O segredo está nos morangos

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No domingo, Jude me acordou às cinco da manhã e foi a primeira vez na minha vida que eu quis muito machucar ele. Mas, no meio de toda animação que costumava ter, ele ignorou completamente a minha revolta e continuou falando sobre como o churrasco na casa de Haaland seria legal.

- Eu tinha me esquecido disso. - Resmunguei enquanto tentava me acordar com uma caneca de café que ele fez na minha cozinha.

- Pois acorda aí. - Ele estava brincando com Schördringer. - Vai tomar um banho e melhorar essa cara.

- O que você está querendo dizer com isso? - Ralhei e ele riu, mas não me respondeu. - Tem certeza de que não vou ser a única mulher lá?

- Eu convidei os caras e as esposas. - Me tranquilizou. - Ao menos a Nina vai estar lá.

- Tudo bem. - Me levantei e fui deixar a caneca vazia em cima da pia. - Vou me arrumar, não demoro.

- Sem pressa. - Ele deu de ombros. - Tá cedo.

- Ainda bem que você sabe. - Respondi mal humorada.

Antes de entrar no banheiro passei cerca de quinze minutos revirando minha gaveta de biquínis, por mais que em Manchester não fizesse muito clima de praia, Beca tinha alguma coisa com biquínis, que nos fazia ter uma boa quantidade deles. Decidi pôr um de lacinho, que eu considerava pequeno demais, mas a piscina da casa de Haaland exigia um biquíni pequeno para um bronze lindo. Em todo caso, pra não me sentir envergonhada, peguei uma saída de praia que era igual a um vestido e me cobria até a altura das coxas. Tomei banho, me perfumei, não pus nenhuma maquiagem e enfiei o protetor solar na bolsa, porque Jude iria esquecer o dele e ficaria me pedindo.

- A gente precisa ir cedo assim? - Me arrastei de volta até a sala, onde Jude estava deitado no sofá com Schördringer no peito dele.

- Eu disse ao Haaland que estaria lá pra quando o pessoal fosse chegando. - Respondeu.

- E no que isso me inclui? - Tentei me safar.

- Inclui que eu quero que você vá comigo. - Deu de ombros e se sentou, segurando o gato nas mãos.

- Mas eu tô com sono. - Resmunguei. - E com fome.

- Dorme no quarto do Haaland, tenho certeza que ele não vai se opor. - Ele levantou e foi colocar Schördringer no cantinho dele. - A gente vai tomar café da manhã com ele.

- Estou me sentindo escanteada. - Peguei minha bolsa e coloquei o celular dentro. - Você só quer saber do Haaland agora.

- Em breve eu vou estar sobrando no meio de vocês dois. - Ele riu. - Vou saber como você está se sentindo.

- Chato demais. - Fiz carinho em Schördringer pra me despedir. - Vamos voltar tarde?

- Não sei. - Ele pareceu pensar. - Quer ir em carros separados?

- Não, tudo bem. - Fiz pouco caso. - Como você bem disse, eu posso dormir no quarto do Haaland.

- Vai se aproveitando. - Ele assentiu.

Fomos no meu carro novamente, Jude dirigiu. As ruas estavam vazias, porque ainda era muito cedo para um final de semana, eu acabei cochilando, havia ficado acordada até tarde vendo séries.

- Ellie, chegamos. - Jude me sacudiu delicadamente. - Você não mentiu quando disse que estava com sono.

- Eu nunca minto sobre o meu sono. - Respondi e me espreguicei antes de sair do carro.

- O pessoal só deve chegar lá pelas nove. - Ele disse enquanto nos arrastávamos até a porta. - Porquê você não tira um cochilo até lá?

- Eu não vou sair invadindo a casa dele. - Toquei a campainha.

- Como se ele fosse ligar. - Ele riu e a porta se abriu, revelando um Haaland sem camisa, com uma bermuda de moletom e o cabelo solto recém lavado.  Eu até esqueci a resposta sarcástica que ia dar pra Jude.

- Bom dia! - Ele sorriu. - Entrem.

- E aí! - Jude passou primeiro e eles trocaram um abraço. - O que tem pra comer aí? - Então ele sumiu da minha vista, provavelmente entrando na cozinha.

- Oi, doutora. - Os olhos dele me mediram de cima a baixo. - Tá bonita.

- Obrigada. - Me aproximei e ele logo me puxou pra um abraço, bem mais demorado do que o que trocou com Jude.

- Você tá com uma cara de sono. - Ele me observou mais de perto.

- Jude me acordou de madrugada. - Me afastei e pus minha bolsa em cima do sofá. - Eu estava no melhor do sono.

- Vai dormir lá no meu quarto. - Sugeriu.

- Eu falei! - Jude gritou da cozinha. - Eu disse pra ela fazer isso.

- Eu poderia estar dormindo na minha casa! - Ralhei de volta e Haaland riu.

- Você já comeu? - Perguntou.

- Não. - Resmunguei.

- Tá explicado o mau humor. - Eu o encarei, perplexa. - Eu te conheço, Ellie.

- Que seja. - Eu não tinha argumentos.

- Tem morangos te esperando na geladeira. - Ele disse e minha indignação foi toda pelo ralo.

- Obrigada. - Senti minhas bochechas esquentarem e fui para a cozinha antes que me envergonhasse mais.

Jude estava sentado na bancada, com uma bandeja de morangos nas mãos e eu quase fiquei cega.

- Larga meus morangos. - Ralhei e ele pegou mais três frutas antes de largar a bandeja no balcão.

- Não tem seu nome neles. - Debochou.

- Mas são meus. - Fiz pouco caso.

- Credo, você fica uma ogra com fome. - Ele resmungou e pegou um sanduíche. - Vou chamar um padre pra te exorcizar.

- O efeito dos morangos vai começar em quinze minutos. - Haaland falou atrás de mim. - Ela volta a ser uma princesa.

- Eu vou pegar diabetes com vocês.

- Diabetes não é transmissível, burro. - Impliquei.

- Eu deveria ter te deixado em casa, demônia.

- E quem mandou me acordar? - Haaland me entregou um pote de creme, pra comer com os morangos e eu me calei porque a melhor combinação do mundo estava bem na minha frente.

- Você é um santo. - Jude me observou comer. - Que creme é esse? Vou comprar.

- O segredo está nos morangos. - O loiro azedo riu.

Ele sentou pra tomar café da manhã também e me fez comer um pedaço de torta salgada com suco mesmo eu dizendo que já estava cheia depois de destruir todos os morangos existentes naquela casa.

Jude foi dar uma olhada na área externa, acredito que ele só estava arranjando uma desculpa pra nos deixar a sós. Eu me ocupei em colocar as louças usadas pra lavar.

- Vai tirar um cochilo no meu quarto. - Haaland se aproximou. - Quando o pessoal começar a chegar eu te chamo.

- Não quero abusar da sua hospitalidade. - Me senti constrangida sob o olhar cuidadoso dele.

- Qual é, Ellie. - Ele riu. - Não faz assim.

- Eu vim pra ajudar e..

- E vai dormir. - Ele me interrompeu. - Convenhamos que você com sono é um demoniozinho.

- O quê?! - Tentei fazer a linha ofendida, mas não deu muito certo.

- Um demoniozinho muito lindo. - Ele ignorou minha expressão ofendida.

- Tá bom, eu vou dormir só um pouquinho. - Cedi.

- Você já sabe onde é. - Ele continuou a fazer o que eu estava fazendo e eu segui escada acima para o corredor dos quartos.

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora