"Quem enfrenta monstros deve permanecer atento para não se tornar também um monstro. Se olhares demasiado tempo dentro de um abismo, o abismo acabará por olhar dentro de ti."
- Friedrich Nietzsche
O caminho, em partes, foi silencioso, porém bem mais devagar do que a ida. Antes, eu tinha pressa de chegar no hospital. Agora, eu só queria me manter o mais longe possível daquela sala que simbolizava mais coisas do que eu podia expressar. Eu pensava compulsivamente sem prestar atenção em nada específico, minha mente parecia uma cachoeira que caía sem parar. Imaginei mil desfechos, onde eu não teria sido tão ríspido com ela, onde ela teria sido recíproca, onde tínhamos tido uma consulta de verdade... Eu não conseguia entender porque eu em certo momento estava tão normal, calmo e em outro eu estava queimando de raiva. Eu não sabia mais quanto tempo aguentaria isso. No meu trabalho, isso nunca foi um problema, afinal, se tornava um combustível. Em meus relacionamentos, seja amorosos ou amigáveis, a mesma coisa, sem contar que eu nunca fui próximo o suficiente de alguém para a pessoa conhecer os meus dois lados.
Uma coisa era certa: Eu não deveria ter falado sobre meus sentimentos daquela forma, se é que são reais, mas a reação dela também não me ajudava nisso. Se ela não tivesse sido tão... impulsiva em suas respostas, eu não teria ficado tão irritado... Novamente caí no espiral de imaginar cenários onde o desfecho final se alteraria.
Eu já estava chegando próximo do meu bairro, passando pelo último "centrinho" (lugar movimentado, com comércio) quando desviei do meu caminho. Não sou um cara romântico, provavelmente a última vez que comprei flores para uma mulher foi no velório da minha mãe, mas eu lembrava vagamente de onde ficava a floricultura. Estaciono na frente do estabelecimento, deixando o pisca alerta ligado.
- Opa! Boa tarde, é... Eu quero um buquê.
Entrei naquele ambiente e falei com a primeira mulher que eu vi. Era uma adolescente, provavelmente trabalhando no contra turno da escola. Ela estava usando um uniforme que consistia em calça jeans, uma blusa polo verde com gola laranja com o nome da floricultura bordado e um avental jeans, que tinha detalhes em laranja também. Morena, cabelo cacheado e uma pele cor de bronze que contrastava de maneira linda.
- Claro! Você quer com rosas, girassóis, margaridas...?
Será que ela não conseguia ver em meu rosto que eu não sabia merda nenhuma de flor?
- Uhm... Pode botar todas.
Ela deu uma risadinha como se soubesse algo que eu não sei.
- Eu vou fazer um buquê misto, vai ficar mais barato do que colocar obrigatoriamente rosas, girassóis... Sem contar que vai ficar mais bonito. Você quer ele em que cor? Vai querer alguma pelúcia, bombom?
- Pode ser rosa... algo mais claro. Não vou querer nada além do buquê, só quero algo bem grande.
- Ok... Um buquê rosa com flores mistas grande fica 399,99 reais. Vai ser cartão ou pix?
Engulo em seco. Caramba. Talvez existam homens românticos por aí, mas nem todos têm 400 conto pra ficar bancando flor todo mês.
- Cartão.
Ela caminha pela loja, provavelmente procurando sua maquininha. Eu pego o meu cartão de dentro de minha carteira.
- Crédito ou débito?
- Débito.
Ela digita na máquina o valor, seleciona débito e me dá a máquina na mão. Eu insiro o meu cartão, esperando haver saldo suficiente no banco. A compra foi aprovada depois de processar rapidamente.
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Sob a Farda, o Caos.
RomanceUma história onde Roberto Nascimento, capitão do BOPE, cruza o caminho de Rafaela, uma recém-formada em medicina que atua como psiquiatra no Hospital Central da Polícia Militar. | Dark Romance | Tropa de Elite | Capitão Nascimento | Psiquiatria | H...