Como nossas mãos ainda estavam entrelaçadas, o guiei para o andar de cima. Eu estava eufórica por finalmente estar mostrando-o o meu novo mundo. Depois que comecei a confiar nele, sinto que preciso mostrá-lo todas as minhas versões, todas as minhas partes. Se Machado realmente quer me amar, ele precisa amar a minha forma completa.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora