Yuánfèn - Erling Haaland

Eu só me meto quando acho necessário

Gabrielle me ligou logo cedo, estava a caminho do trabalho. Disse que havia acabado de pousar em Madrid e gostaria de jantar comigo, eu topei na hora, estava sentindo muita falta dela e de uma companhia feminina pra conversar. Só tenho amigos homens em Madrid, não tenho uma amiga pra ir ao shopping ou dormir na minha casa, quando preciso conversar sobre algo tenho que agendar um horário que Jena e Beca estejam livres, pra fazermos uma chamada de vídeo em grupo. Eu precisava de mais energia feminina na minha vida, outro dia me peguei chamando o Jude de mano, como ele fala com os outros caras.

Convidei Gabi para minha casa, queria que ela conhecesse meu novo lar também, ela ficou animada e disse que levaria uma garrafa de vinho. Combinamos o horário e eu lhe enviei meu endereço, isso foi o suficiente pra me deixar ansiosa pelo resto do dia. O clima no trabalho não melhorou muito, o Real Madrid iria jogar contra o Atlético de Madrid, era um jogo difícil e muito importante, os rapazes não estavam muito confiantes e isso era novo pra mim. Decidi que acompanharia os treinos do dia e que faria algumas atividades de entrosamento e fisioterapia com eles, em uma tentativa de melhorar as coisas.

- Por quê estão tão nervosos? - Perguntei enquanto alongava a perna de Valverde.

- É um Derby. - Ele fez uma careta quando estiquei seus dedos. - O atlético é um bom time, todos sabemos que vai ser difícil.

- Nossa, que pensamentos positivos. - Larguei a perna que estava segurando e peguei a outra.

- Ainda estamos em fase de entrosamento. - Ele resmungou um palavrão quando apertei a musculatura tensa da panturrilha. - Essa coisa de renovação do elenco sempre mexe com o rendimento.

- Mas vocês estão fazendo uma temporada ótima.

- Caramba, Ellie. - Ele reclamou. - Isso dói.

- Significa que estou fazendo certo. - Estiquei os dedos dele e depois soltei a perna. - Vai me agradecer quando sua mobilidade melhorar.

- Estou com ciúmes. - Jude se arrastou pelo gramado até deitar ao lado de Valverde. - Sai daí, é a minha vez.

- Boa sorte. - Valverde riu e abriu espaço pra ele. - Ellie estava me perguntando sobre esse clima tenso que estamos.

- Eles insistem em dizer que vai ser um jogo difícil. - Jude deu de ombros e levantou a perna pra que eu pudesse alongar.

- Você bem que poderia ser menos convencido, não acha? - Estiquei a perna e ele resmungou.

- Porra. - Xingou antes de voltar a se achar. - Nós somos o melhor time do mundo, tempos que ser confiantes.

- Bem, a queda vai ser maior. - Valverde riu e se levantou. - A gente se vê no almoço.

- Como foi a conversa com o Vincent? - O curioso perguntou assim que Valverde se afastou o suficiente.

- Foi tranquila. - Soltei a perna que já havia alongado e pedi a outra. - Eu paguei o maior mico, na verdade.

- Como assim? - Ele riu antes mesmo de saber a história toda.

- Eu falei com ele toda complacente, assumindo que ele estava afim de mim. - Resumi. - E ele disse que não era isso tudo.

- O que ele disse exatamente? - Ele me olhou intrigado.

- Disse que não me chamou pra sair só por eu ser bonita. - Dei de ombros. - Falou que gosta do meu jeito, que se diverte comigo.

- E você acreditou? - Jude soltou uma risada e puxou a perna. - Isso é uma mentira deslavada, Ellie.

- Claro que não, Jude. - Retruquei e ele riu ainda mais. - Porque ele mentiria sobre isso?

- Porque ele quer pegar você. - Respondeu simples.

- Jude! - Ralhei. - Você não pode falar comigo como se eu fosse um homem, eu sou uma dama.

- Oh, me perdoe. - Ele pôs a mão no peito e fez drama. - Uma dama tão inocente que não percebeu que o Vincent só não queria tomar um fora.

- Você não sabe de nada. - Resmunguei.

- O que ele fez depois? - Ele estendeu a mão, me pedindo ajuda pra levantar.

- Disse que tudo bem se eu não pudesse ser amiga dele. - Jude me olhou como se quisesse me falar mais um milhão de coisas. - Mas que não haveria problema se eu quisesse algo casual.

- Eu não acredito em amizade entre homens e mulheres. - De todas as coisas existentes, essa foi a única que ele escolheu pra dizer.

- E nós somos o quê? - Perguntei, quase revoltada.

- Somos irmãos. - Respondeu como se fosse óbvio. - O que estou querendo dizer que ele te chamou pra sair porquê quer beijar você. - Disse na lata. - Essa história de ser seu amigo não colou.

- Você está falando da sua opinião. - Pontuei.

- Do ponto de vista de um homem. - Ele retrucou. - Coisa que o Vincent é também.

- Eu acredito nele. - Era a escolha mais fácil. - Em todo caso, se ele não foi sincero, não vai mudar as coisas. - Dei de ombros. - Eu já disse o que não iria acontecer e pronto.

- Ele é legal, mas tem cara de quem é esperto demais. - Opinou. - Essa coisa de não ficar com ele, é por causa do Haaland?

- Você vai correndo contar pra ele? - Alfinetei e ele revirou os olhos.

- Eu só me meto quando acho necessário.

- É por causa dele, sim. - Admiti.

- Bem, eu espero que vocês se resolvam. - Ele suspirou. - Ou que você se resolva, enfim.. com ou sem o Haaland, só quero te ver bem.

- Eu sei. - Sorri pra ele. - Por isso somos Ellie e Jude.

- E você vai fazer o Vincent me deixar dirigir o carro dele. - Disse, distraidamente.

- Eu não vou fazer nada. - Dei risada da cara dele. - Vou continuar com o meu trabalho.

- Você é uma chata. - Ele resmungou.

As coisas que Jude disse ficaram na minha cabeça por um tempo, mas eu decidi deixar de lado. Eu já havia deixado bem claras as minhas intenções com Vincent, se ele mentiu sobre as dele, já não é um problema que me envolva. Não acho que ele tenha mentido, ele tem um jeito mais descontraído de lidar com a vida e talvez realmente não tenha interesse em nada sério comigo, o problema sou eu que não sei ter lances casuais, ou machuco a pessoa ou me apaixono. Não estava disposta a repetir o que fiz com Ethan, ainda me sentia culpada por ter dado algum tipo de esperança pra ele, mesmo sabendo do fundo do meu coração que todo meu amor pertence a um único homem. Muito grande e muito chato, tão azedo quanto um limão que ainda não amadureceu e tão insistente como uma gripe mal curada.