Sob a Farda, o Caos.

Incriminada

Gênesis 3:1-24

"Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: "Foi isto mesmo que Deus disse: 'Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim'?"

Respondeu a mulher à serpente: "Pode­mos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: 'Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão' ".

Disse a serpente à mulher: "Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal".

Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e ­o deu a seu ma­rido, que comeu também.

Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobri­r-se."

POV: Rafaela Valença

Meus olhos se abriram como se eu visse o mundo pela primeira vez. Por debaixo da porta não entrava nenhuma luz que pudesse indicar que o sol já havia raiado. Parecia que de alguma forma o meu corpo havia já decidido o que eu iria fazer, o que era necessário ser feito no dia para talvez o homem que está destinado a ficar comigo finalmente visse a situação da forma que eu vejo, clara como cristal. Pego meu celular e vejo a hora: 04:04. Eu não sou uma pessoa que procura sinais em coisas triviais do dia a dia, mas sabia em meu íntimo que Deus estava me dizendo que aquele era o caminho correto. Me levanto, já tirando a minha touca de cetim e a deixando em cima do meu travesseiro. Logo ele não seria mais onde eu me deito toda noite, sendo substituído pelo peito dele.

Levanto e vou até o banheiro, me arrumando rapidamente, mas pulando alguns passos comuns a minha rotina. Eu não almejava mais a perfeição, e sim a polidez. Ele tinha que me ver como uma mulher, com alguns (poucos) defeitos, feita de carne e osso, perfeita para ele. Escolho um vestido preto e rodado, que tinha um corpete no busto, deixando meu corpo imperfeitamente perfeito.

Já pronta, agora era quase 05:00, e logo logo ele acordaria. Coloco a água para esquentar e preparo a prensa francesa. Ele não comia nada no café, então nem me dei o trabalho de arrumar a mesa com pratos e talheres além da xícara dele. Não coloquei a minha. Era tudo sobre ele.

Termino tudo e me sento a mesa, esperando-o. Olho meu celular, ansiosa para o que me esperava.

05:26

Depois de alguns minutos fantasiados de eternidade, o vejo saindo de seu quarto. Usava uma calça cargo larga cinza, a mesma camiseta do BOPE de sempre e seu coturno de guerra. Espero que ele tenha várias dessa camiseta, seria nojento usar a mesma roupa tantas vezes.

Ao me ver, seu rosto se acende, e ele dá um sorriso sincero, porém contido. Me pergunto se na mente dele o que aconteceu ontem também se repetia num looping eterno.

- Bom dia mocinha! Caiu da cama? - Sua voz, por mais que rouca, era amigável, doce. Seu rosto estava inchado, mas ainda conservava o mesmo charme que era capaz de amolecer o coração de qualquer mulher, talvez ele tivesse dormido mal. Talvez a falta de um sono regulado mexesse com o seu humor, o fazendo agir mais amigável do que eu esperava. Independente da justificativa que eu tentasse me dar, nada acalmava a confusão que ele causava em minha mente e coração. De qualquer forma, eu não ia ser idiota e deixar essa oportunidade passar. Sendo honesta, não sei nem se há força e resiliência suficiente dentro de mim para resistir a ele.

Dei um risinho adorável tentando florear algum tipo de emoção em seu coração.

- Quis fazer uma surpresa...