Capítulo Quarenta e seis - Cansaço

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Nicolas Machado

Deitei a cabeça em cima da mesa, sentindo os meus olhos fecharem. As únicas noites em que eu me permitia dormir eram na casa de Eloise. Nunca estive tão atarefado. O meu pai estava fazendo de propósito, como algum tipo de punição, eu tinha certeza. Tobias queria que eu largasse Eloise e a bebê. Ele queria que eu me casasse com Raquel de qualquer jeito, queria que eu suprisse os seus desejos. Mas ele estava muito enganado se pensava que eu desistiria com tanta facilidade. O Nicolas submisso estava morto. Enterrado. Nem que eu tivesse que virar todas as minhas noites trabalhando, eu nunca largaria a minha poção de felicidade. Nunca tinha entendido Ítalo como entendo agora. Em um mundo como esse, a felicidade está nas coisas mais loucas e inesperadas da vida. Nunca soube onde estava a minha felicidade até tê-la. Nunca pensei que me sentiria tão bem ao lado de Eloise Menezes, a mulher que sempre me tirou do sério com seus julgamentos e provocações. Não abriria mão dela, era egoísta demais para isso.

— Senhor Machado — a voz da minha secretária, que descobri se chamar Ana, fez com que eu abrisse os olhos. Fazia tempo que eu tentava memorizar o nome daquela mulher. Murmurei alguma coisa, permitindo a sua entrada. — Vim trazer o seu café.

— Obrigado, deixe em cima desse móvel — apontei para o gaveteiro.

— Seu irmão disse que virá falar com senhor daqui a alguns minutos.

— Ele disse do que se trata?

— Não, senhor.

— Sabe se o meu pai mandou algum recado?

— Não recebi nada até agora.

— Certo, obrigado.

Ela comprimiu os lábios em um sorriso e se retirou. Levantei-me, pegando o copo térmico de café, torcendo para que aquele líquido me deixasse acordado pelo resto do dia. Meu pai não podia desconfiar do meu cansaço, ele atacaria com mais força, até que eu não aguentasse mais.

A porta foi aberta com brutalidade, por pouco não deixei que o café caísse da minha mão. Olhei para a direção do barulho com os olhos arregalados, ainda assustado. Ao menos pude ter certeza de que estava definitivamente acordado, nem o café me deixaria tão ligado com tanta velocidade.

Raquel estava com a cara emburrada, e aquela birra estava designada a mim. Ana disse que não conseguiu detê-la, desculpando-se. Balancei a cabeça, dizendo que não tinha problema, pedindo para que ela se retirasse. Safra só abriu a boca quando estávamos a sós.

— Quer que eu dê uma de adulta rebelde? — Berrou.

— É a única forma de conseguimos.

Ela arfou.

— Devia ter tido a decência de ter falado comigo pessoalmente, não ter mandado aquela mensagem asquerosa!

— Menos, Raquel, menos.

Eu a enviara uma mensagem contando da minha ideia, mas Raquel não estava tão adepta a fazer sua parte. Simplesmente não estava.

O plano não era tão complicado, ela só teria que ser sincera com os pais e contá-los dos seus verdadeiros sonhos. Mas a megera não estava a fim de colaborar.

— Como eu diria uma coisa dessas aos meus pais? Eles me odiariam pelo resto da vida!

— Seus pais te amam, com certeza te perdoariam.

Ela passou a mão em suas madeixas escuras, andando de um lado a outro da sala.

— Caso eu decida me revoltar contra eles, acha que desistiriam da empresa? É impossível, Nicolas!

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora