Capítulo Trinta e nove. - Desespero.

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Nicolas Machado

Respirei fundo antes de entrar naquela empresa. Não fazia ideia do que me aguardava, do que meus pais diriam... Com certeza eles me deserdariam na primeira oportunidade; ainda bem que fui esperto e me envolvi em um monte de projetos, ao contrário, nem estaria passando pelos portões desta maldita empresa. É incrível como a minha vida girou em torno desse lugar. Em como fui obrigado a amadurecer precocemente por conta deste lugar. Às vezes me sinto um senhor de sessenta anos no corpo de um homem de vinte e seis por conta disso. A minha experiência profissional é bem maior do que a de algumas pessoas da minha idade. É até mesmo maior  do que a de algumas pessoas que têm o dobro dela.

As pessoas baixaram a cabeça à medida em que fui passando, e segundo os meus pais, aquilo era um sinal de respeito, mas eu nunca me senti bem com aquilo. Mas o que era certo para Tobias e Antônio, teria que ser certo para mim também. Sempre foi assim, eu sempre cedi.

Quando estava prestes a entrar na minha sala, minha secretária me parou, segurando em meu braço, tentando transmitir-me uma mensagem com o olhar. Eu não precisava adivinhar, já sabia o que era, só estava com medo de aceitar o óbvio. Se não tivesse passado o domingo com Eloise e sua família, teria passado o dia bebendo em casa, tentando controlar a minha ansiedade. Tentando arrancar a minha agonia.

Abri a porta da minha sala, com as mãos trêmulas, temendo o que estava por vir. Minha cadeira giratória estava virada, sem revelar a pessoa que nela estava sentada. Mas eu já sabia quem era; aquele perfume desagradável e caro era extremamente familiar, podia reconhece-lo a quilômetros de distância.

Meu pai se virou no mesmo instante em que percebeu a minha chegada. Seu olhar era ameaçador; senti um calafrio percorrer toda a minha espinha. Aquele provavelmente seria o meu fim. Toda a minha confiança se foi pelo ralo. Nenhum trabalho eficiente seria capaz de tirar o ódio dos olhos do meu pai.

— Como ousa nos contrariar? — Falou entredentes, e o seu tom de voz estava alto demais para parecer algo casual. Se tivesse alguém escutando do lado de fora, saberia o tamanho da ira de Tobias Machado. — E pior... como foi capaz de nos humilhar daquela maneira? Era para se casar com a Raquel e não com aquela mulherzinha!

— Achei que tivesse deixado clara a minha decisão — tentei parecer firme, quando estava tremendo por dentro. — E, por favor, não menospreze a minha noiva.

— Noiva? — Riu sem humor, levantando-se. — Como pode chamar aquela pobretona de noiva?!

— Aquela pobretona é a mãe do seu futuro neto, a respeite, por favor. Ela não tem nada a ver com as minhas escolhas. Eu que a pedi em casamento.

— Esqueça esse ser, Nicolas, ele não é seu filho! E mesmo que fosse, eu nunca consideraria uma criatura, que está acabando com os negócios da família, como um neto.

— Esse bebê é meu filho sim!

— Não seja um tolo, ela está aplicando o golpe da barriga!

— O senhor não tem o direito de falar dela, não a conhece o suficiente para ter.

— Um burro apaixonado, este é você! — Aplaudiu violentamente. — Tão burro quanto o irmão. Sabe como é decepcionante ter filhos como vocês? E o pior, eu apostava em você, Nicolas, de verdade. Achei que tivesse herdado a minha ambição, mas estava enganado. Você não se passa de um fracote!

Prendi minhas emoções na garganta, ele não havia me criado para chorar. Ele não me permitiria chorar.

— Me desculpe se te decepcionei, mas esta é a minha vida; posso tomar minhas próprias decisões.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora