Teen Idle - Marina and the Diamonds

1.3K 96 47
                                    


POV: Rafaela Valença

"I've made a lot of mistakes in my life,

but if

every single one

had to happen to make sure I was

right here, 

right now, 

to meet you, 

then I forgive myself 

for them all."

K. Towne Jr.

Terça-feira

A casa da Gabi não parecia um lar para mim ainda, me causava estranheza como tudo aquilo que vivemos pela primeira vez. Ela morava em uma casa de um andar, num condomínio fechado, que foi dada de presente pelos seus pais quando ela disse que iria se mudar para o Rio de Janeiro. Obviamente, eles não ficaram felizes com a coincidência dela se mudar ao mesmo tempo que a melhor amiga dela, para o mesmo lugar, mas fizeram o possível para ela ter um reinício de vida confortável, uma vez que ela havia se comprometido a passar na prova de residência para atuar aqui, e assim ela fez. 

Sua casa, por mais que não tivesse diversos andares que nem as outras mansões do condomínio, era grande e espaçosa. Seu pai, que possuía algum tipo de deficiência física, escolheu essa casa para quando ele a fosse visitar, não se preocupasse com a sua locomoção. Lembro que no dia que fui para sua casa pela primeira vez e vi que além de ser uma mansão típica tinha um elevador, fiquei em choque. Eu conheci pessoas ricas desde criança, mas nunca havia ido em uma casa que tivesse elevador para ir de um andar ao outro. Enfim. A casa dela aqui no rio me lembrava um shopping. Grande em comprimento, larga e espaçosa. Um tom creme predominava a paleta de cores, deixando a casa com um aspecto de limpa e bem acabada. Havia poucos cômodos, sem luxos desnecessários, assim como a Gabi sempre foi, direta, objetiva e modesta. Ela dormia na suíte principal, que ficava no ponto mais ao norte da casa. Era um quarto grande, com uma cama king size, carpete no chão... Me lembrava muito os quartos americanos. Ela tinha, é claro, um closet enorme, recheado de roupas lindíssimas, organizado por cor e por ocasião. Ela se vestia primariamente com roupas que me lembrava mulheres de negócios, e sempre contrastava com meu estilo romântico. Seu banheiro, também dentro de seu enorme quarto, era um sonho. Tinha espelhos do chão até o teto, partes com led, e tinha um brilho que insistia em me lembrar o mundo que separava a gente. Ela nunca falaria isso, até por não haver necessidade, mas para a casa dela ser tão linda e organizada daquele jeito, tinha diversos funcionários trabalhando enquanto ela vivia a vida confortavelmente.

 Nunca me ocorreu, deve ser legal. A casa era linda, a cozinha era pouco vista uma vez que todas as refeições que Gabi fazia eram servidas diretamente na mesa, sem haver necessidade de sujar as próprias mãos cozinhando. A sala de jantar, grande e espaçosa, muito bem decorada, me fazia ter vontade de ordenar que cozinhassem banquetes à cada hora, só para poder me sentir um membro da realeza ali sentada na mesa posta. É claro que eu não faria isso. Estava ali fazia poucos dias e nem sequer tinha coragem para pedir um copo de água, mas, num mundo ideal, eu era uma prima distante do reinado de Gabriella III, que a visitava e era tão cheia de pompa quanto à titular da coroa. 

Gabi foi gentil o bastante para pedir para quem quer que fosse que arrumava a casa dela, deixar o meu quarto mais vazio possível para que eu pudesse decorar da forma que mais gostava. O apartamento em que morei até então era totalmente mobiliado, então não precisei gastar nada com móveis, apenas com decoração, e com isso eu tinha caixas e mais caixas de um monte de tralha que uma vez fez sentido para mim. Ali, naquele quarto sem cor porém tão nobre quanto um quarto do palácio de Versailles, desempacotei cada caixa que eu tinha, separando tapetes e painéis cujo não caberiam na decoração daquele ambiente das bonecas, pelúcias, flores artificiais (que eram realistas o suficieinte para mim) e tudo o que eu havia acumulado com o tempo. A Gabi sempre falou sobre como o meu apartamento lembrava ela de um quarto dos sonhos de uma menina qualquer, cheia de pelúcias, luminárias, bonecas (que não eram brinquedos, e sim itens de colecionador, vale lembrar) e coisas que crianças tanto almejavam. Acho que só em uma prateleira minha havia mais de 5.000 reais em Sylvanian Families. É inegável como eu tentava compulsivamente, inconscientemente ou não, recuperar fragmentos da minha infância que foi roubada de mim tão cedo.

Sob a Farda, o Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora