Sinto falta de morar com você

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Dormi o dia inteiro, ninguém veio me incomodar, Jude sumiu e eu só acordei no final da tarde. Cambaleei até minha bolsa, onde meu celular havia ficado desde que entrei em casa e desbloqueei o aparelho, vendo algumas mensagens de Vincent, Beca e Jude. Beca perguntava sobre a festa e sobre Haaland ter comprado um jantar comigo em um leilão, provavelmente Alvaréz comentou no grupo dos jogadores e Grealish abriu o bico. Vincent havia apenas avisado que chegou bem em casa e perguntou se eu havia secado o cabelo antes de dormir. Respondi que sim e perguntei a ele tinha dormido bem. Já as mensagens de Jude, decidi ignorar. Ele apenas me pedia desculpas pelo papelão que Haaland havia feito e reforçava que tentou segurar ele em casa. Eu sabia que não era culpa dele, só não queria conversar com nenhum dos dois no momento.

Resolvi ligar pra Beca enquanto preparava um lanche, já que iria jantar com Haaland em poucas horas, não iria comer muito e nem estava sentindo muita fome.

- Você tem muitas coisas pra me contar. - Ela disse assim que atendeu. - Que loucura foi essa que aconteceu nessa festa?

- Eu também não sei. - Abri a geladeira e peguei ingredientes pra fazer um sanduíche. - Fui pega de surpresa pela maioria dos acontecimentos.

- É verdade que vai jantar com o Haaland hoje? - Suspirei e assenti. - E você aceitou assim?

- Eu não queria nem ter participado desse leilão. - Resmunguei. - Quem pode negar alguma coisa ao Florentino Pérez?

- Você tem um ponto. - Ela concordou. - E você foi com o gato tatuado?

- Sim. - Ela sorriu, feliz da vida. - Ele meio que salvou minha noite.

- Como assim? - Expliquei pra Beca tudo que aconteceu, inclusive do momento em que Haaland me beijou. Ela ficou boquiaberta.

- E aí ele saiu do banheiro chorando e eu fiquei no banheiro, chorando também. - Finalizei. - Eu não sei o que fazer em relação a ele, Beca.

- O que você sentiu quando o beijou? - A pergunta dela me atingiu como um dardo certeiro.

- Senti tudo. - Admiti. - Nada mudou dentro de mim, por mais que eu esteja magoada, ainda o amo pra caralho.

- Acho que é por isso que você está surtando, sabe? - Ela ativou o modo psicanalista. - Você o ama, sabe que ele te ama também, mas está com dificuldades pra desculpar ele.

- E o que eu faço? - Eu estava começando a ficar desesperada. - Estou saindo com o Vincent pra me distrair e não enlouquecer com tudo isso, mas sinto que é errado.

- Já rolou algo entre você e o Vincent? - Eu neguei. - Você quer que aconteça?

- Não. - Senti uma pontinha de culpa, porque qualquer uma vê que Vincent é um bom partido. - Eu não consigo sentir nada por ele, porque aquele loiro maldito não sai da minha cabeça.

- Nem da sua vida, pelo visto. - Ela soltou uma risadinha. - Tente processar o que está acontecendo dentro de você. - Propôs. - Entenda o que te magoa, lembre das explicações que ele te deu e assimile tudo.

- É tão difícil. - Terminei de montar meu sanduíche e me arrastei até o sofá. - Não gosto de lembrar das coisas que ele me disse, porque nunca me senti tão mal na vida.

- Precisa enfrentar isso. - Ela foi mais incisiva. - Tenho certeza que o Haaland também está enfrentando muitas coisas. - Eu sabia que sim. - Ele ama muito você e eu não estou de maneira nenhuma o defendendo.

- Tem certeza? - Ela riu novamente. - Acho que o Jack está te amolecendo.

- Eu só não posso negar as coisas que vejo bem na minha frente. - Eu sabia que ela estava certa. - Ele tem tanta certeza do amor de vocês, que simplesmente não cogita outra opção, é viver a vida inteira com você e ponto.

- Ele teve um ataque de ciúmes quando me viu chegando com Vincent ontem de madrugada. - Voltei a rir, me lembrando novamente da cena.

- Ele ficou te esperando chegar? - Somente quando ela disse isso que eu percebi esse fato. - Escuta Ellie, eu não diria isso se não acreditasse de verdade. - Eu fiquei em silêncio esperando. - Dê outra chance ao Erling, eu tenho certeza absoluta que ele vai passar o resto da vida dele tentando te fazer esquecer de cada sílaba que ele disse.

- No fundo, eu sei disso. - Admiti para mim mesma. - É só que, algo simplesmente me impede.

- Deixa ele te beijar de novo que isso passa. - E passou mesmo, minha mente ficou em branco quando a boca dele encostou na minha.

- Sinto falta de morar com você. - Resmunguei. - Você sempre me dava conselhos sem eu pedir, agora eu tenho que ligar.

- Deixa de ser dramática e vai resolver a sua vida. - Ela mandou. - Mas, faça tudo com calma, pra ter certeza do que está fazendo.

- Tudo bem, obrigada. - Concordei. - Eu te ligo amanhã pra falar sobre o jantar.

- Cada detalhe. - Ela ressaltou.

Desliguei o telefone e fui comer meu sanduíche enquanto assistia Young Sheldon na televisão, eu precisava de algo que relaxasse minha mente e essas séries levinhas sempre me ajudam.

Não fazia ideia de qual restaurante iríamos, eu não conhecia o homem que falou com a gente ontem e não sabia muito bem o que vestir, por isso passei um bom tempo encarando meu armário, procurando algo legal. Estava estranhamente nervosa e ansiosa, Haaland e eu já havíamos passado da fase dos primeiros encontros e era muito estranho fazer isso com ele. O jeito que começamos não foi o mais comum, costumávamos jantar no meu apartamento ou no dele, não houve toda essa preparação, nós simplesmente acontecemos. E agora eu estou nervosa, me arrumando pra ir a um jantar com ele.

Como não fui informada do horário em que iríamos sair, me arrumei o mais cedo que pude e fiquei plantada no sofá, esperando por ele. As oito as portas do elevador se abriram e o perfume de Haaland tomou conta da minha sala.

- Boa noite. - Me levantei, pegando minha bolsa, sem prestar atenção nele. - Eu não sabia de que horas iríamos sair, então..

- Você está linda. - Ele me interrompeu e eu finalmente o olhei. - São suas. - Ele me entregou um buquê de rosas vermelhas.

- Obrigada. - Me senti um pouco sem graça, porque meu coração acelerou. - Vou colocar em um jarro.

Caminhei apressada até a cozinha e arranjei um pote de vidro, deixando o buquê nele.

- Antes de sairmos, eu queria me desculpar por ontem. - Ele veio atrás de mim na cozinha. - Bem, não só por ontem, mas, por todas as vezes que achei que tinha algum direito de te cobrar algo.

- Tudo bem. - Eu não queria entrar no assunto naquele momento.

- É difícil me acostumar com o fato de que estou fora da sua vida. - Meu peito doeu quando vi a carinha dele.

- Não vamos falar sobre isso hoje. - Lembrei do que Beca me falou. - Só vamos jantar, tudo bem?

- É claro. - Ele limpou a garganta. - Por favor.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora