Eu moraria aqui facilmente

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Jude estava sentado no terraço, mexendo no celular. Como eu sabia muito bem o que ele estava fazendo, apenas me sentei ao seu lado, em silêncio.

- Já terminaram de se pegar no quarto dele? - Perguntou como se não fosse nada.

- Mas você é ridículo mesmo, não é? - Retruquei e ele riu.

- Você não facilita o meu trabalho. - Nem tentou disfarçar. - Você não dura um mês sem voltar pra ele. - Me estendeu a mão, propondo uma aposta.

- Quanto você está disposto a perder? - Perguntei antes de apertar a mão dele.

- Se eu perder, te pago mil. - Disse. - Se eu vencer, quero um jantar especial toda sexta-feira por dois meses.

- E jantar comigo todo dia já não é especial? - Ralhei.

- Um jantar com direito a entrada, prato principal e sobremesa. - Corrigiu. - Vai correr?

- Eu não corro de nada. - Apertei a mão dele. - Vou comprar uma bolsa com o dinheiro que você vai me dar.

- Com certeza vai ser feia porque você tem mal gosto. - Provocou, mas eu não tive tempo de retaliar porque Haaland nos alcançou.

- Então, o que acharam daqui? - Sentou perto de nós e me olhou como se nada tivesse acontecido.

- Eu gostei muito. - Jude disse. - Você escolheu muito bem, é bonito.

- Doutora? - Insistiu, mesmo já sabendo da minha resposta.

- Eu moraria aqui facilmente. - Respondi e vi um sorrisinho besta aparecer no rosto dele. - Essa vista é um ótimo remédio pra o estresse do dia.

Passamos um tempo conversando no terraço, a casa era deslumbrante e fazia você querer ficar. O condomínio era composto por várias casas de diferentes modelos, algumas muradas, outras não, como a de Haaland. Havia uma cerca alta, pintada de branco, que limitava as laterais da propriedade, havia um gramado dos dois lados e na frente, mas era passando pelo terraço que se chegava na praia. A cerca na parte de trás era menor, um portãozinho limitava a areia. Eu me perguntei se haviam seguranças pra garantir que ninguém invadiria a casa, mas percebi que minha pergunta era idiota porquê se tratavam de pessoas muito ricas. Nada acontece com elas.

Meu telefone alertou sobre a chegada de um email, eram alguns documentos que Sebastian havia me enviado, pra ler e assinar.

- Algum problema? - Haaland perguntou.

- Algumas coisas pra resolver do trabalho. - Guardei o celular. - Preciso ir pra casa.

- Tá bom. - Jude se levantou prontamente. - Também preciso ir, vou organizar o seu churrasco. - Apontou pra Haaland.

- Eu nunca percebi como você é folgado. - Erling o provocou.

- Você se acostuma. - Ele deu de ombros. - Não é, Ellie?

- Não é como se houvesse muita escolha. - Fiz pouco caso.

- Vou ficar aqui sozinho. - Haaland olhou para os quatro cantos da casa.

- Que triste ficar sozinho em uma casa na beira da praia. - Fiz graça e ele riu.

- Seria melhor se fosse com você. - Disse na cara dura e na frente de Jude.

- Minha nossa senhora. - Jude riu. - Eu senti aqui, você sentiu? - Me perguntou.

- Cala a boca. - Resmunguei, completamente envergonhada. - Vamos que eu preciso trabalhar.

- A gente se vê no domingo. - Jude se despediu do amigo com um abraço.

- Você vem, não é? - Haaland se aproximou de mim.

- Venho sim. - Assenti e ele sorriu. - A gente se vê.

- Tchau, doutora. - Ele me puxou pra um abraço.

- Se eu estiver sobrando, volto de uber pra casa. - Jude brincou.

- Nossa, mas você é muito chato. - Larguei Haaland.

- Me deixa em casa e volta. - Ele continuou.

- Eu vou te deixar voltar pra casa a pé. - Ralhei enquanto seguíamos até a porta.

- E eu vou chegar antes de você. - Deu de ombros. - Dirige igual uma velha senhora.

- Eu dirijo com cuidado, ta ok? - Ralhei de volta. - Me respeita, garoto.

- Velha chata! - Ele retrucou e correu antes que eu pudesse lhe acertar um tapa.

- Até mais, Erling. - Acenei pra ele.

- Avisa quando chegar em casa. - Pediu.

- Aviso sim. - Garanti e segui para meu carro, onde Jude já me esperava. - Se você me encher o saco, juro que te empurro pra fora do carro. - Avisei assim que entramos no veículo.

- Eu não, sou uma pessoa muito tranquila, sabe? - Jude fez o sonso. - É tudo coisa da sua cabeça.

- Mas você é nojentinho, não é? - Eu ri e dei partida. - Te odeio, real.

- Você sabe que o Florentino vai organizar outra festa, não sabe? - Ele mudou de assunto.

- Não tem nenhum aviso na minha agenda. - Estranhei.

- Pode esperar. - Ele garantiu. - O velho vai querer esfregar na cara dos outros clubes que conseguiu contratar o Haaland.

- Vou ter que deixar outro rim pra pagar um vestido novo. - Reclamei. - Que inferno, viu.

- Mas vale a pena, você fica lindona. - Comentou distraído. - Sempre aparece naquelas páginas que falam sobre as roupas das pessoas.

- Bonita, mas a que custo? - Eu ri. - Acho que vou doar o vestido que usei no leilão, não pretendo repetir.

- Olha ela, não repete roupas. - Jude fez uma voz enojada. - E ainda quer se fazer de humilde.

- Já pensou se eu repito aquele vestido em outro evento? - Eu ri só de pensar. - Essas mesmas páginas que você diz que me elogiam, vão me massacrar.

- É verdade. - Ele balançou a cabeça, concordando.

Jude foi direto para o apartamento dele quando chegamos, eu fui buscar meu notebook no quarto, pra conseguir enviar os documentos assinados e revisados pra Sebastian. Depois de um tempo acabei lembrando que Vincent havia me mandado mensagens, quando fui ler, me deparei com um convite pra jantar, que eu neguei. Disse que precisaria trabalhar a noite, mas falei que poderíamos marcar alguma outra coisa, outro dia.

A verdade é que, agora, com a chegada de Haaland e a minha intenção de voltar com ele, seria estranho sair sozinha com Vincent, ele poderia pensar coisas que não deveria. Eu estava feliz por ele estar em Madrid, por saber que estaria aqui por um bom tempo e todo o nervosismo que estava sentindo antes foi sumindo aos poucos, a medida em que ele sorria pra mim e fazia piadinhas idiotas. Erling sempre soube como quebrar o gelo entre nós, conseguia me fazer rir com muita facilidade, além de me desmontar somente com uma olhada.

Eu tinha certeza que queria ele de volta, mas faria as coisas devagar, pra não sair nada errado.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora