Ultraviolence - Lana del Rey (pt. 2)

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Toda vez que eu me vejo sozinha, independente do contexto, eu tenho me obrigado cada vez mais a ir contra o ímpeto de acreditar fielmente que eu estou totalmente abandonada por tudo e todos, que eu sou um ser humano inamável e eu não mereço nada além disso; solidão e abandono.

Eu sei que isso não é a verdade absoluta, mas quando você cresce observando e ouvindo validações sutis para esse tipo de pensamento, é muito difícil se desvencilhar da teia de pensamentos absurdos assim. Não há nada nesse mundo que eu possa fazer para mudar o meu passado, e eu tenho consciência disso, e com isso, devo me obrigar a ser uma pessoa boa, apesar das circunstâncias.

Eu já havia varrido a casa inteira, passado aspirador e agora eu passava um pano com uma mistura de água e produtos que eu achei cheirosos. Já que eu num lapso de consciência moral resolvi incriminar a mulher que faria isso, nada mais justo do que eu mesma fazer.

Como a casa havia ficado fechada, não havia muito o que limpar exatamente, e parecia que eu estava mais sendo uma maníaca por limpeza do que qualquer outra coisa.

O Roberto merecia, então eu continuei.

Troquei os lençóis e deixei a cama o mais arrumada possível, do jeito que uma camareira de hotel faria.

Já passava das 18h e eu não tinha terminado totalmente de limpar a casa mas estava muito cansada para continuar, por mais que tentasse. Minhas pernas já estavam formigando, além das minhas mãos já estarem todas enrugadas por causa do processo de absorção excessiva da água pelas minhas células da mão, que ficou em contato enquanto eu passava rapidamente um pano molhado pelos móveis da casa. Passar tanto tempo sozinha com meus pensamentos me fazia espiralar em volta de alguns desfechos caóticos de cada situação possível, fantasiosa ou não.

Roberto achava que merecia algum tipo de punição, mesmo sendo o homem mais perfeito do mundo inteiro para mim.

Alguma coisa deixou ele perturbado, e não foi só o fato dele ter me machucado. Provavelmente, agora mesmo ele estava machucando alguém por aí, por que me machucar era diferente de machucar eles? O que eles tinham que eu não tinha?

Era simplesmente impossível ignorar tudo o que vem acontecendo. A gente construiu algo tão megalomaníaco, em tão pouco tempo, que não dá simplesmente para voltar atrás. Eu não posso fingir que não quebrei umas 30 éticas médicas para estar com ele, hoje. Eu não posso e não consigo fingir que não amo ele desesperadamente, com cada fibra do meu ser,  e que ele não me ama assim de volta. Eu sei que ele ama, eu só não sei exatamente o quê aconteceu para ele estar tão perturbado.

Não aceito que uma besteira daquelas o fez ficar desse jeito. Ele era tão, mas tão mais forte que isso...

Independente do fato de eu ser uma molenga e claramente não ter o porte para ser uma tradwife, Roberto não merece menos que a excelência

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Independente do fato de eu ser uma molenga e claramente não ter o porte para ser uma tradwife, Roberto não merece menos que a excelência. Independente do fato de eu ser uma fraca que não consegue nem fazer uma janta decente para o próprio noivo, ele não merece ficar com fome.

Sob a Farda, o Caos.Onde histórias criam vida. Descubra agora