26 - Nunca confie em uma lésbica de exatas

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Eu queria que a vida viesse com um manual para garotas sáficas, em específico um que te ajude com o fato de que a garota que você gosta e da qual você não consegue conversar sobre nenhum dos seus sentimentos sinceros, porque nunca te ensinaram que essas coisas devem ser verbalizados, pode saber muito mais sobre a sua mãe do que você poderia imaginar, e agora você não sabe o que fazer, porque beijar ela foi a melhor coisa que você já fez, mas isso obviamente não resolveu nenhum dos seus problemas de comunicação, já que você estava usando sua boca para fazer algo que não era se comunicar.

E sim, eu tentei vasculhar todo o canal da Mora Mor em busca daquele vídeo "Comunicadora nata e gata". Mas depois de sumir, agora ela simplesmente desativou o canal. O que vem me deixando bem preocupada, dentre muitas outras preocupações que estão me rodeando.

Eu queria que o momento daquele beijo, dissolvedor de todas minhas incertezas, perdurasse para sempre. Mas o amor não é um band aid coloridinho para tapar os arranhões.

Então, por mais que eu tenha me distraído de tudo isso com... Bem, você sabe. Olhar para Mencia sempre me provoca infindas sensações, porque há algo na forma que ela me olha, me toca, me sente.

E tentar esconder as coisas de quem é capaz de te despir com o olhar, é no mínimo ingênuo.

E agora eu não sei bem o que fazer, porque eu disse, não existe a droga de uma Manual para garotas que se gostam.

Ufa. Eu não tenho o Manual, mas tenho um santo salvador. Eu vi por uma das janelas que Pietro havia chegado no estacionamento. Ele cruzou os olhos com os meus de fora do vidro, e pareceu ter entendido tudo no mesmo instante.

Pietro falava algo incompreensível, enquanto apontava para Mencia.

Será que ele está dizendo para eu me sentar ao lado dela?

Por que ele está se abanando assim? Ai Meu Deus, ele parece nervoso. Acho que não é para eu me sentar com ela.

— Nossa Eva, você tá com algum problema para andar? — Vitor atrás de Melina reclamou.

Melina virou de costas para mim, sussurrando algo para ele que eu não consegui entender.

— Vocês vão ficar de cochicho ou vão andar? — Tereza Menze impaciente, empurrava eles.

— Calma gente. — Vincente atrás de todo mundo pedia.

— O que está acontecendo? — O diretor gritou de fora do ônibus.

— E olha que a viagem nem começou — A professora de mechas loiras, sentada ao lado de Neusa, comentou com ela, fazendo as duas rirem.

— Licencinha. — pedia Pietro, se espremendo entre as pessoas e muitas reclamações. — Licencinha — Falou mais firme, quando passou por Tereza, que deu espaço já arfando. Finalmente! — exclamou, quando parou atrás de mim. — Foi mal gente, ela estava me esperando.

E uma sucessão de queixas e risadas ecoou atrás de gente.

— Agora dá pra ir logo? — Ana Menze falava, segurando a malinha de rodinhas.

— Não banque a esquisita — Pietro sussurrou. — É claro que você tem que ir se sentar com ela — Ele me dava um empurrãozinho.

Mencia tinha a caneta presa entre os dentes, enquanto encarava um papel em suas mãos, totalmente alheia a toda a cena.

— Ei — disse, me sentando ao lado dela.

Ela dobrou uma folha, antes de levantar os olhos para mim.

— Nossa, achei que você fosse ficar parada lá a vida toda — comentou, me analisando. Em um sorriso prepotente, que sempre me faz duvidar se ela não consegue ler pensamentos.

Sáfico | Cartas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora