18- Nós vamos buscar aquela carta

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Por mais estranho que possa parecer, eu me identifico com Vicência. De verdade, se eu fosse uma cidade, eu definitivamente seria ela.

Vicência é aquela típica cidade brasileira, em que você sempre sabe o que esperar. Os dias correm do mesmo jeito, as pessoas se vestem do mesmo modo e as coisas sempre mornas. Não é ruim. Só monótono. E bem sem graça.

Nada acontecia em Vicência até que tudo aconteceu. Para ela, a grande reviravolta foi o Épicus, o parque de diversões e agora nosso correio do amor. Já para mim, foi o conjunto disso, acompanho a grande cereja do bolo - Mencia Épicus.

Mencia Épicus é a grande responsável pelos meus loucos quereres, minhas atitudes inconsequentes e meus emails desesperados para o FAQ amoroso da Mora Mor.

Mas apesar de eu achar essa trapezista tudo e mais um pouco, não é somente a existência dela que mexeu comigo. É a prova de que eu posso sentir.

Eu sempre pensei que tivesse algo de errado em mim. E em como meu coração nunca acelerava com os filmes de romance que Melina era fanática ou naquelas boybands que ela e Pietro eram obcecados.

Sério, já tivemos brigas ridículas por eu real não aceitar que os integrantes são bonitos da forma que eles diziam. E também por eu não ter achado que o garoto da barraca de churros beija bem, mesmo que nossa super expert em beijos, vulgo minha melhor amiga, insistisse que as habilidades dele estavam mais que aprovadas.

Acho que eu sempre me importei muito com as coisas que Melina dizia, já que ano passado eu fui sem muitas constatações nos encontros com meninos que ela arranjava pra mim. Que arrisco dizer que são todos meio afim dela e que ela jogou não só para friendzone, mas também para a melhor amiga.

Obrigada Melina, pela coleção de dates mal sucedidos. Ok, foram só dois. Mas mesmo assim. Agora eu tenho que evitar ir na barraquinha de churros, porque o menino que eu fugi depois do encontro trabalha lá. Pois é, um porre. Eu amo churros.

E o pior de tudo é que o encontro não foi de todo mal. Ele tinha um gatinho muito fofo. Acho que isso conta como um bônus.

As coisas podiam ter sido bem piores. E eu já estava habituada com isso. Com a mornes de tudo.

A gente só se dá conta que pode queimar, quando começa a realmente queimar.

E Senhor, Mencia Épicus martelando de regata é o inferno inteiro. E preciso dizer que minha mãe foi bem certeira na escolha do meu nome. Porque se Mencia fosse minha maçã, eu também não resistiria a essa tentação. Eu nem hesitaria em tê-la na minha boca.

— Nossa amiga, deixa eu limpar essa baba aqui. — Pietro passava a mão no canto dos meus lábios, fingindo secar algo.

— Não enche. — Dei uma cotovelada no braço dele com a mão que eu usava para cortar os corações. — Eu só estava checando se ela estava fazendo um bom trabalho — menti.

— Sei... — Pietro arqueou a sobrancelha. — Sabe quem não está fazendo um bom trabalho? Você. — Ele tinha uma mão na cintura, enquanto exibia com a outra os meus corações tortos.

— Senhor, isso tá péssimo mesmo — bufei. — Melina é tão melhor nessas coisas. Porque ela tinha que ficar nos cartazes?

— Você quer mesmo que eu responda?

— Não precisa, — falei, amassando as rebarbas dos papéis — eu já sei.

Mesmo que Melina tenha dado uma trégua para me apoiar na ideia do correio do amor, eu sei que ela estava me evitando desde a nossa briga. E Meu Deus, eu já não aguentava mais. Eu odeio saber que tem alguém que não está bem comigo, ainda mais minha melhor amiga.

Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora