POV: Capitão Nascimento
Quarta-feira, Rio de Janeiro
13h.
Quando pisei na garagem do batalhão, onde a equipe Alfa estava quase completa em um círculo informal, Neto olhou para mim com os olhos arregalados, ficando em posição de sentido. Todos os outros fizeram a mesma coisa. Caminhei até eles e balancei a cabeça, os cumprimentando.
Neto caminha comigo, para dentro do corredor do batalhão. Mathias ficou junto do resto da equipe.
- Capitão, o senhor está bem?
- Eu bem, eu mal, o que isso muda, Neto? - Respondi rispidamente. Odeio perguntas óbvias. Claramente não estava bem.
Neto parou de me acompanhar, me deixando andar até minha sala sozinho. Na minha mesa estava todos os papéis de burocracia jogados, intocados. Sentei na cadeira, afundando.
O que caralhos eu iria fazer?
Faltei ao trabalho segunda-feira. Dormi, ou melhor, desmaiei até a noite e quando acordei, sentia tanta dor que não consegui fazer nada além de ficar imprestável na cama torcendo para que minha vida acabasse de uma forma menos dolorosa, mais rápida. Não conseguia pregar os olhos, toda vez que fechava os olhos, via ela.
Rafaela não saía da minha cabeça.
Terça-feira fui trabalhar virado, de ressaca ainda. Aguentar um dia inteiro de reuniões fúteis de oficiais falando um monte de bosta como se fossem resolver os problemas do Rio de Janeiro com uma incursão só me deixava pior do que eu já estava. Desde o sequestro da delegada foi levantado a pauta da segurança do cidadão comum, afinal, se uma delegada foi sequestrada, o que poderia acontecer com um pai de família que cruzou o caminho errado?
Eles demoraram muito tempo para perceber como o Rio de Janeiro tá realmente fodido.
O governador só quer saber de politicagem, cobra segurança mas não quer que ninguém mate os pobres trabalhadores que calharam por carregar um fuzil no dia de operação. O comandante geral da PM quer que nós sigamos ordens, sejamos submissos, mas reclama quando as estatísticas aumentam e nós não podemos agir.
Quarta feira, hoje, foi a mesma merda dos outros dias. Não consegui dormir, não conseguia parar de pensar naquela vagabunda que uma vez eu jurei amar. Ela sumiu da minha vida do nada depois de me fazer o homem mais feliz do mundo. Eu tinha que ficar deprimido, mas eu não fiquei. A minha missão era mais importante do que meus problemas pessoais.
Metendo a cara no meu trabalho novamente, abri o mapa estatístico no meu computador e comecei a traçar uma nova incursão. Houve vida antes dela, e haveria vida depois dela.
Hoje seria o dia de preparação, amanhã treinamento e Sexta, a operação. Teríamos tempo suficiente para pedir permissão para o comandante, faríamos tudo certo. Dessa vez, o monstro dentro de mim ficaria feliz, alimentado com sangue fresco.
Agora que eu tinha voltado, a paz dos vagabundos vai acabar. A farra dos milicianos também. Eu vou foder o sistema.
Olho o calendário e lembro da Rafaela de novo. Quinta-feira era o dia que eu tinha marcado de ir atrás dela.
Ela me inferniza até de longe. Ela acaba com a minha vida mesmo quando não tenta. Atrapalha todos os meus planos mesmo não fazendo propositalmente. Que inferno, eu ainda vou matar essa mulher.
Ouço uma batida na porta.
- Pode entrar. - Eu falo alto.
Ali entrava Mathias, imponente, parecendo o cristão mais bem comportado. Quem não o conhecia duvidaria que ele explode a cabeça dos menores sem pensar duas vezes.
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Sob a Farda, o Caos.
RomanceUma história onde Roberto Nascimento, capitão do BOPE, cruza o caminho de Rafaela, uma recém-formada em medicina que atua como psiquiatra no Hospital Central da Polícia Militar. | Dark Romance | Tropa de Elite | Capitão Nascimento | Psiquiatria | H...