Nostalgia

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POV: Rafaela Valença

Eu, Gabriella e Pedro nos arrumamos para um lugar que nem sabíamos qual era. Acabamos com duas garrafas de vinho entre fazer escova no cabelo, maquiagem, escolher roupa... Pedro foi o que mais demorou para ficar pronto, paradoxalmente, ele tinha o menor cabelo do trio, e foi o que mais gastou tempo arrumando-o. Quando terminamos a segunda garrafa no banheiro da Gabi, nos maquiando, passando perfume, nos toques finais mesmo, Pedro interrompe nossa mesquinharia e cantoria desafinada e diz em voz alta:

- Eu já sei onde nós vamos hoje. - Ele estava totalmente certo do que falava, como se pudesse ver o futuro.

- E onde vai ser isso, amor? - Perguntei, carinhosamente. Quando eu bebo fico extremamente melosa, tanto com amigos quanto com interesses românticos.

- Vai ter uma festinha na casa de um amigo de um amigo meu. Eles estão comemorando algo do dono da casa, não entendi, não importa. - Ele falou dando ombros, voltando a passar o batom e esfumar com o dedo. Ele se maquia como idols de KPop, atores de doramas. Seu rosto com traços asiáticos combinam muito com o que quer que ele faça.

Gabriella, antes concentrada em terminar seu delineado fazendo a ponta mais afiada do mundo, agora se descolou do espelho e nos olhou através dele.

- E nós podemos entrar na festa de uma pessoa estranha, assim?

- Ai Gabi. - A respondi automaticamente. - A gente tá em Floripa. Se bobear nós mesmas conhecemos o dono da festa.

Gabriella ficou em silêncio, ignorando a minha aparente impaciência com sua pergunta, voltando a sua maquiagem.

- Meu amigo disse que tudo bem, a gente pode ir... - Pedro disse com seu tom doce de sempre.

- Ele sabe quem a gente é? - Perguntei enquanto procurava algum perfume de Gabriella que eu gostasse.

- Não sei, acho que sim.

- Ótimo. - Completou Gabi.

Nós três estávamos prontos. Quase isso.

Eu usava uma mini saia jeans preta, tão curta que eu não podia sentar de qualquer forma se não poderia expor mais do que queria. Coloquei um tube top vermelho fechado, que tinha detalhes de renda na pontinha. Com o busto exposto, decido colocar uma gargantilha que tinha como pingente uma cruz preta, cravejada, com uns pontinhos vermelhos. Em Setembro a temperatura em Florianópolis é sempre incerta, mas a vontade de ser gostosa era maior do que qualquer possível frio. Só por precaução pego uma jaqueta de couro preta da Gabi emprestada.

Pedro sempre foi estiloso. Hoje ele decidiu usar uma camiseta branca de botão, uma gravata preta, uma jaqueta mega oversized e uma baggy jeans escura. Ele era um ícone, sempre foi. No pé ele usava um tênis super bulky que deixava ele enorme. Se ele fosse hétero não tinha ninguém no mundo que impediria dele ser meu namorado.

Eu amo esse garoto. Platonicamente, claro.

Gabriella, sempre elegante, usava um vestido preto que delicadamente acentuava a sua cintura, mas não era acinturado propositalmente, de tecido liso, sem decote, que por si só seria sem graça, mas ela é boa demais para ser igual qualquer outra mulher. Seguindo a tendência que nós silenciosamente estabelecemos, ela usava uma jaqueta oversized de couro vermelha. Colocou uma bota também vermelha que chegava quase até os joelhos, da mesma cor da sua bolsa. Ela estava impecável, como sempre.

Mais um dia, me senti desarrumada perto deles.

- Gabi, você ainda tem aquela bolsa da Vivienne Westwood vermelha?

- Devo ter... Dá uma olhada no closet. Não levei pro Rio.

- Tá, e as jóias?

- Essas não tenho certeza mesmo, pode procurar lá.

Sob a Farda, o Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora