Capítulo Vinte e oito. - A verdade que mata.

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Nicolas Machado

Coloquei a papelada de lado e passei a observar a planilha em meu computador. Não posso cometer nenhum erro, os gastos da empresa precisam estar batendo com as despesas do mês. Meus pais têm pegado no meu pé ultimamente, eles acham que ando meio disperso no trabalho. E por incrível que pareça, eles têm razão. Não consigo parar de pensar em Eloise, e na criança que está em seu ventre. Não consigo parar de pensar que serei pai daqui a alguns meses; é estranho pensar dessa forma. Apesar de querer ter filhos, nunca imaginei que isso aconteceria tão cedo. Os meus pais sempre tiveram a minha vida planejada, com certeza irão se decepcionar ao descobrirem o meu deslize. Tenho medo de ser deserdado.

Escutei três batidas na porta, e logo em seguida a voz aguda da minha secretária ecoou pelo local. Permiti a sua entrada, e a garota de cabelos cacheados só estava ali para anunciar a entrada de meu pai. Ainda não entendo a razão de tanta burocracia para o velho Tobias entrar em um cômodo.

— Pai, o que faz aqui? — Levantei-me da poltrona.

— Sua mãe nos chamou para tomar um café, parece que há boas notícias para você, meu filho.

— Boas notícias? — falei confuso.

— Está com algum problema de interpretação, Nicolas?

— Não, senhor.

— Ótimo, nos encontre às quatro horas, na cafeteria de sempre. — Se virou, para sair daquela sala, sem antes mesmo de ouvir uma resposta.

Suspirei fundo, voltando a me sentar. Tentei prestar atenção no que estava fazendo, mas a curiosidade para descobrir qual seria a notícia estava invadindo os meus pensamentos. Meus genitores não costumam fazer boas ações para os filhos, tudo o que eles fazem por nós é pelo o bem da empresa. Costumo me perguntar se eles nos amam, mas não penso demais sobre isso, a resposta seria humilhante. Esta empresa é o amor da vida deles.

Não demorou muito para chegar a hora do "café em família". Quase subi pelas paredes com a curiosidade. 

Falei meu nome para a recepcionista, que sorriu largamente assim que me viu. Acho que ela me conhece de outros carnavais, seu cabelo ruivo não me parece estranho, e o seu corpo torneado também não. Nem me lembro da última vez em que fiquei com alguém que não fosse Eloise. Fazem algumas semanas desde que dormimos juntos; nunca fiquei tanto tempo sem fazer sexo. Ando meio cansado para esse negócio de flerte, a vida noturna não parece mais ter tanta graça. Acho que o Nicolas pegador está prestes a se aposentar. E além disso, tenho medo de Eloise estar esperando uma menina, não quero ter que pagar pelos meus pecados.

O casaco de pele da minha mãe estava pendurado na cadeira, de uma forma chique, mas não deixava de ser exagerado. Meu pai mexia no celular enquanto ela tagarelava sobre alguma coisa, os dois pararam o que estavam fazendo assim que notaram a minha presença.

— Nicolas, meu filho, sente-se! — Disse minha mãe, sem demora.

Fiz o que ela mandou, ainda estranhando aquele convite. Os dois se encararam por um tempo, mas logo começaram a falar.

— Você viu quem voltou da Europa?

— Não.

— A Raquel.

Aquele nome. Aquele maldito nome. Ouvi-lo foi como levar um murro no estômago.

— Por que está me dizendo isso?

A mais velha trocou um sorriso com o marido, passou a mão pelo cabelo recém escovado, e logo se pôs a falar:

— O seu irmão se casou há dois meses e meio, e você sabe que este casamento não teve vantagem nenhuma para nós. 

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora