Sob a Farda, o Caos.

The Only Exception - Paramore

POV: Rafaela Valença

"If touching you makes me a sinner, then why do I feel like I just reached heaven the moment I traced my fingers along your skin?"

- poetrie (via wordsnquotes)

Quinta-feira, Florianópolis

Diante de mim, uma multidão dos quais eu não conseguia diferenciar os rostos. Olhando para baixo, vi que carregava um buquê com flores distintas, todas claras, e usava um vestido que arrastava no chão na medida certa para não o sujar, ao menos é isso que eu espero.

À minha frente, a cena parecia flutuar em uma névoa leve, como se o ar estivesse impregnado de uma magia suave que envolvia todos os presentes nessa aura romântica. As árvores, enfeitadas com cachos de flores brancas que pendiam formando um teto natural pareciam abraçar o ambiente, criando um arco etéreo por onde eu caminhava. Cada passo meu era silencioso, quase como se o chão coberto de pétalas abafasse qualquer som. Ao fundo havia um murmúrio de vozes ao meu redor, mas as palavras eram indistintas, como se fossem parte de uma melodia distante que eu não conseguia captar junto de uma música que eu tanto sonho em tocar no dia de meu casamento.

Roberto estava lá, à minha espera, no altar. Seu rosto, marcado por uma seriedade familiar, era a única coisa que eu conseguia ver com clareza. Ele estava vestido de forma impecável, o terno preto contrastando com a cor de sua pele, e seus olhos, aqueles mesmos olhos que tantas vezes me despiram de todas as minhas defesas, estavam fixos em mim, como se ele estivesse esperando por esse momento a vida inteira. Ele sorriu de leve, um sorriso que parecia quase tímido, mas que carregava toda a intensidade de quem ele realmente era.

Ao meu lado, as figuras indistintas dos convidados me cercavam, como se estivessem congeladas em um momento infinito de alegria e perfeição. Seus rostos eram borrões de felicidade, mas eu sentia o peso de seus olhares sobre mim, e isso me enchia de uma alegria tranquila, como se estivesse fazendo algo certo, algo belo, como se eu fosse destinada a isso. Meu coração batia forte, acelerado, e por um instante, eu me perguntei se Roberto podia ouvir também.

Finalmente, cheguei até ele, e quando nossos olhos se encontraram, tudo ao redor pareceu desaparecer. O tempo parou, e éramos apenas nós dois, suspensos em um momento perfeito. Ele estendeu a mão, e eu coloquei a minha sobre a dele, sentindo o calor de sua pele contra a minha. Era real. Tudo era real.

O sorriso de Roberto começou a desvanecer, e uma expressão de dor cruzou seu rosto. De sua têmpora começou a escorrer sangue e antes que eu pudesse compreender o que estava acontecendo, ouvi um estalo seco, um som que ecoou na clareira silenciosa. Roberto cambaleou, os olhos ainda fixos nos meus, e então, como em câmera lenta, ele caiu, o sangue escorrendo de uma ferida aberta em sua cabeça.

Um grito de horror ficou preso na minha garganta, e quando olhei para trás, vi a origem do caos. Homens encapuzados surgiram do meio das árvores, como sombras que se materializavam no mundo dos vivos. Eles carregavam fuzis, e sem hesitação, começaram a atirar, a metralhar a multidão de convidados. As pétalas brancas no chão se tingiram de vermelho, e os gritos que antes eram de felicidade se transformaram em gritos de desespero.

Eu queria correr, mas meus pés estavam presos ao chão. O buquê caiu das minhas mãos, agora trêmulas, e eu gritei, mas nenhum som saiu. Eu estava paralisada, impotente, vendo o amor da minha vida sendo levado de mim, e tudo o que eu conseguia fazer era assistir, horrorizada, enquanto o pesadelo consumia tudo ao meu redor.

De repente, meu corpo se sacudiu, e a escuridão me envolveu. Meus olhos se abriram, o coração disparado, e percebi que estava deitada na cama, o quarto de hotel ao meu redor. A respiração ofegante, eu toquei o lado vazio da cama onde Roberto deveria estar, mas tudo estava frio. A realidade ainda não havia retornado completamente, e eu fiquei ali, tentando me acalmar, tentando lembrar que aquilo tudo havia sido apenas um sonho terrível.