O uniforme inteiro do Real Madrid

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A lasanha havia acabado de sair do forno quando Jude chegou. Trazia consigo um pote de sorvete, que largou em cima da mesa pra ir cumprimentar Schördringer, o componente mais importante da casa, na opinião dele.

- Isso está cheirando bem demais. - Elogiou. - Trouxe sorvete porque você disse que teria bolo.

- Combinação perfeita. - Agradeci. - Estão com fome?

- Não muita. - Haaland maneou a cabeça.

- Vocês não querem dar um mergulho, não? - Jude encarou a vista do nosso terraço. - Está quente pra caramba.

- Gostei da ideia. - Me animei. - Jantamos mais tarde.

A verdade é que eu estava completamente ansiosa para a surpresa que faríamos durante a sobremesa. Jude tem sido um alicerce, principalmente para mim, estando presente do momento em que descobri sobre a gravidez e cada minuto desde então. Nós éramos duas pessoas sozinhas e ficamos muito amigos em pouquíssimo tempo, jamais imaginei que seria tão próxima de Jude Bellingham quando Haaland nos apresentou na cerimônia da bola de ouro.

Haaland emprestou uma bermuda de banho pra ele e eu fui vestir um biquíni enquanto eles tentavam colocar Schördringer pra dentro de casa, porque o gato havia fugido quando abriram a porta de vidro do terraço.

- Ele gosta da areia, cara. - Erling estava explicando pra Jude enquanto carregava o gato na mão.

- E te faz de besta sempre que pode. - Falei.

- Nossa, sua barriga deu uma crescida. - Jude observou. - A Ellie tá ficando redondinha.

- Cada dia mais linda. - Haaland me observou.

Preciso falar sobre o modo que ele passou a me observar depois da gravidez. Já o surpreendi parado no tempo inúmeras vezes, apenas me observando enquanto eu fazia coisas absurdamente comuns. Não sei o que se passa em sua mente, mas me sinto a pessoa mais amada do mundo quando ele me olha desse jeito, com o olhar que apareceu com a gravidez e parece se tornar mais intenso a medida em que minha barriga cresce.

- Ele já mexe? - Jude perguntou.

- Ainda é muito pequeno. - Neguei. - Acho que em breve.

- Tenho a impressão de que estou mais ansioso do que você. - Ele riu.

- Ela é a pessoa mais tranquila aqui. - Haaland disse. - As vezes esquece que está grávida.

- Com os enjoos que senti, impossível esquecer. - Saí para o terraço junto com eles, sentindo a brisa e o cheiro de maresia.

- Vocês tem muita sorte de morar aqui. - Jude respirou fundo. - Olha esse mar.

- Tem muitos condomínios beira mar por aqui. - Haaland retrucou. - Você que é menino de apartamento.

- Nem vem com essa. - O outro riu. - Você só veio morar aqui porque escolheu a casa pensando na Ellie.

- É verdade. - O loiro riu. - Mas não me arrependo, esse lugar tira todo o estresse em quinze minutos sentado aqui no terraço.

- Você vai vir morar aqui também. - Falei. - Vamos conseguir arranjar uma casa, nem que eu tenha que ameaçar um vizinho.

- Você bota medo com muita facilidade. - Ele ponderou.

Nós entramos no mar e a água estava em uma temperatura maravilhosa, passamos um tempo por lá, enquanto eu nadava calmamente, os dois brutamontes tentavam afogar um ao outro. Quando eles se cansaram, voltamos para casa e fomos tomar banho enquanto a lasanha esquentava novamente.

- Põe comida pra o Schördringer, amor. - Pedi quando o gato ficou miando nos meus pés. - Ele acha que tem que comer sempre que nós comemos.

- Ele é esfomeado. - O loiro resmungou. - Parece que matamos ele de fome.

- Pisca duas vezes se quiser que eu te leve comigo, meia-noite. - Jude falou com o gato.

- Ele me ama, tá bom? - Resmunguei. - E gosta muito de tirar uma soneca em cima da minha barriga.

- O inquilino vai se incomodar quando estiver maior. - Ele riu.

- Dizem que crescer com animais faz bem pra o desenvolvimento do sistema imunológico e cognitivo da criança. - Haaland soltou do nada, fazendo com que Jude e eu o encarrássemos incrédulos. - O quê? - Ele perguntou. - Eu estou pesquisando, nunca fui pai na vida.

- Me sinto estranhamente segura com isso. - Fui buscar a comida na cozinha.

- Eu andei lendo sobre manobras pra desengasgar. - Jude disse. - Vi que é importante saber, em qualquer idade.

- É uma das primeiras coisas que aprendemos na faculdade de medicina. - Pus a lasanha no centro da mesa. - E realmente salva vidas.

- Eu quero que vocês se sintam seguros em deixar meu afilhado ou afilhada comigo. - Completou. - Então vou aprender o básico de como manter uma criança viva.

Ouvir ele dizer isso, assim como várias outras coisas que Jude vinha falando e fazendo em prol do bebê que estou esperando, me deixou muito emocionada. Os hormônios me traiam em toda oportunidade. Servi o jantar e logo a travessa que estava cheia de lasanha ficou quase vazia, porque os dois comiam igual a monstros aprisionados por anos no fundo do oceano.

- Eu acho que a lasanha que você faz chega a ser melhor que a da minha mãe. - Jude me ajudou a pegar os pratos de sobremesa no armário. - Mas não conta isso pra ela não.

- Jamais. - Eu ri. - Estou salivando nesse bolo com sorvete.

- Estou vendo você olhando pra eles como se fosse a melhor coisa do mundo. - Ele riu. - É estranho essa coisa de ter desejos?

- Demais. - Admiti. - Fico salivando como se fossem comidas feitas no céu, sério, não tem explicação.

- Deve ser legal. - Nós voltamos para a sala, onde Haaland escolhia um filme para assistirmos. - Você pode usar como desculpa pra poder comer qualquer coisa.

- Isso se ela não tivesse vontade de comer coisas estupidamente estranhas. - Haaland respondeu antes de mim.

- Foi só uma vez! - Me defendi.

- O que você quis comer? - Jude já ria antes de ouvir a resposta.

- Eu queria provar as folhas da amoreira com tempero e vinagre. - Murmurei.

- Temperadas? - Ele soltou uma risada ainda mais alta. - E você comeu?

- Não exatamente do jeito que eu queria. - Dei de ombros. - Mas encontrei uma receita turca que usa folhas de amora pra fazer charutos de carne com arroz, então eu fiz.

- E eu tenho que admitir que ficaram muito bons. - O loiro disse. - Mas ela ainda vai me enlouquecer.

- Eu estou enlouquecendo com meus hormônios, querido. - Ralhei. - Dá um tempo.

- Toma seu bolo com sorvete. - Jude me entregou um prato já servido e sentou na poltrona com o dele em mãos.

- Será que está gostoso? - Perguntei, disfarçando que Haaland e eu nos olhamos, nervosos.

- É bolo. - Ele deu de ombros e deu uma mordida no cupcake. - Não tem como ficar ruim. - Disse com a boca cheia. - O recheio não tem gosto de blueberry, porquê é azul?

- Bem, você fez tanta questão de um chá revelação. - Falei como quem não quer nada e a boca de Jude despencou.

- É menino?! - Gritou. - É menino, porra! - Ele praticamente pulou em Haaland. - Eu te falei, eu sabia! - E começou a chorar.

- Já pode jogar na loteria. - O loiro riu, tentando não chorar também.

- Meu Deus do céu. - Ele estava emocionado, mas não deixou de comer. - Esse é o bolo mais gostoso que eu já comi na vida.

- Não chora, se não eu vou chorar também. - Haaland resmungou. - Agora podemos comprar a primeira chuteira.

- O uniforme inteiro do Real Madrid! - Os dois começaram a fazer inúmeras planos para o menininho que estava vindo.

Logo haviam fotos nos grupos da família de Haaland e Jude chorando, com as bocas azuis e sorrisos emocionados no rosto. Eu não fui a única a chorar dessa vez.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora