Nós somos Ellie e Jude

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Jude quase não ia embora, Schördringer acordou quando estávamos terminando de jantar e ele simplesmente não queria sair do pé dele. Jude rolou o chão da minha sala inteiro brincando com o gato, que me esnobava o tempo inteiro. Logo eu, que comprei absolutamente tudo que ele tem. Quando saí para trabalhar, o gato estava correndo como um foguete por todos os cantos da casa que ele tinha acesso, que consistiam na varanda, sala, cozinha e área de serviço. Eu mantinha as portas dos quartos e banheiros fechadas.

O trabalho foi tranquilo, como sempre. O dia se arrastou porque eu sempre achava tedioso não ter nada pra fazer. Mas fiquei feliz quando voltei pra casa e o gatinho correu miando loucamente até a porta.

- Oi, Schördringer. - Me agachei e peguei ele no colo. - Sentiu minha falta? - Observei a sala, intacta. - Bem, você não destruiu minha casa.

Fiz carinho nele por um tempo e depois fui tomar um banho e me trocar pra leva-lo ao veterinário. Já estava saindo quando Jude entrou, todo perfumado e arrumadinho.

- Vai pra onde bonito assim? - Perguntei enquanto tentava colocar o gato na caixa de transporte.

- Vou com você levar o meia noite ao veterinário. - Respondeu como se houvéssemos combinado alguma coisa.

- E eu te chamei? - Finalmente Schördringer aceitou entrar na caixa e eu me levantei do chão.

- E você acha qua ainda tem alguma liberdade aqui? - Ele riu, debochando da minha cara. - Nós somos Ellie e Jude.

- Tudo bem. - Empurrei a caixa de transporte pra ele. - Eu dirijo.

- Acha que vão aplicar muitas vacinas nele? - Perguntou, aflito.

- Depende de quantos meses ele tem. - Dei de ombros. - Deve tomar umas duas hoje.

- Não tem em gotinhas? - Neguei. - Que maldade.

- É pra o bem dele, Jude. - Acabei rindo da preocupação dele. - Só sente na hora.

- Sei. - Resmungou.

Entramos no carro e ele levou a caixa de transporte no colo, o tempo todo conversando com o gato, que miava em resposta. A clínica veterinária que escolhi era bem próxima ao condomínio onde moramos, o que quer dizer que é cara, mas a conveniência vale um pouco a mais. Chegamos rapidamente e logo Jude estava batucando as mãos nervosas na mesa da veterinária enquanto eu respondia perguntas e fazia o cadastro de Schördringer.

- Que nome diferente para um gato. - Ela me encarou.

- Eu achei ele dentro de uma caixa. - Expliquei. - E o amigo que estava comigo disse que alguém precisava avisar ao Schördringer que o gato do experimento dele estava vivo.

- Entendi. - A mulher riu. - Criativo.

- Ele vai tomar vacina? - Jude perguntou.

- Vai sim. - Ela assentiu enquanto levava o filhote até uma balança. - Também vamos colher sangue pra fazer exames.

- Eu vou esperar lá na recepção. - Ele se levantou. - Vou tomar um café.

A veterinária observou ele sair com um olhar curioso.

- Ele está nervoso com essa história de vacinas desde que saímos de casa. - Informei.

- Ele não vai sentir dor. - Ela sorriu. - Aplicamos basicamente na pele, a maioria das vacinas eles nem sentem.

- Tudo bem. - Assenti, apenas deixando que ela fizesse seu trabalho.

Passei quase uma hora dentro da sala, Schördringer foi um gato bonzinho e não se opôs a nada, talvez o tamanho minúsculo dele ajude. A veterinária coletou sangue, aplicou vacinas, implantou microchip e fez mais umas mil coisas.
Jude se levantou assim que nos viu e veio pegar o filhote que ainda estava na minha mão.

- Oi meia noite. - Ele aproximou o gatinho do rosto. - Fizeram maldade com você?

- Você é fofo. - Ri da cara dele. - Vamos embora, ainda tenho que comprar o jantar.

- Ele está quieto demais. - Reclamou.

- Ele nem miou quando tomou as vacinas. - Retruquei. - A saúde vai estar em dia agora.

- Tadinho de você. - Ele continuou falando com o gato.

- Coloca ele na caixa. - Pedi quando chegamos ao carro. - Você pode comer Hambúrguer?

- Só pão, carne e verduras. - Pontuou. - Estão pegando no nosso pé sobre alimentação nessa fase da temporada.

- Azar o seu. - Brinquei. - Vou encher o meu de molho e bacon.

- Maldosa. - Ralhou. - Vou me vingar.

- Vou esperar sentada. - Dei partida no carro e seguimos discutindo sobre onde comprar os hambúrgueres.

No final, Jude me convenceu a passar em uma hamburgueria artesanal que ele conhecia, ele mesmo desceu e fez os pedidos, eu estava cansada e só queria me jogar no sofá. Foi exatamente o que fiz quando chegamos em casa, abri a caixa de Schördringer e ele saiu correndo para a comida dele.

- Ele ainda vai precisar tomar muitas vacinas, não é? - Jude entregou meu lanche.

- Algumas, sim. - O cheiro do hambúrguer me fez salivar. - Isso aqui parece estar bom.

- Sempre compro lá quando estou com a dieta mais regrada. - Disse com a boca cheia.

Nós comemos e conversamos até ele precisar ir dormir, fazíamos isso basicamente todos os dias, salvo quando algum dos dois saía sem o outro a noite. Schördringer, agora feliz da vida com a barriga cheia, dormia tranquilamente na casinha dele e eu fui fazer o mesmo. Ele ainda precisaria fazer visitas de rotina, tomar mais algumas vacinas, vermífugos... enfim, eu basicamente adotei um filho e agora tenho responsabilidades com ele. Mas ele é tão amável que compensa tudo.

Antes de dormir, pus roupas pra lavar, incluindo as duas camisas de Vincent que ainda estavam comigo, porque esqueci de levar a primeira quando saímos pra jantar no shopping. Eu precisava conversar com ele e abrir o jogo, não tenho muito o que dizer porque mal nos conhecemos e nada aconteceu, mas, preciso avisar que nada vai acontecer, não posso ficar saindo com ele quando claramente ele tem intenções diferentes das minhas.

Eu gostaria de ser mais desapegada, de ter simplesmente excluído Haaland da minha vida e seguido em frente, mas eu simplesmente não consigo me desvencilhar dos sentimentos que tenho por ele e talvez seja por isso que ouvir tudo que ele me disse quando terminou comigo tenha me afetado de tantas maneiras. Também me mostrou que ainda haviam alguns traumas relacionados ao meu antigo relacionamento que eu havia apenas escondido dentro de mim e não superado. Luck sempre tratou nosso relacionamento como nada, minhas conquistas, vontades e necessidades como nada. Ouvir Haaland dizer que éramos nada me pegou de jeito, o modo como ele conseguiu ser frio como meu ex namorado sempre foi me surpreendeu de uma maneira muito negativa. Embora agora eu entenda os motivos dele, jamais imaginei que alguém tão doce, protetor e prestativo poderia agir assim. Isso me deixa com dúvidas sobre ele, se eu realmente o conheci de verdade.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora