23- Feliz dia da visibilidade lésbica!

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Eu encarava do batente da porta, Mencia ajoelhada na altura do Mathias, segurando dois lápis de diferentes cores. Devia estar contando a coisa mais fascinante sobre eles, porque o garoto fazia uma cara impressionada.

Parecia que toda aquela sala estava envolta por um pó mágico. E por isso nada de ruim poderia acontecer a aquele mundo fantástico, repleto de fadinhas que rodeiam as crianças cheias de ingenuidade e sonhos. Mas no mundo real as coisas acontecem. Porque elas, mais do que ninguém, estavam lutando pela vida.

E eu conheci bem alguém que lutou muito por ela. Mas eu nunca tinha falado sobre isso com Mencia. Então, por que caralhos Mencia Épicus disse que eu agia como se a morte da minha mãe me pertencesse. Eu fiquei tão atordoada com tudo, com essa sede de descobrir as coisas, de entender de uma vez por todas, que estou me perdendo em tudo. Em tudo mesmo.

Sem dúvidas Mencia sabe algo, mas não pode ser ela quem vai me preencher com as coisas que faltam, porque eu não posso arriscar isso. Eu não posso arriscar descobrir que Mencia realmente soubesse tanto, porque isso seria demais para mim. Eu prefiro uma versão mais bonita da nossa história. A de que o Épicus é apenas o circo da garota dos olhos negros.

Eu não quero descobrir mais nada. Eu não quero uma verdade, se ela custe eu e Mencia.

E foi esse medo de a perder, que me fez ir embora. Eu sei, é burrice. Mas é isso que o medo faz com a gente.

O desespero realmente te leva a lugares inimagináveis

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O desespero realmente te leva a lugares inimagináveis. A gente sempre acha saber para quem vamos correr quando uma confusão te atravessa o peito, mas isso não é verdade. Não pode ser. Porque eu nunca imaginei que o lugar que eu procuraria refúgio, seria na casa verde-limão.

Neusa sentada na poltrona ao meu lado, tinha sobre o colo a mesma almofada de crochê de quando me recebeu pela primeira vez. Seu olhar era brando, mas curioso. Sua mão levava a xícara de café a boca, degustando não apenas ele, mas todas minhas movimentações tensas.

— É... — Eu tentava pensar em qualquer coisa. — Como andam as aulas com o Pietro? Ele me contou que está conseguindo aprender bastante, mas eu queria saber de você. Se você acha que ele consegue se formar esse ano.

— Ah... — Ela franzia o cenho. — O Pietro... Ele está tendo um ótimo avanço. Se continuar assim, vai conseguir sim. Estou torcendo muito por ele.

— Eu também.

— É, isso é muito bom.

— Muito.

— Maravilha...

— É, maravilha.

Neusa colocou a xícara sobre o móvel, sem desviar o olhar preocupado sobre mim.

— Nossa, a gente também está lendo esse livro no clube de leituras — ponderei, assim que li a capa da obra agora ao lado da xícara.

— Ah, Capitães da Areia... Excelente história.

Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora