25- Aviso: nunca esqueça de fechar suas abas de pesquisa

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Tentei descobrir pelo olho mágico quem estava do outro lado, mas a única coisa que eu conseguia enxergar era a minha rua parcialmente iluminada pela luz que irradiava dos postes.

Meu pai, agora imerso na batalha contra o monstro de vasilhas sujas que tínhamos criado, nem fez questão de saber quem veio tocar nossa campainha.

Ainda bem, porque a visão que me deparei, assim que abri a porta, fez meu coração pesar no mesmo instante.

Melina, sentada no meio fio, tinha o nariz e os olhos vermelhos de choro.

— Seus pais? — perguntei, sentando ao lado dela.

Ela assentiu, secando com o dorso da mão o canto dos olhos.

— Eu sei que a gente tá esquisita — A voz dela soava embargada. — Mas...

— A gente é esquisita.

— É. — Ela ria, entre uma fungada e outra.

— Vamos entrar. — Eu passei o braço pelo ombro dela.

Assim que cruzamos a sala, meu pai espiou a gente por um tempinho atrás do balcão.

— Melzinha — cumprimentou ele. — Está tudo bem? — indagou, com as mãos ainda na pia.

— Sim — respondi. — Ela vai dormir aqui, porque amanhã você vai nos levar para a escola.

— Mas isso é uma covardia mesmo contra o seu pai. Além de me fazer ficar um final de semana longe de você, me obriga a te levar para pegar esse ônibus às seis da manhã. — Ele reclamava, ensaboando as louças. — E ainda para Vorace. Pai Amado, como eu concordei com isso?

— Pois é, né. Vorace. A cidade onde tudo acontece. — Eu falava no mesmo tom em que contaria uma história de terror.

Meu pai virou para mim com os olhos assustados e as mãos completamente sujas de sambão.

— Meu Deus, você sempre cai. — Eu ria, e Melina também. — É só uma viagem de escola, se acalme. A gente tá falando de uma cidade do interior e não de São Paulo.

— É Gregório — Melina me apoiava. — Pode deixar que eu também vou ficar de olho na Eva.

— Tá bom. — Ele respirou, aliviado. — Mas... Mel, por que você precisa ficar de olho nela? Eva está aprontando alguma coisa, né? Meu Deus, eu estava mesmo sentindo.

Eu e ela nos olhamos entre risadinhas muito suspeitas, apenas porque é a coisa mais engraçada do mundo o quanto o rosto dele fica parecendo um pimentão nesses momentos.

— Essas meninas! — exclamou, enquanto eu e Melina corríamos para o meu quarto.

Ela jogou a mochila no chão, antes de se afundar na minha cama.

— Meu Deus, que saudades que eu estava desse colchão.

— Pelo visto só disso, né.

Ela segurava o Yorkshire de pelúcia, que me deu no meu primeiro aniversário em Vicência.

— Deixa de ser boba. Eu também estava morrendo de saudades de você — Ela falava sem mover os lábios, como se a voz saísse da pelúcia.

— Você não cresce mesmo. — Eu arremessei uma almofada nela.

— Ei! — Ela jogou outra de volta.

— Eu também estava com saudades de você — confessei, me deitando ao lado dela. Nossos olhos miravam os adesivos de estrelas que colamos no teto quando crianças.

— Meu Deus, Eva Sades toda sentimental. Quem diria, hein. — Ela tinha um sorriso no rosto, que logo se desfez.

— Mel, você quer conversar sobre os seus pais?

Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora