19- Operação Carta - Parte 2

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Meu olhar percorria cada milímetro daquele quarto de 20 metros quadrados, buscando por qualquer coisa que pudesse esconder Mencia. Mas absolutamente nada me vinha à cabeça. Fudeu, fudeu, fudeu!

— Corram, meninas. — Cecília dizia. — Só corram.

Segurei ainda mais firme a mão de Mencia, enquanto a puxava para fora do quarto. A gargalhada de Cecília Sartre fazia-se audível mesmo fora dele.

Olhei para os dois lados do corredor, tentando bolar algo. Já sei! Sala de Filmes. Ela consegue ser acessada pelos dois andares da casa. Era só descer a escada que levava até ela, e estaríamos no primeiro andar, perto da recepção, e então com Mencia bem longe do lar de idosos e minha cabeça das mãos de Fabrícia Menze.

Enquanto ouvíamos os passos dela a levando para o segundo, os nossos, na outra escada, nos levava para baixo.

A sala onde passavam os filmes parecia um cinema. Investiram uma grana na iluminação e no isolamento de som, além do recurso voltado aos assentos em baixo do projetor de alta tecnologia, que no momento exibia um filme de comédia.

Assim que tiramos os pés do último degrau da escada, me joguei no chão, levando Mencia junto. Ela parecia estar achando tudo muito engraçado, enquanto eu me sentia basicamente fugindo da polícia, me arrastando atrás das poltronas em direção a saída.

Quando atingimos o batente da porta, levantei meu corpo atrás das cadeiras postas na horizontal, espiando por cima do Virgílio se quem estava nas das laterais nos veria saindo de lá. Felizmente todos pareciam bem vidrados em "Os Saltimbancos Trapalhões".

Aproveitando então a deixa, abri vagarosamente a porta, me certificando que não havia ninguém no corredor. Mas como sempre, o universo tinha que bolar um complô contra mim.

O barulho irritante do sininho da recepção sendo fervorosamente apertado já seria o bastante para me tirar dos nervos, mas a voz que se sucedeu foi a grande responsável por isso. "Meu Deus, não tem ninguém trabalhando nesse lugar?", Tereza Menze reclamava, levando toda minha paciência e meu plano de fuga.

— E agora, para onde vamos? — perguntou Mencia, examinando o corredor cheio de salas.

— Pelos fundos — anunciei, enquanto segurava o pulso dela

— Mas Eva...

Acho que nessas horas de nervosismo o meu cérebro simplesmente ativa o modo sobrevivência. E bom, quando recobrei o painel de controle, ele já tinha tomado por mim todas as seguintes ações: virado a maçaneta da primeira sala à nossa frente, arrastado Mencia para dentro dela e caído em cima da trapezista e de uma pilha de caixas. Me deixando, assim, com a seguinte sitação para lidar: minhas pernas entre as delas, nossos corpos contra o outro e os passos de Fabrícia no corredor que tínhamos por muito pouco acabado de escapar. Tá vendo, péssimo cenário. Maldito, cérebro!

Eu me sentia na iminência de um incêndio. Porque, cara, os olhos que encontrei quando ergui minha cabeça do ombro de Mencia eram capazes de engolir qualquer um. E aquela boca, sempre pronta para emoldurar a cara cínica, parecia ainda mais atrativa.

Aquele depósito emanava vontade. E nossa... eu nunca imaginei que poderia sentir tanta vontade de provar alguém. Mas vontade não sacia sozinha, você precisa fazer algo com ela. Você precisa ter coragem para riscar o fósforo e se deixar incendiar. E eu disse, eu não sou nada corajosa.

— Desculpa... — balbuciei atordoada, enquanto saía de cima de Mencia.

Meu Deus, como eu posso ser assim?

— Uau, isso foi bem intenso — Ela também se levantava. — Quero dizer, toda essa fuga foi bem intensa, e não o fato de você parecer ir me beijar a meio segundo atrás, mas não ter feito isso — disse ela rindo.

Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora