Gonçalo tomou conta do caso e tratou logo de ver a situação financeira de Lucrécia depois que conseguir saber exactamente a data da sua morte e o modo como morreu.
A certidão de óbito indicava causas naturais, mas mediante os factos conhecidos poderia ter havido uma ajuda extra que era difícil provar.
Os únicos bens de Lucrécia eram a casa e algum dinheiro na conta que logo foi retirado pois a mesma estava também no nome de Zulmira.
Em poucos dias Gonçalo conseguiu uma notificação do tribunal para que tudo o que foi retirado da casa de Maria e Estêvão fosse restituído e que ela deixasse a casa onde vivia.
Naquela manhã, Zulmira foi surpreendida com a notificação entregue por um oficial de justiça. Estava convicta que ninguém ia descobrir nada.
A vizinha, por não falar com ela nunca lhe falou da visita de Firmino nem dos documentos encontrados.
Zulmira leu a notificação e perante as más notícias entrou em pranto.
- Onde vou viver?
- Senhora, desculpe. Eu só estou a fazer o meu papel de entregar o documento.
Zulmira conhecia bem o escritório do advogado e foi para lá que foi assim que o oficial virou costas.
Entrou no edifício a bufar e exigiu ser recebida fazendo o maior barraco.
Gonçalo ouviu o barulho e saiu da sua sala vindo até à recepção.
- O que se passa?
- Está senhora exige falar consigo, doutor.
- Pode deixar, eu falo com ela. Venha.
- Ela entrou e ele fechou a porta atrás de si.
- Em que posso ajudá-la?
- Eu não posso ir para a rua, doutor. A Lucrécia sempre disse que a casa era para mim. Só não teve tempo de fazer testamento.
- Mas a sua ganância queria mais e por isso roubou aquelas crianças. Eu nem quero imaginar que planos tinha para elas.
- Eu não roubei nada.
- Tudo o que havia naquela casa está documentado. Aliás, as câmaras de vigilância mostram a senhora a chegar com uma malinha e a sair com duas malas enormes.
- Câmaras? A casa tem câmaras? Não interessa porque eu não roubei nada.
- Espero que ainda tenha tudo em seu poder e não tenha vendido nada. Entregue tudo e pode ser que o juiz tenha alguma piedade. Terminar os dias na prisão na sua idade, não é bom.
- Prisão?
- Claro. Roubo de bens alheios, roubo de identidade... Acha que isso não é condenável? Vai ficar sem nada e até a casa pertence às crianças que são a única família que a senhora Lucrécia tinha.
- Onde vou viver?
- Na prisão. A senhora tem aí perto de 70 anos. Se apanhar uns 15 no mínimo, não precisará se casa.
- Tenho 67.
- O que para o caso não faz diferença nenhuma. Aconselho-a a procurar um advogado.
- Não posso pagar um.
- Peça um oficioso ao tribunal. Agora se me dá licença, tenho uma reunião importantíssima. Passe bem.
Zulmira Capitolina saiu dali com o rabo entre as pernas e passou na recepção como um furacão.
A recepcionista desejou-lhe bom dia, mas ela limitou-se a sair feito foguete.
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Robe cor de rosa
FanfictionÉ na infância que se criam memórias que podem ou não marcar uma vida.