12- Lembranças

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Já adianto que dessa vez o meu atraso para o bar não foi ocasionado por mim, mas pela lerdeza que meu pai tem em pegar no sono. Antes de tomar as escondidas meu rumo pro Chechel, tive que esperar o bonito desmaiar na poltrona antiga ao som da TV que eu não posso desligar de jeito nenhum, senão ele acorda dizendo que a estava assistindo.

Quando cheguei na rua seis, caramelo, o cachorrinho que vive por lá, já estava a todo vapor entre as mesas de plástico amarelas em busca de uma boquinha do espetinho de alguém.

Assim como ele, eu procurava por quem sempre derruba as coisas no chão. Sério, Pietro é responsável por toda alimentação do peludo só com os pedaços de carne que ele deixa sem querer cair. E os pais dessa mão de alface ainda querem que ele trabalhe na mecânica. Faz o favor, né?!

Além de caramelo, facilmente todo os alunos do ensino médio também estava naquele bar. Inclusive o mais "amado" quarteto, sentados sempre na mesma configuração. As gêmeas uma do lado da outra com cara de tédio, Vitor enfiado no celular ao lado de Vincente Rio, que observava tudo com olhar vago por trás da íris verde.

O garoto assim que me viu, soltou um sorriso enorme, enquanto acenava para mim. Por trás dele, vi a cara de fúria de Tereza Menze. Pai eterno, é mais fácil ela me morder que o cachorro.

Agradeci aos céus por finalmente localizar Pietro, em uma mesa com uma boa distância da daquele povinho.

Mesmo de longe, percebi que estava tudo errado. Meu amigo conversava muito animado com um garoto desconhecido, dono de um cabelo black power maravilhoso. Já Melina, teclava sem parar no celular entre risos muito supeitos. E eu não via nem sinal de Mencia e Carola.

Preferi acreditar que elas também tivessem se atrasado. Mesmo que fosse difícil, afinal Carola vive fazendo reclamações sobre o quanto é chato ter que ficar me esperando para começar a partida de Kemps.

Fiquei até esperançosa de que poderia finalmente jogar algo na cara dela. Mas quando estava guardando minha bicicleta do outro lado da rua, fui surpreendida ao ver não só ela, mas também Mencia. As duas estavam meio escondidas entre os carros estacionados. Que estranho.

Carola conversava com Mencia apoiada em um Corolla que nem me recordo a cor, porque dane-se. O que raios importa é por que caralhos elas estavam conversando tão perto?! Por que essa radialistazinha passava a mão na camisa amassada de Mencia? Por que ela estava falando tão arrastado? Por que ela estava chegando cada vez mais e mais próximo? Por que... Meu Deus, eu não quero ver isso.

Aquela visão serviu como um balde de água fria. E para alegria da Eva Sades versão consciente, um pico de consciência me invadiu. Eu tinha que acabar com aquela história. Que sentimento horrível. E que raiva daquela cena. Nossa, tomara que aquele carro dispare o alarme. Que Carola cuspa enquanto fala. Que ela perca a voz.

De qualquer forma, não vou estar ali para ver. Estava indo embora para minha casa com muito sangue no olhos.

Eu vou dar finalmente fim a esse feitiço. Boa sorte, Mencia Épicus! Seu espaço na minha cabeça está com hora contada. Faça bom proveito de Carola. E vice-versa. Eu não me importo.

 Eu não me importo

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Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora