Sáfico | Cartas de Amor

21- Você sabe

Por que as pessoas entram nas nossas vidas para depois simplesmente agirem como se nunca tivessem antes estado? E sim, Mora Mor mais uma vez me decepcionou. A Youtuber simplesmente desativou o canal, sem se importar com nós, inscritos fanáticos e dependentes de uma dose semanal de serotonina. Então sim, esse é o motivo pelo meu mau humor crônico. E não o fato de eu e Mencia Épicus estarmos há dias já sem nos falarmos direito. Afinal, fui quem pedi por isso, certo?

— Bom dia, Gregorinha! — Seu Tadeu me cumprimentava sorridente da janela da banca.

— E aí, Seu Tadeu —  falei, enquanto parava a bicicleta. — Hoje eu que tenho uma coisa pra você.

— Para mim?

— Sim — assenti. — Para você.

—  O que é? — Ele tentava espiar o que eu segurava.

— Hum... — Eu batia o indicador nos lábios, compondo uma cara pensativa. — Não sei se você vai gostar de saber... Pensando bem acho melhor nem entregar.

— Para de graça, menina. Que que é?

— Olha, pode ser uma coisa muito boa ou muito triste.

— Então, fale logo. E acabe com essa angústia.

— Mas eu não sei se é triste ou bom. Você que vai ter que abrir.

— Então me dê logo.

— Mas Seu Tadeu, não é melhor evitar esse possível sofrimento?

— Que nada!

— Depois não diga que eu não avisei — adverti, entregando a última carta do correio do amor. A carta de Dona Maria para Seu Tadeu.

Os olhos dele saltaram quando viu o nome de quem tinha mandado.

— É verdade Eva, e se ela estiver dizendo de uma vez que não quer mesmo nada comigo. — Ele coçava a nuca. — Tome de volta, melhor eu não ler mesmo.

— Ah não, Seu Tadeu. Agora fui quem já mudei de ideia. Vai que ela tá se declarando pra você. Vai que é uma coisa boa... Eu não quero essa culpa não.

— Então você lê.

— Tá legal — aceitei, pegando de volta a carta. — Posso?

— Sem demora.

— Tá bom — assenti, abrindo cautelosamente a carta.

Tadeu, meu devorador de palavras.

— Eita, acho que é coisa boa — anunciei.

— Pois continue.

Parece-me escapar todo o Português quando você chega. Desaprendo a falar o idioma que sei desde que nasci para falar um que só me foi ensinado agora que já vivida. E é nele que você sabe bem todas as palavras. Se for contigo, quero aprender mais sobre ele. Quero aprender sobre o amor.

— Meu Deus, eu sabia! — exclamei. — Eu quero ser daminha de casamento, viu? E outra, se você magoar ela , vai se ver comigo. Já deixo avisado.

Seu Tadeu parecia tão extasiado que mal sabia o que dizer. Eu realmente estava feliz por ele. Mas bem no fundo, a tristeza de a última carta não ser para Neusa Santiago ainda estava lá. Pois é, mais um dos meus últimos muitos fracassos. Cecília Sartre não participou do Correio do Amor.

— Você tem a certeza de que foi mesmo Maria quem mandou? — Ele perguntou desconfiado.

— É claro, ela entregou para mim.

— Não estás de brincadeira comigo, certo?

— Deixe de insegurança, Seu Tadeu.

— Tá certo. — Ela dava um sorriso tão grande que mal cabia no rosto.