Um dia uma cigana leu a minha mão

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Acordei sentindo meu corpo pesado, me arrastei por baixo da perna e dos braços de Haaland pra conseguir sair da cama. Caminhei na ponta dos pés até o banheiro e tomei um susto quando vi meu cabelo duro de tanto cloro. Entrei em baixo do chuveiro imediatamente e precisei usar o shampoo dele, que não tinha nada haver com o que eu uso, mas iria tirar o cloro em excesso. Tomei um banho quente e demorado, achei que ele já teria acordado quando saí, mas Erling ainda dormia tranquilamente, todo esparramado na cama. Procurei uma camisa e uma cueca no armário dele e me vesti, saindo do quarto devagarinho.

Fechei a porta com cuidado e observei a sala vazia, como não tinha muito o que fazer, decidi preparar o café da manhã, estava morrendo de fome e pelo tanto que meu namorado se esforçou ontem, ele vai estar pior do que eu. Encontrei frutas, pão, frios, café e leite, preparei torradas, cortei as frutas e organizei a mesa do terraço enquanto a cafeteira preparava o café, porque não havia sentido em ter uma sala de jantar quando seu terraço ficava de frente para o mar.

Voltei para o quarto, vendo o loiro ainda dormindo de bruços na cama. Engatinhei até conseguir me deitar por cima dele, mas Haaland nem se mexeu.

- Loirinho. - Deixei um beijo na bochecha dele.

- Hum. - Ele apenas resmungou.

- Mi vida. - Sussurrei em seu ouvido e vi um sorrisinho surgir no canto da boca dele. - O café da manhã já está pronto.

- Você tá aqui mesmo. - Sua voz soou sonolenta. - Estou com medo de abrir os olhos e ser tudo fruto da minha imaginação.

- Bem, você não deixou de ser exagerado. - Deixei outro beijo na bochecha dele e me levantei. - Tô te esperando lá no terraço.

Me lembrei de pegar meu celular dentro da bolsa e fui me sentar no terraço, o dia estava lindo, o mar, um pouco revolto, fazia o barulho das ondas chegarem até mim. Haviam muitas mensagens de muitas pessoas diferentes e eu fiquei um pouco perdida, até que abri as mensagens do grupo que tenho com Beca e Jena, vendo inúmeros prints e links de matérias falando sobre Haaland e eu. Fotos nossas nos beijando na frente do salão de festas estavam espalhadas pela internet, aparentemente, as pessoas estavam comemorando nosso possível retorno como se fosse uma copa do mundo e eu nunca fui capaz de entender isso muito bem. Como pessoas de vários lugares do mundo podem simplesmente adotar pessoas desconhecidas e torcer a favor ou contra a felicidade delas.

- O que está vendo aí? - Haaland parou atrás de mim e me deu um beijo no topo da cabeça.

- As pessoas estão falando sobre nós. - Entreguei meu celular com uma matéria de um site de fofocas.

- Eles estão em todos os lugares. - Ele resmungou e me entregou o aparelho de volta depois de ter lido.

- Bem, uma hora eles iriam ficar sabendo. - Comentei enquanto ele tomava seu lugar ao meu lado.

- Nem eu estou sabendo ainda. - Ele sorriu e coçou os olhos. - Passei todo esse tempo em estado constante de preocupação, agora minha mente não sabe como agir de outro jeito.

- Pois eu estou me sentindo em paz como não consegui me sentir desde que você me chutou. - Tentei fazer graça, porque eram coisas que eu queria deixar pra trás.

- Ei! - Ele ralhou. - Eu não te.. - Eu o encarei, pra ver se ele iria realmente terminar a frase. - Ta bom. - Assentiu. - Você tem razão.

- Eu te amo. - Falei alto e claramente. - Pra caralho mesmo, como nunca amei ninguém na minha vida.

- Para de falar assim. - A voz dele soou embargada. - Eu nunca fui tão burro na minha vida como quando te deixei. - Ele coçou os olhos. - Eu sinto muito, amor.

- Ah, não. - Observei que ele estava chorando. - Não começa a chorar.

- É que agora você está aqui de volta. - Ele desembestou e eu comecei a chorar junto. - E eu nem sei como agir porque me sinto tão envergonhado.

- Você não precisa se sentir assim. - Me levantei e fui me sentar no colo dele. - São coisas que a gente vai precisar deixar pra trás.

- Eu sei. - Ele não estava fazendo questão de esconder as lágrimas. - Eu só estou com medo de me sentir feliz por você estar aqui, porque eu causei tudo isso.

- Não, amor. - Me ajeitei no colo dele e o abracei. - Para com isso.

- Me desculpa, Ellie. - Ele me abraçou com força. - Eu nunca quis te fazer mal.

- É claro que eu desculpo você. - Segurei o rosto dele entre as mãos e limpei seu rosto molhado, mesmo que o meu estivesse do mesmo jeito. - Eu te amo, você ouviu bem? - Ele assentiu. - Eu quero ouvir você falando.

- Eu ouvi. - Ele respirou fundo. - Eu também te amo. - Foi a vez dele enxugar meu rosto. - E doeu tanto esse tempo sem você.

- Doeu em mim também. - Concordei. - Nunca mais pense em fazer uma loucura dessas.

- Nunca mais. - Ele me puxou pra outro abraço. - Sabe, um dia uma cigana leu a minha mão. - Eu estranhei o papo, mas continuei em silêncio. - E falou que o destino do meu coração daria muitas voltas, mas ia encontrar você de novo.

- Que papo é esse? - Me afastei o suficiente pra conseguir olhar pra ele.

- Na viagem com a seleção. - Haaland me explicou brevemente o que havia acontecido. - Confesso que só lembrei disso agora.

- Que loucura. - Continuei o encarando por um tempinho até que ele segurou meu queixo com a ponta dos dedos e me deu um beijo leve e demorado. 

- Loucura. - Repetiu. - Como eu senti falta disso.

- Vamos comer. - Lhe dei um selinho e me levantei. - Já resolvemos nossa questão.

- Ainda tenho muitas questões pra resolver com você. - Ele riu. - Em todos os cantos dessa casa.

- Erling, não começa. - Meu rosto esquentou de vergonha.

- Gabrielle já me ligou sete vezes na última meia hora. - Ele olhou o celular. - Não vou atender não.

- É a sua irmã. - Falei, mas eu também não atendi as ligações de Beca.

- Todo mundo já sabe que nós estamos juntos de novo. - Ele deu de ombros. - As páginas de fofoca já nos fizeram esse favor.

- Mas nós devemos explicações para nossas famílias. - Ele concordou.

- Depois a gente faz isso. - Comeu um pedaço de fruta.

Conversamos sobre muitas coisas no café da manhã e aliamos muitos pensamentos, fizemos perguntas sobre o que fizemos nesse tempo separados e rimos das nossas inseguranças e ciúmes um do outro. Foi uma conversa longa, que tomou nossa manhã inteira, mas foi muito pertinente, porque precisávamos começar de novo da melhor maneira possível e isso consistia em não deixar nenhuma dúvida sobre nada.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora