"Implorei a Deus por salvação, e Ele empurrou mais tormento ainda garganta abaixo, silenciando de uma vez todas minhas súplicas."
POV: Rafaela Valença
Segunda
Eu queria entender o que o Roberto pensa de mim.
Sim, era verdade. Meu pai sempre me deixou com o cartão dele para que eu pudesse suprir todas minhas necessidades sozinha, quando eu não tinha o apoio dele. Nem sempre foi pelo dinheiro, às vezes foi só pela presença. Incontáveis foram as vezes que eu ouvi um "pega o carro e vai, ué" quando tudo o que eu queria era a companhia dele num jantar qualquer. E o Roberto sabia disso.
Eu não conseguia ficar irritada, afinal, eu realmente aprendi a conviver com isso e comecei a descontar tudo em compras compulsivas, igualzinho minha mãe... Mas as vezes tudo o que eu queria era o Roberto presente, comigo.
Por que ele acha que dinheiro compra a minha felicidade?
Nunca comprou, nunca compraria. O caminho mais fácil para ela é ele.
E mesmo tendo passado pelo inferno nos últimos dias, eu não podia estar mais satisfeita. Eu passei as madrugadas ensaiando o que eu falaria, imaginando respostas e discussões que nunca aconteceram porque quando ele aparece, eu fraquejo. Chega a ser absurdo como longe dele eu sou cheia de mim, confiante, juro que consigo bater de frente, mas quando ele está comigo eu me sinto apenas uma criança, perdida e assustada, e choro.
Choro muito, copiosamente, soluçando toda vez.
É cansativo para mim, imagino que deva ser mais cansativo ainda para ele. Eu sei que preciso mudar, de verdade, mas não consigo ver um caminho para isso.
Eu me importo extremamente com tudo o que Roberto faz e deixa de fazer porque, quando eu aceitei me casar com ele, havia uma pontada de esperança que as coisas mudariam. Ele seria presente, amoroso, me colocaria como prioridade. Eu realmente acredito que eu consigo salvar ele dele mesmo, mas agora entendo que isso vai ser mais difícil do que eu imaginei. Ele não me respondia, então eu diminuí a quantidade de mensagens. Meus choros não sensibilizava-o, então eu transformei em raiva. Ser dona de casa não estava sendo o suficiente para o satisfazer, então eu devo trabalhar e ser mais independente, afinal.
Talvez seja isso que eu precise, realmente. Trabalhar, preencher meu tempo livre com algo além de autoflagelação, autodestruição e pensamentos compulsivos e obsessivos envolvendo Roberto.
O algoritmo do meu tiktok estava quebrado: vídeo atrás de vídeo de desgraça, incursões gravadas pela população de forma a tentar forçar uma narrativa de denúncia e homens que facilmente poderiam ser ele. Provavelmente não eram, mas poderiam ser, e isso era o suficiente para me deixar apreensiva.
Sinto que aos poucos estou me tornando mais fatalista: minha vida é essa. Ele está certo, eu escolhi isso. O que foi feito foi feito, então, a única coisa que é passível de mudança é o futuro, verdadeiramente.
Eu cansei de ser o mártir da minha história, eu só quero ser eu.
As almôndegas estavam prontas, junto do arroz, feijão e farofa caseira que eu fiz. Eu segui as receitas da internet com precisão, na medida do possível. A comida poderia estar até gostosa, mas era muito depressivo eu me sentar à mesa sozinha, novamente.
Doeria menos estar sendo traída, sendo posta em segundo lugar por outra pessoa estar assumindo o protagonismo da vida de Roberto, mas o fato dele priorizar o trabalho dele, algo não humano, é doloroso demais. Meu peito pesa, sinto um nó na garganta e honestamente só vou comer agora porque eu tive um trabalho imenso de cozinhar para ele hoje. Não venho sentindo fome, só tomo água e minhas roupas começaram a ficar mais largas do que o normal.
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Sob a Farda, o Caos.
RomanceUma história onde Roberto Nascimento, capitão do BOPE, cruza o caminho de Rafaela, uma recém-formada em medicina que atua como psiquiatra no Hospital Central da Polícia Militar. | Dark Romance | Tropa de Elite | Capitão Nascimento | Psiquiatria | H...