Meu amor, não me deixe

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Ele conseguiu convencer Ancelotti a liberar o treino da sexta-feira, eu não sei como e nem quis perguntar, apenas aceitei e arrumei nossa mala pra irmos à Manchester. Gostaria de salientar que já vi meu namorado feliz em diversas situações, inúmeras vezes, mas, havia algo diferente na alegria dele em estar indo conhecer a filha do Bernardo. Seu entusiasmo, que era um traço fortíssimo de sua personalidade, havia transbordado de um jeito que eu ainda não tinha visto.

Além da quantidade enorme de presentes que ele comprou pra uma única criança, seus olhos cintilavam de entusiasmo. Ele falou o voo quase todo sobre como teria que se controlar pra ser um bom pai e não transformar nossos filhos em crianças mimadas quando eles nascessem, e falou com tanta naturalidade que me fez querer ver isso pessoalmente. Não quero ter filhos para realizar o sonho de ninguém, mas, é um sentimento muito gostoso perceber que me sinto segura em pensar em ter um filho com meu parceiro, porquê vejo nele um bom pai. Haaland trata bem os garçons, sempre cumprimenta absolutamente todos os profissionais com quem trabalhamos, sejam eles da limpeza ou da equipe médica, respeita os mais velhos e se alegra com a alegria dos outros. Existem tantas coisas que eu aprecio nele, que tenho certeza que a paternidade vai ser mais uma delas.

Decidimos ficar no meu antigo apartamento, porquê meu quarto ainda estava lá e seria mais fácil de reunir nossos amigos em um único lugar, tendo em vista o pouco tempo que teríamos. Com a agenda apertada e muitas pessoas pra ver, saímos de Madrid na quinta feira assim que o treino dele acabou, passamos a madrugada no avião, mas Haaland estava elétrico demais e ficou tagarelando, não me deixando dormir direito. Passaríamos a sexta e parte do sábado em Manchester, depois seguiríamos para a casa dos meus pais e de lá para o aeroporto.

Beca nos esperava no aeroporto, percebi Erling ficando tenso quando a viu, eu sabia que ele teria que lidar com muito nervosismo antes de tirarmos esse assunto de vez da agenda, ter que lidar com minha família estava perturbando os neurônios dele.

- Garota, que saudades de você. - Beca me abraçou assim que me aproximei o bastante.

- Também senti sua falta. - A apertei em meus braços.

- Eaí, grandão. - Ela sorriu pra Haaland, que pareceu surpreso em ser bem tratado. Tenho certeza que Beca o aterrorizou depois que eu fui embora.

- Oi, Rebeca. - Ele sorriu brevemente. - Tudo bem?

- Tudo ótimo. - Ela manteve o sorriso. - Vamos pra casa.

- Você falou com Jack e Phil? - Perguntei à ele enquanto seguíamos Beca até o estacionamento.

- Eles não conseguiram liberação do treino. - Respondeu.

- Todo mundo vai lá pra casa a noite. - Beca disse.

- Todo mundo quem? - Perguntei, desconfiada que ela fosse abarrotar a casa de gente.

- Jack, Foden e Jena. - Ela riu. - Relaxa, antissocial.

- Eu preciso dormir um pouquinho antes de ir visitar o Bernardo. - Bocejei.

- Ainda é cedo. - Erling olhou no celular. - São sete e meia.

- Deixo vocês dormirem até a hora do almoço. - Nós chegamos no carro. - Almoçamos juntos e vamos.

- Perfeito. - Me recostei no banco do carona, sentindo meus olhos pesarem.

- Jack está super animado com a vinda de vocês. - Beca riu.

- Pretendíamos vir somente nas férias, pra passar mais tempo. - Comentei. - Mas tivemos que dar um jeito quando soubemos do nascimento da bebê.

- A Inês fez questão que o Bernardo ligasse pra avisar. - Ela disse. - Como ele não tinha meu número e Jack não escuta nada quando está dormindo, sobrou pra Jena.

- Ele poderia ter me ligado também. - Haaland resmungou do banco de trás.

- Acho que eles só pensaram nas pessoas mais próximas. - Justifiquei. - A filha dele acabou de nascer, dá um desconto.

- É, grandão. - Beca brincou. - Seus amigos não estão te esquecendo, só estão ocupados tendo filhos.

- Quero os meus. - Olhei pra ele e o vi cruzando os braços. - Acho que vou jogar fora os anticoncepcionais da Ellie.

- O quê?! - Perguntei indignada enquanto Beca desatou a rir. - Você para de ser maluco, eu não tenho nem três meses trabalhando no Real Madrid, dá um tempo.

- Eles não podem te demitir, porquê significa que eu vou embora junto. - Deu de ombros.

- Gosto da energia dele de uma pessoa completamente obcecada por você. - Beca riu.

- Eu sou completamente obcecado por ela. - Ele afirmou. - Doido da cabeça mesmo, se ela me deixar eu me jogo da ponte.

- Ele está com sono. - Revirei os olhos. - Fala muita besteira quando está com sono.

- Eu estou muito bem acordado. - Ele assentiu. - Meu amor, não me deixe.

- Senti falta de ver outra pessoa te enchendo o saco. - Beca continuou rindo o caminho todo, porque Haaland simplesmente não parou.

Quando chegamos ao apartamento, percebi que nada havia mudado, a não ser por algumas coisas do Grealish espalhadas pelos cômodos. Meu quarto estava arrumado e ainda do jeito que deixei, no armário estavam guardadas todas as coisas que Haaland havia me dado e que eu havia deixado pra trás quando me mudei. Ele passou um tempo analisando tudo antes de tirar somente a luminária da prateleira.

- Isso aqui vai ficar ótimo no nosso quarto. - Disse. - Posso levar?

- Claro. - Respondi um pouco aérea, ainda tentava me acostumar com o fato dele se referir a casa dele como algo nosso. - Eu preciso dormir. - Bocejei. - Ou vou acabar caindo por cima da Inês quando formos lá.

- Se você vai dormir, eu também vou. - Ele riu. - Ainda estou com vergonha da Rebeca.

- Por besteira sua. - Brinquei. - Eu te aceitei de volta, em consequência, ela também.

- Eu estava me sentindo seguro em Madrid. - Ele tirou os sapatos e sentou na cama. - Porque estava longe das pessoas que conhecemos.

- Você fica nervoso atoa. - Me sentei também e fiz o mesmo. - Ninguém tem que se meter no nosso relacionamento, terminamos e voltamos, pronto.

- Eu fiz besteira, amor. - Ele tirou a camisa e se ajeitou no colchão. - Sempre vou sentir vergonha por isso.

- É uma escolha sua, então. - Retruquei. - Não vejo nenhuma necessidade disso.

- Não brigue comigo. - Ele fez manha e me puxou pra deitar em seu peito, como sempre fazia.

- Não gosto quando você fala essas coisas. - Falei a verdade. - Temos que aprender com as coisas e virar a página.

- Você está certa. - Ele suspirou. - Mas, vou fazer com que eles saibam que você está namorando com um cara que vai casar com você. - Depois de tanto tempo convivendo com ele, eu ainda prendia a respiração com determinadas coisas ditas.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora