Juntar os trapinhos

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Por conta do sucedido na festa de Juliette ela tomou a iniciativa de não esconder mais.

Saíam abraçados ou de mão dada e apenas pareceu estranho para a vizinhança.   A princípio havia muito falatório,  mas com o tempo o assunto era cada vez mais raro.

Alguns anos depois

Rodolffo estava formado em Agronomia, como sempre quis.  A psicóloga Luísa terminava mais uma especialização e Juliette estava no seu terceiro ano de faculdade para um dia vir a ser uma óptima pediatra.

Rodolffo tinha comprado a fazenda juntamente com Juliette.  Agora passava toda a semana a cuidar da terra e voltava a casa apenas ao fim de semana.

Este fim de semana era muito especial para a família.

Finalmente Ana e Firmino decidiram juntar os trapinhos e iam casar.  Sim, embora todos desconfiassem, ninguém nunca viu nada acontecer entre eles.
Eles primavam pela descrição e era na alta da noite que frequentavam o quarto um do outro.

Rita e Gonçalo, pais de Leonor de dois aninhos, fizeram questão de preparar uma pequena recepção num salão de um luxuoso hotel.  Rita estava muito feliz pois via a felicidade da mãe estampada no rosto.

Em casa de Rodolffo estavam ainda os filhos de Firmino,  o genro e neto.

Os noivos já se encontravam no hotel deixando mais espaço para eles.

Não tinha muita gente.   Apenas eles e alguns amigos e amigas dos dois, mas foi uma cerimónia linda e emocionante.

Na hora do sim eu olhei para Ju e ela estava desfeita em lágrimas.

- Amor!  A hora é de alegria e tu choras?

- Eu não sei o que tenho, Rodolffo! Estou muito sensível ultimamente, mas estou feliz por eles.

- Qualquer dia somos nós.  Por mim já tinha acontecido.

- O que muda?  Tu estás longe toda a semana.  Eu já estou arrependida de te apoiar na compra da fazenda.  Foi só porque sei que querias muito.

- E tu também vais gostar quando fores lá morar.

- Mas eu quero exercer a minha profissão.   Quero trabalhar.  - Rodolffo! - preciso ir ao banheiro.

- Anda, aproveitemos enquanto estão a tirar as fotos, mas nem faz muito tempo que foste.

- Fui quando cheguei.   Vá lá se não faço xixi aqui mesmo.

Na verdade, Juliette andava diferente nestes últimos dias, mas não quis conversar com ninguém.  Os sintomas ela sabia muito bem o que era e só estava à espera de fazer um exame de sangue.  Planeava fazê-lo na próxima segunda feira lá no laboratório da universidade e até ter certeza não ia dizer nada a ninguém.

Regressaram para junto dos outros e seguiram para o salão onde ia decorrer a recepção.

Ana estava muito feliz.  Às tantas veio junto dos seus meninos e deram um abraço em conjunto.

- Agora só falta vocês dois casarem e a Luisinha também.

- Eles dois sim.  Eu ainda vai faltar um pouco.  Nem namorado tenho!

- E o Raphael é o quê? - perguntou Juliette.

- Um amigo.  O Raphael é Canadiano. Tem a sua vida e a sua clínica no Canadá.  Veio a um congresso onde por acaso eu também estava e daí fomos trocando ideias.

- Mas o congresso foi o mês passado e ele continua cá.

- Decidiu tirar umas férias e aproveitar para conhecer um pouco mais do nosso País.

- O País e uma certa morena.  Vou ficar triste se um dia te mudares para o Canadá,  mas sempre terás o nosso apoio.   Não é Ju?

- É isso mesmo.  Se a tua felicidade estiver lá, vai buscá-la.

- Malta, somos só amigos.  Ainda nos estamos a conhecer.

Foi pedida a atenção pois os noivos iam cortar o bolo.  Todos se viraram para o local onde uma mesinha suportava o enorme bolo de 4 andares todo branco e decorado à mão com um rendilhado muito á anos 80.

Juliette sentiu o estômago embrulhar e sem que ninguém percebesse saiu do grupo e foi novamente ao banheiro deitando fora o que tinha comido.
Bochechou um pouco de água, retocou a maquilhagem e voltou para junto de Rodolffo.

Robe cor de rosaOnde histórias criam vida. Descubra agora