Capítulo Vinte e três. - A primeira ultrassom.

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Devorei quatro pães no café da manhã. Ando comendo muito ultimamente, vou sair dessa gestação com o dobro do meu peso. Coloquei um vestido solto com um shorts por baixo, para facilitar na hora do exame. Ainda não acredito que estou grávida, nunca pensei que em algum dia teria um filho. Respirei fundo, encarei meu reflexo por um tempo, até que eu me sentisse forte o suficiente.

Nicolas já me esperava no hall de entrada do meu prédio. Não imaginava que ele seria tão pontual, principalmente com a distância entre as nossas casas. 

— Olha só, você chegou exatamente na hora em que marcamos.

— Duvida da minha pontualidade, Eloise?

— Sim. — respondi com cinismo.

— Se quis me chocar com essa resposta, saiba que falhou, já esperava por algo do tipo.

— Não quis te chocar, queridinho. — Passei por ele, inalando todo o seu perfume amadeirado.

Não nos falamos muito durante o percurso até a clínica. Acho que nunca vivi uma situação tão estranha quanto essa. Se já é estranho estar grávida, estar grávida de Nicolas é mais estranho ainda. Me pergunto o que fiz de errado; devo estar pagando por todos os meus pecados.

Têm duas pessoas na minha frente, mas a atendente disse que não demoraria muito até chegar na minha vez. Nicolas está sentado ao meu lado, mexendo no celular, provavelmente resolvendo alguma coisa do trabalho. Eu também devia estar trabalhando, já era pra estar na metade da minha nova coleção, mas não consigo me concentrar. Não consigo me concentrar em mais nada, essa gravidez tira todo o meu foco.

— Está nervosa? — Perguntou ao desligar o celular.

— Por que a pergunta?

— Porque você não para de balançar as pernas.

— Só estou entediada.

— Pode admitir que está nervosa, Eloise. Eu também estou.

— Tá, estou nervosa, se é isso o que quer saber...

— Os seus pais já sabem da novidade?

— Ainda não tive coragem de contar. E os seus, eles sabem?

— Estou na mesma situação que a sua.

— Teve que fugir do trabalho pra vir pra cá, não foi?

— Ítalo me ajudou a tirar o dia de folga.

— Sortudo, tive que inventar que amanheci resfriada.

— Eloise Menezes. — A recepcionista chamou o meu nome, e logo indicou a sala em que serei atendida. Abri a porta lentamente. O médico já nos esperava, com um sorriso no rosto.

— Entrem, por favor!

Ele nos explicou como o exame seria feito e logo me guiou para a maca. Levantei o vestido, e ele passou um gel por toda a minha barriga.

— Esse é primeiro filho de vocês?

— Sim. — respondeu Nicolas.

Um nó se formou em minha garganta. É como se tudo tivesse se concretizando, se tornado de fato real. Antes parecia uma alucinação, mas agora é realidade.

A imagem do embrião apareceu na tela, e senti os meus olhos lacrimejarem.

— Você está com seis à sete semanas.

Exatamente o tempo que Evelyn está casada.

— Querem ouvir o coração?

— Queremos. — Nicolas e eu falamos em uníssono.

Os pequenos batimentos cardíacos tocaram o meu coração. Senti uma mão segurar a minha, e as lágrimas que antes eu prendia, já se encontravam espalhadas pelo meu rosto. Nunca senti algo assim antes. O meu coração está aquecido pelo coração do bebê, é uma sensação mágica.

Olhei para Nicolas, que estava com os olhos marejados; acho que sentiu a mesma coisa que eu. Sua mão ainda segurava a minha quando aquele momento acabou. O médico nos olhou sorridente, encantado com aquela cena.

— É mágico escutar um coraçãozinho pela primeira vez, não é? 

— Realmente...

— Quando descobriremos o sexo?

— Vá com calma, meu rapaz, ainda é muito recente. — disse brincalhão. — Mas vai depender do método que escolherem. — Entregou o lenço para que eu me limpasse.

— E quais são os métodos? —perguntei.

Ele nos explicou tudo com bastante cuidado, nos deixando livres para tirar qualquer dúvida. Nicolas parece ansioso para descobrir o sexo do bebê, mas confesso não me importar tanto com isso.

— Você já tem um obstetra?

— Ainda não.

— Posso recomendar alguns, se quiser.

— Nos recomende o melhor, por favor, dinheiro não será o problema!

— Nicolas! — o repreendi.

— O que foi?

— Não quero que as coisas sejam assim; tem que estar dentro do meu orçamento!

— Vou pagar por tudo, não se preocupe.

— Mas eu não vou deixar!

— Olha só, o filho também é meu, ou seja, também tenho o direito de pagar.

Antes que eu lhe desse uma resposta à altura, o médico forçou a garganta, nos entregando um cartãozinho.

— O Doutor Sales é muito bom, recomendo ele para vocês.

— Obrigada. — falei sem jeito, envergonhada pela mini discursão que ele presenciara.

Peguei a minha bolsa e nós dois saímos daquela sala. Ainda vou conversar com Nicolas em relação ao dinheiro que será gasto, não quero que ele pague por tudo. Não seria justo e eu não me sentiria bem. Mas não quero entrar nesse assunto agora, quero aproveitar o momento. Sorri com o fato de ter outro coração batendo dentro de mim.

Fiquei o caminho inteiro calada, com a mão sobre a barriga, relembrando do batimento cardíaco do meu bebê. Acho que Nicolas estava pensando na mesma coisa, porque passou o tempo todo perdido em pensamentos. Cheguei naquela clínica completamente desolada, com medo do que estava por vir, mas saí de lá com o coração quentinho.

— Obrigada por me trazer. — falei assim que ele parou o carro de frente ao meu prédio.

— Fizemos um coração bater, Eloise... Isso é incrível, não acha?

O seu olhar era terno, assim como o meu. 

— Acho que nunca senti algo parecido, Nicolas. É realmente incrível.

— Aquela noite realmente se tornou inesquecível para nós dois, não foi?

Não sei quando nos aproximamos, mas quando vi, meus lábios estavam colados nos seus. E em fração de segundos, eu estava em cima do seu colo, o beijando loucamente. Acho que foi o calor do momento, só deve ter sido isso. A minha boca me traiu friamente quando proferiu:

— Quer terminar isso lá em cima?




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