14- O motivo

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Oii gente. Estou liberando além do capítulo novo, mais esse em comemoração aos 1K se votos!!! Muito obrigada gente.

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Olha, estou começando a achar que não foi só um feitiço que lançaram em mim, mas também uma praga. Porque não é possível. Logo eu, a pior pessoa da face da Terra em lidar com situações inesperadas, me encontrava na cadeira da sala do diretor. Enquanto a versão masculina de Carola, sentada do outro lado da mesa de madeira clara, me lançava o olhar mais analítico existente

— Eva Sades, — disse o homem, enquanto folheava a ficha com meu nome — você entende a seriedade da situação que te trouxe aqui?

Ai gente, não é pra tanto. Situação séria mesmo é a moldura horrenda pregada na parede de Carola do lado de um menininho de fios escuros.

— Entendo — menti.

— Que bom, porque nós não estamos falando de uma só prova que você fez para um de seus amigos. Mas de sucessivas avaliações ao decorrer do ensino médio. Algum deles está quase se formando a partir de uma grande trapaça, que se seguiu por anos.

Tá bom, realmente as coisas complicaram bastante.

— Neusa viu você dizer que fazia as provas de um deles, mas não ficou claro para qual. Eva, precisamos que você seja muito honesta. Para quem foi?

Para os dois.

— Para ninguém, ela deve ter entendido errado.

Que defesa ótima, Eva Sades. Meus parabéns! Já pensou em ser advogada?

— Vamos poupar nosso tempo. — O diretor fazia uma cara tão cínica, que era impossível não lembrar de Carola. — A professora disse que o nome de Pietro na última prova estava rasurado. Você fez as provas para ele, correto?

NÃO! Meu Deus. Para começar, a verdadeira razão pela qual eu tinha feito a primeira prova pra Melina e Pietro não foi pela barganha da câmera kodak, mas porque Pietro realmente tem problemas com matemática. Acho que ele sofre de discalculia ou algo do tipo. Ele se esforça muito, mas a dificuldade é tremenda, e com a família que ele tem, que acredita que acompanhamento psicológico é coisa de maluco, não tem muito o que fazer.

É tão triste, eles tem uma cabeça absurdamente retrógrada. Não conseguem nem enxergar o potencial que o filho deles possui.

Pietro quer ser ator, ele ama tudo que envolva teatro e produções cinematográficas, e é extremamente talentoso em tudo que propõe a fazer. Sem dúvidas a pessoa mais criativa e cheia de vida que já conheci, mas a família não vê a hora de enfiá-lo no caixa daquela mecânica. Pois é, no lugar menos Pietro de todos.

E mesmo que ele seja realmente inteligente e esforçado, o problema com a Matemática o prejudica muito na escola. Por isso faço as provas para ele. Tem coisas na vida que não dá para serem resolvidas da maneira mais correta, e para isso a gente dá um jeitinho. E estava até dando certo, antes de eu explodir com Melina e colocar tudo a perder.

Melina tem plena condições de ir bem em uma prova. Mas como sempre, se ela tem a oportunidade de se escorar em mim, para que se esforçar?

Tá, não é bem assim. Melina é uma boa pessoa e uma ótima amiga. Eu só estou com raiva de muitas coisas, e acabei descontando nela. Eu sei que ela tinha me confrontado no corredor, porque estava preocupada comigo. Juro, ela me ligou mais de cem vezes no final de semana. Até apareceu na minha casa no domingo, fazendo companhia pro meu pai, enquanto eu fingia dormir por não querer falar com ninguém. Eu não iria entregar nenhum dos dois.

— Não, não está correto — respondi a pergunta do diretor, que me encara com o mesmo olhar fatal da filha. Genética não falha, né? — Neusa entendeu errado, a única prova que eu fiz foi a minha. Quer dizer, nem isso.

— Eva, vou falar exatamente o que eu disse aos seus amigos. Eu não tenho a menor dúvida quanto ao que Neusa escutou, a única coisa que estou te perguntando é para quem você fazia as provas.

— Para ninguém, eu já falei.

O diretor digitou impaciente algo no notebook, e então o fechou.

— Eu já passei a manhã toda nisso — disse ele. — Não acho que vamos chegar a nenhum lugar por agora. Vou te dar até amanhã para você voltar com um nome. Caso contrário, irei contatar os pais dos três. Então por favor, seja muito inteligente com a sua decisão.

Ele mal acabou de falar, e o sinal tocou. Eu não via a hora de meter o pé daquela escola. Por isso, nem hesitei em sair correndo em direção ao bicicletário, onde Mencia me aguardava já impaciente ao lado da minha bicicleta.

— O que aconteceu?!  — Ela tinha um semblante preocupado. — Me falaram que você foi chamada na direção — completou, quando foi subir na garupa da minha bike.

— CALMA! — Meu Deus. Não era pra ter saído tão alto. — Você pode pedalar hoje? — perguntei, arrastando o pé no chão por puro nervosismo dela descobrir o motivo pelo qual eu estava pedindo isso.

— Tá bom, mas... Sades, você tá bem?

— Tô — respondi de imediato, enquanto sentava na garupa, envolvendo os braços na cintura dela.

Tá bom, foi esse o motivo. Sabe, depois de ver Carola a agarrando, me ocorreu a curiosidade em saber como era sentir Mencia Épicus tão de perto. E eu juro, posso criticar várias coisas sobre Carola, mas não quanto ao seu gosto. Porque Mencia era mesmo surreal. Aquela trapezista tinha o cheiro mais inebriante que já existiu. Que uniforme cheiroso, que pescoço cheiroso, que garota cheirosa. Meu senhor.

Acho que a única razão que me fez não cair daquela garupa, foi o fato do meu corpo pedir cada vez mais por Mencia. A ponto de talvez eu estar apertando demais a sua cintura. Em uma proximidade que não era necessária. Mas era, porque era Mencia Épicus nos meus braços.

A nuca dela era ainda mais bonita de perto. A nuance do corte dos pelos em degradê, os fios que estavam começando a nascer um pouco abaixo do lugar "certo", os sinais perdidos na pele.

Tudo isso era tão convidativo, a ponto de eu pensar em arriscar chegar mais próximo. Mas bem nessa hora, Mencia virou parcialmente a cabeça para trás, soltando a mão direita do guidão.

Ela me encarava com o olhar que só ela tinha. O danado do olhar menciano me fitava por muitos mais segundos do que eu conseguiria pedalar qualquer bicicleta com apenas uma mão. Os seus lábios grossos e entreabertos foram se fechando, tendendo para o lado direito, que se transformou em um sorriso depravado. E então, Mencia virou o rosto para frente soltando uma grande gargalhada.

Eu nem queria ver a cara que ela devia estar fazendo, porque eu já estava queimando de tanta vergonha. Ela sabia, e eu sabia que ela sabia. Que droga. Agora Mencia Épicus sabe o motivo pelo qual eu tinha pedido pra ela pedalar a bicicleta.

 Agora Mencia Épicus sabe o motivo pelo qual eu tinha pedido pra ela pedalar a bicicleta

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Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora