Pecado

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AVISO DE GATILHO
POV: Rafaela Valença

Acordei sem alarde. Meu corpo, envolto no lençol, se misturava ao corpo dele. Minha perna direita estava em cima das pernas dele, minha mão direita repousava em seu peito e eu estava deitada em seu ombro. Pude sentir sua mão do lado das minhas costas, sem encostar em mim diretamente. Desnuda, sentia frio em meus pés, mas meu tronco estava totalmente aquecido pelo corpo de Roberto.
Assimilando onde estava, comecei a perceber o que sentia fisicamente.
Na minha mente não existia nenhuma recordação de como eu havia entrado nessa situação.
Minha cabeça doía, minha garganta estava extremamente seca, arranhando, e eu sentia tanto frio agora que não pude deixar de me mexer procurando me tapar mais com o lençol, acordando ele.

Quando ele abriu os olhos, sorriu levemente.
Eu não sabia se devia ter medo dele ou não. Conheço Roberto, sei que ele é um bom homem e nunca, nunca faria nada para me machucar, mas estava tudo tão... nublado...

- Oi... - Eu falo baixinho, com a voz rouca, olhando para ele. 

- Oi, Rafa. - Ele fala colocando a sua mão sobre meu corpo, fazendo carinho. Devia ser crime deixar uma pessoa além de confusa, excitada. 

- O que aconteceu? 

- Hum... - Ele falou, desviando o olhar para o teto antes de continuar. - Do que você lembra?
- Eu lembro de sairmos para comer... 

Eu tentava puxar na memória uma ordem cronológica, algo que fizesse sentido, mas só conseguia lembrar de flashes...

- Sim...? - Ele respondeu, querendo que eu continuasse. 

- Daí fomos para uma festa...

- Aham... - Ele respondeu, me instigando.

- Lá a gente bebeu mais e -

- VOCÊ bebeu mais. - Ele me interrompeu, com a voz séria, me corrigindo.

- Que seja. - Falei com um tom de dispensa. - Daí eu dancei no meio de todo mundo...

Meu Deus do céu. Por um instante havia esquecido do que eu tinha feito. Felizmente eu não consigo me ver em terceira pessoa e na minha mente só consigo ver flashbacks de cadeiras e pessoas gritando, além de Roberto irritado.

- E depois saí de perto de você. - Continuei.

- Muito inteligente, aliás. - Ele me interrompeu com uma observação totalmente dispensável.

- Obrigada. - Continuei. - No outro andar eu acho que falei com um menino...

- Ah sim... - Ele falou com um tom sarcástico. - Continue...

- E tudo além disso é um borrão, se é que existiu algo... - Finalizei.

- Reunião de garotas no banheiro? - Ele perguntou como se estivesse fazendo um checklist mental.

- Não. - Respondi.

- Blitz? - Continuou.

- Blitz? - Perguntei, confusa. Não existia em nenhum canto da minha mente o caminho de volta para casa.

- Você me implorando para te comer? - O seu tom era inicialmente totalmente sério, algo que consegui corresponder sem problemas. Isso não era possível. Eu até poderia estar querendo isso, mas eu nunca, nunca me colocaria nessa situação. Eu não sou nem louca.
A expressão dele se apaziguou depois de alguns segundos, abrindo um sorriso enorme como quem dissesse "te peguei!". Ou ao menos era isso que eu queria acreditar.

- Eu sei que isso não aconteceu. - Falei, séria, sem mais rir.

- Só que aconteceu, sim. - Ele se virou para mim, totalmente. Estávamos nos olhando um no olho do outro.

Sob a Farda, o Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora