Like any bad woman, I only like the beginnings of things.
- Eloisa Amezcua, "Notes", from "From The Inside Quietly".
POV: Rafaela Valença
Domingo
Sábado foi um evento por si só. Desde que eu acordei zonza, tonta, acuada, até quando eu senti ele dentro de mim pela primeira vez, pulsando. Lembrar de nós no escritório me dá frio na barriga, e uma vontade enorme de começar tudo de novo.
Depois do escritório tivemos um tempo mais romântico do que eu esperava na sala, como uma pausa não pronunciada, e depois fomos para o quarto dele, inaugurando sua cama. Cochilamos, sem perceber, e quando acordamos suados, pegajosos, voltamos a fazer o que fazíamos de melhor.
O seu corpo já era como um lar para mim. Eu sabia qual era o canto que eu mais gostava, o canto que mais me deixava e feliz e o canto que mais o satisfazia. De noite, para variar, não dormimos. Era como se tivéssemos uma pressa de nos tornarmos um só antes que um mal maior nos atingisse.
Não existe mal maior. Estamos no paraíso.
O dia já raiava quando ele conseguiu me convencer a tomar uma ducha e "sossegar" do lado dele, como ele mesmo disse. Esperava dormir até mais tarde e repetir o dia anterior, mas interrompendo meu sono NREM, frágil, o seu celular tocou e agora ele estava correndo casa afora, procurando sua farda que estava pra lavar.
- Rafa, o meu coturno?! - Ele gritava de algum canto da casa enquanto eu ficava na cama, largada.
O seu ímpeto de correr em direção ao seu amado batalhão sem nem sequer pestanejar enquanto eu dormia suavemente em seus braços me perturbava.
Quando eu me sentia insegura desse jeito era quando eu mais me envergonhava de mim mesma. De repente, eu era uma jovem adulta novamente, patinho feio da turma, esquisita, sem amigos normais. De repente, eu estava sozinha em meu quarto numa sexta feira a noite vendo story de meus colegas de sala todos juntos numa balada qualquer que eu não havia sido convidada.
É constrangedor quando essa carência ressurge em minha mente novamente depois de tanto tempo.
Tudo o que eu mais quero e peço é ter ele perto de mim. Tudo o que eu mais quero e peço é uma voz suave me despertando numa manhã preguiçosa, alguém para tomar café da manhã comigo enquanto o sol nasce ao horizonte.
Eu vivia bem sozinha até ser lembrada por ele como é a sensação de ser amada, então uma dor lancinante invade meu corpo como um vírus mortal e extremamente contagioso, e eu acabo me humilhando fazendo pedidos impossíveis.
Roberto estava na porta do quarto me olhando com seus olhos bem abertos, com pressa, querendo uma resposta rápida.
Me ajeito entre os lençóis que nos últimos tempos foi o único tecido que entrou em contato com meu corpo antes de responder algo que eu sabia que era arriscado de verbalizar.
- Você não pode ficar hoje comigo?
Ele revirou os olhos, voltando a correr ao redor da casa, se arrumando rápido, desajeitadamente.
"Você pode fingir que eu sou completamente normal e você me quer o suficiente para me escolher ao invés de ir correndo para o trabalho, só pelo dia de hoje?"
Eu estava fadada a sempre me jogar debaixo de infinitos ônibus por homens que se tivessem que escolher entre qualquer outra coisa e frear o veículo, escolheriam a primeira opção?
Eu realmente acreditei que tudo o que fizemos mudaria a situação. Realmente acreditei que estávamos progredindo, que ele me levaria a sério dessa vez.
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Sob a Farda, o Caos.
RomanceUma história onde Roberto Nascimento, capitão do BOPE, cruza o caminho de Rafaela, uma recém-formada em medicina que atua como psiquiatra no Hospital Central da Polícia Militar. | Dark Romance | Tropa de Elite | Capitão Nascimento | Psiquiatria | H...