Capítulo 19: O Início do Fim

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A dor no meu peito estava insuportável, minha parte esquerda do corpo estava rígida e paralisada, minha visão turva e mal conseguia ficar de pé. Senti Thauan me carregar às pressas para a floresta, sem se importar com o seu cabelo enrolando em alguns galhos, Clyde e Amare ficaram em casa por questão de segurança.

Sou colocada em algo fofo que eu não consigo distinguir o que é, só queria que a dor de aperto passasse, e mesmo apertando bem forte era impossível diminuir. Minhas narinas identificaram o incenso muito rapidamente e é como se apenas ele existisse no ambiente, enquanto me concentrava naquilo, vi figuras indígenas na minha visão embaçada.

Um deles se colocou à minha frente, sua presença era intimidadora e poderosa, usava um cocar alto cheio de penas e seus olhos eram nublados, tempestuosos. Outra figura dessa vez feminina, se colocou à minha frente e a primeira coisa que eu reparei foi nos seus cabelos pegando fogo de forma literal, tinha uma estatura baixa mas não parecia uma criança. Por mais que seus olhos demonstrassem rebeldia e uma confiança indecifrável, ela me observava com preocupação e carinho.

A dor passou e eu não havia percebido antes, estava tão concentrada em me recordar dos dois indígenas tão diferentes que não percebi que fui levantada por Tainá, sua expressão tediosa ainda estava em seu rosto, mas também estava preocupada.

—Está tudo bem?— Ela me pergunta, olho ao redor e percebo que estou na oca de Cauã.

—Sim. Agora estou bem, o que aconteceu?— Pergunto confusa, ainda apertando meu peito com força.

Cauã estava sentado de olhos fechados e cabelos soltos, ele dava leves espasmos e resmungava algo em tupi guarani, Thauan estava no canto da oca de braços cruzados e com um rosto explícito de preocupação, sua boca curvada para baixo parecia que ele iria chorar a qualquer momento.

—Você teve um princípio de infarto menina, dos fortes.— Ela me explica, verificando com os olhos para ter certeza de que eu estava bem. -Ele está agradecendo Tupã, ele te salvou.

—Então foi ele que eu vi agora a pouco? O de cocar alto com os olhos de tempestade?— Pergunto um pouco confusa, e Tainá concorda com a cabeça devagar. —E também tinha outra indígena, mas ela tem cabelos de fogo e a maior cara de atentada.

—Caiporas.— Cauã responde ainda de olhos fechados. —Pedi que Tupã te salvasse, e caiporas sempre está perto, mas não é perceptível ao olho nu, só no espiritual.

Cauã abre os olhos em minha direção, eles estavam brilhando e parecia que enxergavam tudo perfeitamente. Eu achei que fosse a única esquisita dessa época, mas vi que estou tremendamente enganada.

—Mas... Achei que caiporas era só um folclore brasileiro.— Resmungo baixo, e Cauã sorri simpático.

—Folclore brasileiros em sua maioria são de origem indígena querida Zana. Caiporas é uma entidade indígena protetora dos animais da floresta, não confunda com curupira, são entidades diferentes.— Cauã explica ficando sério de repente, seus olhos pararam de brilhar e voltaram a ser opaco. —Mas voltando ao seu infarto, você tem ideia do que lhe causou isso?

—Não... Eu nunca tive problemas cardíacos antes, nem ao menos sabia que estava infartando.— Respondo com sinceridade, ainda massageando meu peito com medo da dor voltar.

—Padre Antônio foi o responsável, ele queria matá-la, por isso fez uma conjuração letal direcionada a você.

Fico sem reação mesmo sabendo que ele seria capaz de fazer isso e muito mais, isso só me mostrava que Antônio era rancoroso e aquela ameaça com certeza não passou em vão e nunca passará. Agora era uma guerra declarada, o início do fim.

O Preço do Sacrifício [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora