Please Please Please - Sabrina Carpenter

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I may never be happy,
but tonight I'm content.
- Sylvia Plath

POV: Rafaela Valença

Roberto estava me tratando como se eu fosse uma flor ameaçada de extinção, a última de minha espécie. Tentou me convencer de mesmo sem nenhuma "interferência" do BOPE ele gostaria de ir comigo até a delegacia, mas um discurso bem construído em cima de pautas sociais como "ela ficou irritada pois você estava bancando uma garota rica" e semelhantes foi o suficiente. Parecia que ele compartilhava fisicamente de minha dor, tocando gentilmente em meu braço para analisar o corte e gemendo de dor junto comigo. O convenci que ir ao hospital numa quinta feira a noite por causa de um corte bobinho não era a melhor ideia, mesmo sabendo que sim, meu corte necessitava de pontos e também que numa análise melhor feita o doutor que me atenderia no mínimo acharia que eu estou sofrendo violência doméstica, que o que não é totalmente errado, mas não é nisso que eu quero focar no momento, não importava. Eu faria e passaria por absolutamente qualquer coisa para o ter do meu lado. Além de que a ideia de ter um jantar (romântico, para mim) como "compensação" pela "facada que eu levei" da maluca que ele contratou me atraía muito mais do que tomar chá de cadeira num hospital.

- Vou tomar um banho, limpar a ferida, fazer um curativo e depois estou totalmente livre para você. - Falei com um tom sedutor, olhando para seus olhos preocupados, torcendo para que ele notasse o duplo sentido no que eu falava.

- Pequena... Podemos pedir algo, se for melhor. Está doendo muito? A gente podia...

- Estou bem. Vou tomar banho. - Eu o interrompi, com a voz firme. Achava lindo ele se preocupando comigo, mas eu sentia uma vontade irracional de terminar o que ele havia me proibido de repetir.

Andei da sala até o quarto de Roberto. Entrei no banheiro dele, o ambiente impecável, limpo pela mulher que eu acabara de incriminar contrastando com a sujeira moral que sentia em meu peito. Tirei minhas roupas manchadas de sangue, a manga da blusa empapada, aderida à pele. Despi-me lentamente, sentindo cada pedaço de tecido deslizar pelo meu corpo até cair no chão, formando uma pequena pilha manchada de vermelho.

Olhei-me no espelho, o reflexo de uma mulher que mal reconhecia. Meu Deus, o que eu fiz? Esfaquear a mim mesma por um homem que nem sequer era nada meu? Meus valores, toda a ética médica que eu tanto estudei e defendi incansavelmente, tudo deturpado em um instante de loucura. Dediquei minha vida a salvar vidas, a preservar a saúde humana, e aqui estou, ferida por minha própria mão. O que aconteceu comigo? Onde está a Rafaela que jurou nunca fazer mal a ninguém? Ela sequer existiu um dia?

Uma aceitação começou a se infiltrar em meus pensamentos. Talvez, se tudo isso aconteceu, era porque estava destinado a acontecer. Talvez, minha vida estivesse entrelaçada com a de Roberto de uma forma que não podia mais fazer nada a respeito além de aceitar. E se essa era a verdade, então cada gota de sangue derramada, cada dor sofrida, era um pequeno sacrifício no altar do nosso amor. Eu precisava me render completamente a essa nova realidade, aceitar que meu destino era estar ao lado dele, não importa o custo. Se isso significava mutilar a mim mesma, destruir minha própria sanidade, então que assim fosse, iria fazer feliz.

Cada movimento que fiz, cada decisão tomada, tudo convergia para um único ponto: estar com Roberto. A minha mente girava em torno dele como um planeta em órbita, inescapável, irrevogável. A loucura, o desespero, tudo isso era parte de uma dança macabra que nos unia. O amor que sentia era um veneno doce que corria em minhas veias, corroendo lentamente minha racionalidade, mas doce ao paladar. A necessidade de estar com ele era tão visceral, tão arrebatadora, que nada mais importava.

Eu aceitaria qualquer dor, qualquer humilhação, se isso significasse um momento a mais ao lado dele. O mundo poderia desmoronar ao meu redor, e ainda assim, eu ficaria ali, firme, disposta a tudo. Não havia limite, não havia barreira que eu não atravessaria por ele. A cicatriz que se formaria em meu corpo, cada gota de sangue derramada era um testemunho do meu amor incondicional, uma prova da minha devoção eterna. Se isso era loucura, então eu abraçaria essa loucura com todas as forças, porque sem Roberto, nada fazia sentido.

Sob a Farda, o Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora