Eu já tenho compainha pra hoje

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Meu celular vibrou assim que cheguei em casa, era Vincent me convidando para jantar. Pensei em negar, mas decidi aceitar o convite e perguntei se poderia ser em algum restaurante no shopping, já que precisava ir em uma loja deixar metade do meu salário em um vestido de grife. Ele estranhou, mas aceitou e combinou de me encontrar lá. Eu não sei bem porquê estou tentando abrir uma brechinha para Vincent na minha vida quando claramente ainda sinto tudo que sentia por Haaland, com a mesma força e a mesma sintonia. Talvez eu esteja querendo fugir disso, permitir que outra pessoa tenha acesso a mim pode ser o começo.

Me apressei em tomar um banho e sair antes que Jude voltasse. Tenho certeza que ele vai vir aqui e tentar conversar sobre as fotos do amigo na balada, mas eu realmente não quero falar sobre isso. O shopping ficava no centro da cidade, ao menos o maior deles, onde haviam lojas caras com vestidos superfaturados e era exatamente em uma dessas que eu iria deixar meu rins. Cheguei em quinze minutos e logo recebi uma mensagem de Vincent avisando em qual restaurante estava, eu iria responder, mas Jude me ligou e eu achei melhor atender antes que ele surtasse de novo.

- Judezinho. - Ele riu do outro lado da linha.

- Você não está na sua casinha. - Respondeu.

- Vim ao shopping comprar meu vestido. - Entrei no elevador, apertando o botão do andar onde o restaurante ficava.

- Porquê não me esperou pra ir com você? - Resmungou. - Sabe que eu gosto de jogar meu dinheiro fora.

- Eu já tenho companhia pra hoje. - Fui sincera, não havia motivos pra esconder nada.

- Eu sobrei?! - Jude se fez de indignado, mas eu sabia muito bem que estava surtando por dentro. - Você vai me contar essa história depois.

- Conto sim. - Saí do elevador e o barulho do shopping encobriu a ligação. - Nos falamos quando eu chegar em casa, não vou voltar tarde.

- Tudo bem, se cuida. - Ele se despediu e eu desliguei o telefone.

Não foi difícil encontrar Vincent quando entrei no estabelecimento, ele chama bastante atenção por causa da postura de bad boy e as tatuagens, que são muito bonitas. Ele sorriu quando me avistou e se levantou pra me receber.

- Oi Ellie. - Vincent me abraçou. - Boa noite.

- Boa noite. - Sorri de volta, me sentindo um pouco nervosa.

- Por favor. - Ele contornou a mesa e puxou a cadeira acolchoada pra que eu pudesse me sentar.

- Obrigada. - Sentei, ainda me sentindo um pouco fora do eixo.

- Sabe, fiquei pensando em como te chamar pra jantar e você me enfia em um shopping. - Ele voltou a sentar e riu. - Está com medo que eu te sequestre ou algo assim?

- Não é nada disso. - Acabei rindo também, fazendo com que a tensão se dissipasse. - Eu preciso comprar um vestido.

- Está me usando. - Ele assentiu. - Entendi.

- Não! - Eu ri novamente. - Só não queria negar seu convite.

- Você se saiu bem. - Ele riu e chamou o garçom, que nos trouxe dois cardápios. - Então, como vai o processo de cicatrização da tatuagem?

- O tecido morto já caiu inteiro. - Foi a primeira coisa que falei, porque até eu como médica fiquei chocada com o resultado. - A pomada que vocês indicaram é muito boa.

- Facilita você ter feito o desenho inteiro no mesmo dia. - Ele baixou o cardápio, já tendo escolhido o que pedir. - A cicatrização acontece de uma vez só.

- Bem, a dor já passou. - Comemorei e também escolhi o que iria pedir. - As vezes esqueço que sou uma pessoa tatuada agora. - Fiz graça e ele franziu o cenho, rindo logo depois.

- Deveria se apresentar como Ellie tatuada. - Sugeriu.

- Vai brincando, vou ficar igual a você. - Apontei para os braços dele.

- Acho que vai demorar um pouquinho. - Ponderou e chamou o garçom pra anotar nossos pedidos.

- Há quanto tempo você é tatuador? - Puxei assunto.

- Três anos. - Ele apoiou os antebraços na mesa, ficando um pouco mais próximo de mim. - Sempre gostei de me tatuar, então decidi riscar os outros também.

- Eu decidi ser médica porque queria abrir as pessoas e costurar de volta. - Disse, mesmo sem ele ter perguntado.

- Você é médica? - Havia um sorriso besta no rosto dele. - Isso é muito legal.

- Agora que eu já me formei, é sim. - Sorri da reação dele.

- E você é médica de quê? - Nossos pratos chegaram e foram rapidamente servidos.

- Sou ortopedista. - Respondi, toda orgulhosa.

- Precisa de coragem pra colocar o osso de alguém no lugar.

- É mais fácil do que você pensa. - Garanti. - Em todo caso, no momento não estou consertando muitos ossos.

- Não? - Me olhou, curioso. - E o que tem feito?

- Eu coordeno uma equipe. - Expliquei, me sentindo constrangida pela primeira vez por ter um trabalho tão bom.

- De um hospital? - Vincent ficou um pouco confuso.

- Mais ou menos. - Não tive coragem de olhar pra ele quando falei. - Eu sou chefe da equipe médica do Real Madrid. - Vincent se engasgou e tossiu.

- E você tem coragem de olhar pra mim e dizer que é médica, apenas? - Bebeu um grande gole do refrigerante dele.

- Percebi que é a primeira vez que falo pra alguém com o que eu trabalho. - Respondi, totalmente envergonhada.

- Seu trabalho é muito mais legal que o meu. - Ele riu. - Por isso conhece o Bellingham.

- Ele é um grande amigo. - Confirmei.

- Amigo? - Perguntou sem pestanejar.

- Amigo. - Confirmei, pensando que não era com Jude que ele deveria se preocupar.

- Eu posso te acompanhar enquanto procura seu vestido? - Nosso jantar estava quase acabando e eu nem percebi o tempo passar. - Não é bem o primeiro encontro que eu planejava, mas..

- Claro que pode. - Eu só sabia rir, com vergonha do olhar dele sobre mim. - Vou precisar de alguém que me dê uma opinião sincera.

- Ótimo. - Ele sorriu e se levantou. - Vou pagar, espera aí.

Não me opus, Beca me ensinou que uma dama elegante explora homens com classe, então é isso que vou fazer.

- Podemos ir. - Ele voltou e me ajudou a levantar. - Já sabe em que loja quer comprar o vestido?

- Em uma daquelas superfaturadas. - Resmunguei. - É um evento que o Real Madrid está organizando.

- Entendi. - Nós caminhamos lado a lado até encontrarmos o corredor das lojas caras. - Vou ser seu maior crítico.

- Obrigada. - Nós entramos na primeira loja que vimos. - Sabe, eu recebi dois convites. - Comentei como quem não quer nada. - Você não quer ir comigo não?

- Pra uma festa de gala? - Me olhou meio em dúvida.

- Vou estar pagando o jantar. - Pisquei pra ele, tentando ser o mais charmosa possível.

- Ainda bem que vou ver o seu vestido. - Ele suspirou. - Pra escolher meu terno combinando.

(...)
Ao contrário do que pensaram, não é a festa de aniversário da Ellie que vai causar. :)

Yuánfèn - Erling HaalandOnde histórias criam vida. Descubra agora